Turquia ordena prisão provisória de 7 jornalistas em meio a protestos

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Mergulhada nos maiores protestos da última década, a Turquia determinou, nesta terça-feira (25), a prisão provisória de sete jornalistas turcos, acusados de participar de manifestações ilegais. Ao todo, mais de 1.400 pessoas foram detidas desde o início da onda de protestos, há quase uma semana.

Os atos começaram em Istambul na última quarta (19), quando o então prefeito da cidade, Ekrem Imamoglu, foi preso sob acusações de corrupção vistas como politizadas por partidos de oposição, líderes europeus e grupos de direitos humanos. Desde então, manifestações ocorrem diariamente e se espalharam pelo país.

Para tentar evitar atos a favor do político, autoridades proibiram manifestações em Istambul e em outras cidades -nesta terça, o governo de Ancara, a capital, estendeu a proibição até 1º de abril; em Izmir, a terceira maior cidade do país e bastião da oposição, protestos estão banidos até 29 de março.

A medida não tem se mostrado eficaz, no entanto. Nesta segunda (24), dezenas de milhares de pessoas voltaram a se reunir em frente à prefeitura de Istambul, desafiando o presidente turco e rival de Imamoglu, Recep Tayyip Erdogan, para quem os protestos são “terrorismo de rua”.

Após uma reunião de gabinete em Ancara, nesta segunda, o presidente acusou o Partido Popular Republicano (CHP, na sigla turco), ao qual pertence seu adversário, de provocar os cidadãos e previu que eles se sentiriam envergonhados assim que o “show”, em suas palavras, desaparecer.

“Deixem de perturbar a paz dos nossos concidadãos com suas provocações”, afirmou Erdogan, em referência à oposição, em um discurso televisionado.

Com essa retórica, o presidente acusado há anos de minar os freios e contrapesos da democracia turca repete a estratégia usada nas manifestações de 2013, reprimidas violentamente pelas autoridades. Na época, o governo se mostrou intolerante às críticas das ruas; desta vez, rejeita as alegações de influência política e afirma que o Judiciário turco é independente.

Erdogan está no poder desde 2003, com mandatos de primeiro-ministro e depois de presidente, quando conseguiu aprovar no Parlamento uma reforma que mudou o sistema político do país de parlamentarismo para presidencialismo.

A atual ofensiva de Erdogan também se dá contra a imprensa. Na lista dos jornalistas com ordem de prisão está o fotógrafo da agência de notícias AFP Yasin Akgul. De acordo com o documento judicial visto pela Reuters, o profissional é acusado de participar de marchas ilegais. Akgul e seus advogados afirmam que ele estava apenas cobrindo os protestos como jornalista e solicitaram sua libertação.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras qualificou a decisão de escandalosa e afirmou que as prisões refletem “uma situação muito grave em curso na Turquia”. No total, 979 manifestantes estavam sob custódia policial nesta terça, enquanto 478 pessoas haviam sido levadas à Justiça, segundo o ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya.

O presidente do CHP, Özgur Özel, convocou novos protestos para a noite desta terça após visitar Imamoglu e outros 48 acusados, incluindo outros dois prefeitos da mesma sigla, durante a manhã.

“Encontrei três leões lá dentro. Estão de pé, com a cabeça erguida”, disse à imprensa ao sair da prisão.

O político tem feito discursos todas as noites do alto de um ônibus no Sarachane, parque que fica entre a prefeitura e um imponente aqueduto romano e que se tornou o principal ponto de protestos. Özel afirmou que a última manifestação ali seria na terça, e depois as reuniões iriam para outros lugares, sem dar detalhes sobre os planos.

Muitos manifestantes disseram à Reuters, porém, que vão continuar comparecendo aos protestos diariamente. Os atos costumam ser pacíficos -na segunda, a manifestação foi calma até as últimas horas, quando a polícia usou cassetetes e spray contra os presentes.

O Conselho da Europa, que debateria nesta terça a situação na Turquia, afirmou que houve “uso desproporcional da força” durante as manifestações e condenou a repressão à imprensa. Já o escritório de direitos humanos da ONU disse estar “muito preocupado” com as detenções e pediu que as autoridades investiguem o suposto uso ilegal da força contra os manifestantes.

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