Francisco, o papa que entende comunicação

(Imagem: Annett_Klingner/ Pixabay)

Nascido Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco se distanciou da suntuosidade da função de Sumo Pontífice para exercer seu ofício como pároco de 1,39 bilhão de católicos pelo mundo.

Eleito no conclave que terminou no dia 13 de março de 2013, sempre que possível escolheu o caminho da simplicidade, tanto na forma clara de se comunicar com seus fiéis como na relação que construiu com a imprensa.

O papa Francisco revelou-se acessível aos meios de comunicação.

A declaração histórica “Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgar?” foi dita durante uma conversa de quase uma hora e meia com jornalistas durante o voo de volta ao Vaticano, após a visita ao Brasil, em julho de 2013. “Se uma pessoa é gay, procura ao Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica e diz que não se deve marginalizar essas pessoas e que elas devem ser integradas à sociedade”.

O pontífice permitiu que padres abençoem casais do mesmo sexo e declarou em resposta à ala ultraconservadora da Igreja: “Ninguém se escandaliza se eu der minhas bênçãos a um empresário que talvez explore pessoas, e isso é um pecado muito grave. Mas eles se escandalizam se eu as dou a um homossexual”.

Francisco é um papa que sabe se comunicar, a antítese do antecessor Bento XVI, o alemão Joseph Ratzinger que não falava bem e não tinha carisma, outra força arrebatadora de Bergoglio.

É histórica a entrevista exclusiva concedida no Brasil do papa Francisco ao jornalista Gerson Camarotti, da GloboNews. Nela o líder religioso falou sobre a receptividade dos brasileiros em sua primeira viagem internacional após ser eleito Sumo Pontífice. Ele veio participar da 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Para Camarotti, outra declaração surpreendente sobre Brasil e Argentina: “Sobre a rivalidade, creio que negociamos bem. O papa é argentino e Deus é Brasileiro”. Ao jornalista, ao ser questionado sobre sua segurança no país, disse que “ninguém morre na véspera” e que ou se viaja com comunicação humana ou seria melhor não viajar.

Durante a entrevista, abordou temas sensíveis como a perda de fiéis da Igreja Católica, as mudanças e reformas na Igreja, a juventude e o catolicismo e sobre pobreza e ostentação. “Penso que temos que dar testemunho de uma certa simplicidade – eu diria, inclusive, de pobreza. O povo sente seu coração magoado quando nós, as pessoas consagradas, somos apegadas a dinheiro.”

Jesuíta, Jorge Bergoglio fez voto de pobreza e abriu mão do salário de papa. Distante do luxo do Palácio Apostólico, onde residem os papas, Francisco mora na suíte 201 da Casa Santa Marta.

O local nada mais é que um hotel que recebe religiosos durante visitas ao Vaticano. Além da simplicidade, sua escolha se deu para conviver com outras pessoas. “Eu não consigo viver sozinho. Preciso viver minha vida com outros”, declarou Francisco à imprensa.

Taxado de comunista, Francisco disse que “a sociedade se esquecera da experiência de chorar e de sofrer com os outros”.

Para ganhar manchetes, durante a campanha para presidente da Argentina, o então candidato Javier Milei o chamou abertamente de “imbecil” e “homem do diabo na terra”.

Na história milenar da Igreja Católica, Francisco foi o único papa a rezar sozinho no Adro da Basílica de São Pedro. Era 27 de março de 2020. A humanidade entrava em pânico com o início da pandemia de Covid-19.

No “Momento Extraordinário de Oração”, a figura solitária de Francisco personificou, ao mesmo tempo, fragilidade e esperança. A imagem é histórica, assim como a mensagem que ocupou manchetes de jornais, sites e televisões no mundo todo.

Francisco refletiu, em um dos trechos: “À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos”.

As notícias oscilam sobre a saúde do papa Francisco entre graves, estáveis e melhoras. Aos 88 anos, Jorge Bergoglio recebeu o diagnóstico de pneumonia bilateral. Ele está internado no Hospital Gemelli, em Roma, desde 14 de fevereiro.

Há ódio demais ocupando as principais manchetes no mundo todo, espalhado por gente que se orgulha da própria ignorância.

Líderes como Jorge Mario Bergoglio são essenciais para contrapor a cólera pela paz, a ignorância pela sensatez e a estupidez pela fé.

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Paulo Renato Coelho Netto é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S. Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”.

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