Ensino integral em Florianópolis tenta reduzir atraso escolar, mas enfrenta críticas

A SME (Secretaria Municipal de Educação) de Florianópolis elaborou um plano estratégico para “virar o jogo” da educação na cidade. Em entrevista exclusiva ao Grupo ND nesta quinta-feira (20), o secretário Thiago Peixoto apresentou os sete pontos chave do “Floripa Mais Aprendizagem”, que inclui ensino integral.

Secretário de Educação de Florianópolis, Thiago Peixoto, apresenta plano Floripa Mais Aprendizagem ao Grupo ND

Ensino integral proposto pelo secretário de Educação, Thiago Peixoto, enfrenta resistência de pais e professores – Foto: Beatriz Rohde/ND

Florianópolis passou da primeira posição entre as capitais no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em 2011, em relação aos anos iniciais do fundamental, para a décima em 2023.

Nos anos finais do fundamental, do sexto ao nono ano, a capital catarinense passou da quarta colocação em 2011 para a décima quinta em 2013. A aprendizagem em Florianópolis está cerca de um ano e meio atrasada em comparação a Teresina, no Piauí, que ocupa o primeiro lugar no Ideb.

Alunos do quinto ano terão ensino integral em Florianópolis a partir deste ano

Na rede municipal, 2.157 alunos do quinto ano e 424 do segundo já estão em ensino integral – Foto: Divulgação/PMF/ND

Nesse cenário, o secretário de Educação Thiago Peixoto destaca a necessidade emergente de implementação de novas estratégias com foco na aprendizagem dos alunos.

“Dá para mudar o jogo”, considera. “Em educação, uma das coisas que mais falta, no meu ponto de vista, é senso de urgência. O discurso do longo prazo atrapalha muito a educação”.

Aluno do ensino fundamental no computador

Plano estratégico prevê impulsionar o ensino com tecnologia em Florianópolis – Foto: Thomas Park/Unsplash

O Floripa Mais Aprendizagem conta com a colaboração do TCE/SC (Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina) e da ONG Todos pela Educação. O plano estratégico, porém, traz somente as principais diretrizes. A SME pretende complementar os detalhes a partir dos debates com a sociedade.

“Não era melhor ter um plano desenhado e depois começar a implementar? Tenho minhas dúvidas. Se eu fico um ano discutindo um plano para começar no ano que vem, todos os alunos desse ano já vão ficar no prejuízo”, explica Thiago Peixoto.

A tecnologia, em especial, deve impulsionar o plano estratégico. O secretário quer que a aptidão de Florianópolis para a inovação faça parte do ensino, com uma disciplina de tecnologia para o quinto ano do fundamental, e da gestão pedagógica, cujas decisões serão guiadas por dados e informações sistematizadas.

Prefeitura quer implementar ensino integral, mas enfrenta oposição

Professores protestam contra troca de professores por auxiliares de sala na educação especial

Após polêmica da educação especial, SME é alvo de críticas pela implementação do ensino integral – Foto: Divulgação/Sintrasem/ND

Uma das principais medidas do Floripa Mais Aprendizagem é a aplicação do ensino integral para 91% dos 2.364 alunos do 5º ano do ensino fundamental em 2025. Segundo a SME, apenas uma das 38 escolas municipais não terá ensino integral neste ano devido à falta de estrutura.

“Por que o quinto ano? A gente percebe uma defasagem muito grande desse aluno dos anos iniciais para os anos finais. Então, eu tenho que em algum momento estancar isso. Nossa decisão foi de começar pelo quinto ano, que esse aluno, ao ir para o sexto, já vai com muito menos desafios”, observa o secretário Thiago Peixoto.

Além disso, 424 estudantes do 2º ano do fundamental também terão ensino integral este ano. O número representa 16,4% do total da série, que é o limite para a alfabetização das crianças.

Florianópolis está com atraso de um ano e meio na aprendizagem

Aprendizado em Florianópolis está com atraso de um ano e meio, de acordo com o Saeb – Foto: Freepik/Reprodução/ND

A intenção da prefeitura é expandir o ensino integral a cada ano, até atingir toda a rede municipal. No entanto, o plano tem enfrentado resistência por parte dos pais e professores, que por vezes se opõem à modalidade.

Em 21 de fevereiro, o Sintrasem (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis) divulgou denúncias de profissionais da educação municipal sobre alterações no currículo do ensino fundamental.

O Floripa Mais Aprendizagem prevê aumento de 50% nas aulas de matemática e língua portuguesa para alunos do nono ano. As comunidades escolares criticam a redução das aulas de história, geografia, educação física e ciências para esses estudantes.

Pais questionam ensino integral em Florianópolis

Pais de alunos se surpreenderam com o ensino integral e questionam se escolas municipais têm estrutura para acolher a modalidade – Foto: Leo Munhoz/ND

“A decisão de reformular a matriz curricular foi feita de cima para baixo, sem diálogo algum com a comunidade escolar. O governo se utiliza de um projeto de educação integral para mascarar dados educacionais”, afirma o Sintrasem.

O sindicato também se manifestou contra a proposta de medir o desempenho dos alunos com provas diagnósticas do segundo, quinto e nonos anos. A primeira prova está prevista para ser aplicada no início de abril.

“Nos anos finais – especificamente no nono ano –, a prefeitura aposta no ‘treinamento’ dos estudantes para avaliações nacionais como o Ideb, aumentando a carga de matemática e português, mas reduzindo ciências, educação física, geografia e história”, denuncia.

Eduardo Gutierres e Thiago Peixoto em entrevista ao Grupo ND

Thiago Peixoto quer construir restante do plano Floripa Mais Aprendizagem a partir do diálogo com a sociedade – Foto: Beatriz Rohde/ND

Na semana passada, o vereador Bruno Ziliotto (PT) se posicionou contra o ensino integral nas redes sociais: “As famílias não foram avisadas com antecedência sobre a integralização: o resultado são pais desesperados, que correm o risco de perder as vagas dos filhos nas unidades escolares. Além disso, ainda existe o problema da infraestrutura, que não é adequada para receber os estudantes em turno integral”.

O secretário de Educação, Thiago Peixoto, considera que as reclamações partem de uma parcela “pequena” da sociedade:

“Poderia ter sido feito de forma mais planejada? Poderia, mas a gente ia perder um ano. Então a gente fez todo o debate sim nas escolas, a gente recebe pais, olha caso a caso”, argumenta. “Mas é melhor tratar das exceções do que não fazer o tempo integral”.

Conheça as 7 iniciativas do plano Floripa Mais Aprendizagem

Plano Floripa Mais Aprendizagem muda carga horária do nono ano

Estudantes do nono ano terão maior carga horária para língua portuguesa e matemática na rede municipal – Foto: Freepik/Reprodução

  1. Expansão da carga horária de aulas: todos os estudantes do 9º ano com 6 aulas de língua portuguesa e matemática (aumento de 50%); 99% dos estudantes do 5º ano e 1/3 da unidades com 2º ano em tempo integral.
  2. Priorização do currículo e material didático: matriz curricular priorizada publicada e disponibilizada para as unidades; material didático para 5º e 9º ano será disponibilizado a partir do final de março.
  3. Trilha formativa de professores: 1º Encontro Formativo para o início do abril, com as pautas de “Matriz de Priorização” e “Potencializando o Uso do Material”.
  4. Uso pedagógico de avaliações formativas e somativas: elaboração da prova diagnóstica do 2º, 5º e 9º anos, que será aplicada no início de abril.
  5. Trilha formativa de gestores com foco na gestão da aprendizagem: temas trabalhados: leitura pedagógica do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e educação integral; próximas pautas: plano de ação, gestão do tempo, priorização e engajamento de time.
  6. Acompanhamento pedagógico: seleção do time de Tutores Pedagógicos e desenho da governança e modelo do acompanhamento – realizados por especialista; realização de Encontro Formativo dos tutores em março.
  7. Acompanhamento e incentivo à frequência: ajustes dos procedimentos de busca ativa, como contato com responsáveis em cada falta e registro do motivo da falta no sistema com base nas principais causas levantadas pela UNICEF; elaboração dos protocolos/orientações e implementação das novas rotinas estão previstos para abril.
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