Europa decide pelo rearmamento diante da ameaça russa

(Imagem: NakNakNak/Pixabay)

Imitando, de certa forma, o discurso de Churchill de maio de 1940, Emmanuel Macron falou em ameaça russa, necessidade de reformas e de uma nova era, no seu discurso no meio da semana, de quinze minutos, pela televisão. Trump foi mais prolixo no seu discurso no Congresso, que se prolongou por quase duas horas.

Enquanto o presidente estadunidense Donald Trump provoca a união dos países europeus com a suspensão de ajuda na luta da Ucrânia contra a progressão da invasão russa, os 22 países da Liga Árabe estiveram reunidos no Cairo para fazer frente à transformação de Gaza numa Riviera do Oriente Médio.

A primeira impressão, para quem vê o noticiário na tevê francesa, do discurso do presidente Macron, depois do discurso de Trump, em Washington, é de um estranho clima de pré-guerra, no qual se fala em defender o território europeu com um aumento nas despesas de um rearmamento de urgência.

Essa impressão é reforçada com a notícia de um maciço rearmamento da Alemanha, comunicado pelo futuro chanceler Friedrich Merz, e a convocação de todos os países europeus sob a liderança da Inglaterra, França e Alemanha para se prepararem para a proteção da Ucrânia, no caso de um acordo de paz. Inclusive com o envio de tropas, destinadas não para combate, mas para vigiar o cumprimento por parte da Rússia do esperado acordo de paz.

Tudo muito estranho, porque a inesperada e incompreensível aproximação dos Estados Unidos de Trump com a Rússia de Putin deixou os países europeus sem a costumeira proteção dos Estados Unidos. Embora Trump pareça confiar no russo Putin, os europeus demonstram desconfiança, com base em experiências de compromissos não respeitados pelos russos.

O problema é o custo que representará todo esse rearmamento defensivo. Mas, como acentua o alemão Merz, prestes a ser confirmado como novo chanceler, “custe o que custe” deverão ser feitos esses investimentos maciços na defesa da Alemanha, mesmo que as contas fiquem deficitárias.

Em síntese, a Europa passou a sofrer de russofobia, medo do urso russo, tão logo Donald Trump declarou retirar sua proteção à Ucrânia.

Enquanto isso, os países árabes procuram contornar a ameaça de Trump, esperando manter os palestinos em Gaza, no processo de reconstrução da região, com um custo previsto de 55 bilhões de dólares em cinco anos. Para não provocar Israel e os Estados Unidos, já parece decidido, o movimento islâmico Hamas, governando Gaza desde 2006, terá de ceder seu lugar para a Autoridade Palestina, da concorrente OLP, movimento palestino laico criado por Yasser Arafat.

Entretanto, no encontro no Cairo, não se falou num desarmamento do Hamas. Mas ficou evidente a desconfiança dos países árabes com relação ao grupo, responsável pelo ataque de 7 de outubro sem consulta prévia.

Tão logo Trump teve conhecimento da decisão dos países árabes, já a considerou irrealista, afirmando ser inabitável a Faixa de Gaza e necessitando uma evacuação coletiva. Quase ao mesmo tempo, na sua rede Truth Social, Trump ameaçou os palestinos de Gaza, caso não devolvam rapidamente todos os reféns israelenses.

Algumas referências:

https://www.lemonde.fr/international/live/2025/03/06/en-direct-proche-orient-donald-trump-lance-un-avertissement-au-peuple-de-gaza-si-vous-gardez-des-otages-vous-etes-morts_6570882_3210.html

https://www.letemps.ch/monde/les-etats-arabes-presentent-leur-alternative-au-projet-trump-sur-gaza

https://truthsocial.com/@realDonaldTrump

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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