FICHA TÉCNICA

brasilia77b

Durante o segundo Campeonato Brasiliense  de Futebol Profissional, em 1977, fui ao velho e já demolido Estádio Mané Garrincha, cobrir Brasília x Desportiva

Bandeirante. Apenas, 27 pagantes prestigiavam os atletas, conforme atestava o informe de público e renda que Liomar  e Diva (representantes da Federação Metropolitana de Futebol-FMF) forneceram aos repórteres.

 Rola a bola e a pugna era uma “peladaça”. Cada time pior do que o outro. Lances de gol, nem pensar. Quando uma bola ameaçava chegar à área fatal de uma das equipes,  um zagueirão, em vez de mata-la no peito, descê-la ao terreno e lançar um companheiro, mandava um chutão parar pelas arquibancadas que ficavam perto do gramado. Assim, os dois goleiros só não beberam um cafezinho de fim de tarde debaixo das traves porque ninguém lhes ofereceu. Mas que daria tempo, daria. Até sobrava.

 Foi uma tortura para mim suportar aquele primeiro tempo. Não consegui escrever nada, pois nada merecera uma linha. Veio segundo tempo e os dois preliantes seguiam até piores do que antes. Foi então que vi, no banco da Desportiva Bandeirante, um garotinho ao lado do pai olhando uma revista em quadrinhos. Chamei o fotógrafo Feliciono Moreira, fomos até o garoto e tive a ideia de pedir ao pai dele para fazer de contas que seria ele quem lia a revistinha. O carinha topou e o click foi feito.

 Encerrada a autêntica “pelada”, sem nada que merecesse registro, cheguei à redação, contei ao editor de Esportes, o Antônio Otoni, sobre o que eu assistira e sugeri-lhe escrever um texto diferente do que era habitual, quando citava-se equipes, juiz, público e renda, imediatamente, após a crônica do jogo. Ele topou e eu mandei ver sobre a paixão de um sujeito que levava o filho para o estádio, esperando ver bom futebol e o seu time vencer (evidentemente), mas, em determinado momento, se desencantara tanto com a pugna, que tirara a revistinha do filho para ele ler e não ficar vendo tantos “pernas-de-pau” em ação. Fui por ali e deixei para colocar o resultado da partida – 0 x 0 – na última linha, após escalações dos dois times, etc.

 No dia seguinte, assim que adentrei à redação, o colega Cornélio Franco caçoou: “Ô menino! Já li todo o jornal e não sei quem ganhou o jogo que você cobriu, ontem”.

 Realmente, não havia a informação. Como eu guardava a cópia de todas as matérias que escrevia, entreguei a dita cuja ao meu editor, que seria cobrado, com certeza, pelo Editor Executivo, o Edgar Tavares.

 Por aqueles tempos, ainda longe da chegada dos computadores às redações, os diagramadores, as vezes, erravam nos cálculos dos espaços das matérias, levando a editoria de Paginação a mandar o estilete e cortar o que sobrava. Para evitar que o fato voltasse a se repetir, o João Só, chefe da editoria de Diagramação, criou um quadrinho para a ficha técnica, com os escudos dos dois times – o que não havia em nenhum jornal do país. Só no Jornal de Brasília.  

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