DITADURA FURADA 

murilo

Por Gustavo Mariani*

O jornalista mineiro Murilo Felisberto já havia passado por redações paulistanas, quando o Jornal do Brasil-JB o convidou para montar o seu Departamento de Pesquisa e Documentação-DPA. Topou e, para os amigos, fizera grande loucura, pois o cargo era para colegas em final de carreira .

 Murilo começou a servir ao Jornal do Brasil duas semanas antes do golpe militar que derrubara o presidente João Goulart. No 7 de abril, os comandantes supremos da ação – tenente-brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo (Aeronáutica), vice-almirante Augusto Rademaker (Marinha) e o general Artur da Costa e Silva (Exército) ungiram o marechal cearense Humberto de Alencar Castelo Branco novo chefe da nação – quemmmm!

 A imprensa brasileira desconhecia, completamente, nada sabia do homem, enquanto o presidente deposto debandava, do Rio de Janeiro, para Brasilia e Porto Algre, razão para o Senado declarar vaga a presidência da república e a Câmara dos Deputados emprestar o seu presidente, Ranieri Mazzilli, para tomar conta do Palácio o Planalto, interinamente.

Golpe na praça, começara a rolar violentas repressões a setores de esquerda, como Confederação Geral dos Trabalhadores, União Nacional dos Estudantes, ligas camponesas e grupos religiosos tipo Juventude Universitária Católica e Ação Popular. Milhares de pessoas foram presas, irregularmente, sem fundamentos jurídicos, e abertos centenas de inquéritos policiais-militares “para apurar atividades subversivas”, além, de  milhares de brasileiros terem direitos políticos suspensos, e funcionários públicos civis e militares demitidos ou aposentados.

No entanto, importantes setores da vida nacional saudaram o golpe, bem como parte da classe média, pedindo aos militares que pusessem fim às ameaças de esquerdização do governo e para controlar a crise econômica do país.  Rola rolo daqui, rolo dali, o país pegava fogo. E o tal de Castelo Branco, quem seria? Informação que os jornais ainda ficavam devendo aos seus leitores. Até o dia em que um “foca” (como eram chamados os estagiários) entrou no DPD do JB, no instante m que o Felisberto falava ao telefone com o editor de Política.

murilocatelo
Murilo

Ao ouvir a conversa entre o Felisberto e o colega, e escutar o nome Castelo Branco, quando o próximo saiu do telefonema, o “foca” disse-lh: “Tenho uma tia que é vizinha, amigona desse novo presidente. Ele toma café na casa dela, ela na dele, vão à missa juntos. Inclusive,  já deixei a tia na casa dele. E só não digo que ela anda beliscando a tia porque parece um véi muito bola murcha”.

 Imagine! O cara derruba um governo e um “foquinha” o considera bola-murcha.

 – O quêeêêêê! – exclamou o Felisberto, desvairado e ordenando: “Saia daqui, urgente, vá à casa da sua tia e arranque dela tudo o que ela sabe sobre o homem”.

  Rola o balanço das horas O fechamento do Jornal do Brasil caminhava para o final, com o editor-chefe – Alberto Dines – insatisfeito e considerando incompleto o noticiário do dia sobre o novo governo. Naquele instante, Murilo Felisberto chegou, entregando-lhe texto produzido com a ajuda do “foca”, contando quem era Castelo Branco – festa na redação. O JB iria furar o Supemeo Comando da Ditadura.

OBS:  esta história me foi contada pelo jornalista Tarciso Holanda, que trabalhara no JB por aquela época revolucionária. Ele contou-me, também, ter negociado com os militares para não matarem o redator (do JB) Fernando Gabeira, preso como subversivo. Mas isso é assunto para uma outra coluna.     

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