O etarismo em manchete após ‘A Substância’ virar cena ao vivo do Oscar

(Foto: cottonbro studio/Pexels)

Várias notícias na imprensa divulgaram que, desde 1930, menos de 20% das mulheres indicadas ao maior prêmio do cinema mundial, nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, estavam acima dos 50 anos de idade.

Ter uma indicação é uma coisa, mas o problema vem depois: quantas atrizes com mais de 50 anos ganharam a estatueta? Fernanda Torres, Demi Moore e Karla Sofía Gascón estavam na disputa, mas teve surpresa, nem tanta surpresa assim, a vencedora ser Mikey Madison, com metade deste 50.

Depois disso vieram matérias que indagavam se houve etarismo por parte da premiação. A imprensa brasileira repercutiu com vários títulos, inclusive um da Folha de S. Paulo afirmando “Não teve etarismo no Oscar com Mikey Madison e Demi Moore”.

A revista Marie Claire expôs vídeo da Claudia Raia em que se prontifica a colocar como “injusto” e “culto à juventude” a atuação e o enredo do filme Anora, que destaca novamente a mulher como “sex symbol”. A Veja também publicou a fala da atriz Claudia Raia, destacando no título a palavra “Revolta” ao abordar o tema.

A Gaúcha Zero Hora também enfatizou a abertura do debate do etarismo, a partir da premiação da melhor atriz no Oscar. O portal Terra ainda foi mais enfático: “‘A Substância’ se concretiza no Oscar com desprezo a favoritas de 62 e 59 anos”.

Constrangimento na premiação

Mas o que é se espantar é que “A Substância” retrata exatamente esse tema. O filme deixa escancarado o etarismo da Academia. Quem vota no Oscar está repetindo a mesma história batida e repetida de 1999, quando Gwyneth Paltrow, a mais jovem entre as demais atrizes, entre elas, a Fernanda Montenegro, ganhou a estatueta.

Demi Moore nunca levou um Oscar, mesmo estrelando vários filmes em Hollywood. A indicação veio em 2025 e a atriz era considerada uma das favoritas ao prêmio.

A vida real foi denunciada ao vivo em rede mundial. Segundos separaram o trailer de “A Substância” do envelope “E o Oscar vai para”: 25 anos, contra os 62, contra os 59, contra os 52, contra os quase 40.

Não tem como não pensar em números quando temos essa inversão de valores, onde tudo se “precifica”. Não se desclassifica a atuação de alguém que fez seu papel de forma brilhante, mas também não podemos disfarçar o mal-estar do etarismo escancarado em toda a mídia e entre todos os rostos.

“Humm, Legal!

Uma foto que também repercutiu foi de Demi Moore, ao rejeitar o jantar da Academia e se deliciar com batatas fritas, em um local mais intimista. Pelo que parece, ficou sem clima para comemoração.

Fernanda também estava entre as favoritas ao prêmio por seu mérito em “Ainda Estou Aqui”. Vários jornais, inclusive norte-americanos, destacam o favoritismo. O filme que denuncia a ditadura brasileira ganhou o de melhor filme internacional.

A vida imita a arte ou a arte imita a vida. O filme que ganhou o prêmio de Melhor Maquiagem não deixou a realidade passar em branco, ela foi exposta ao vivo para milhões de pessoas. A jovem atriz ganhou.

Quando foi indicada, Fernanda Montenegro tinha 70 anos, Meryl Streep, 50, a ganhadora, 27 anos. Dois a mais do que a vencedora de 2025. Depois disso, a suposta leitura labial de Demi, nos defronta com essa realidade: “Humm, Legal!” Precisamos deixar o salão e comemorar com batatas fritas.

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Francisco Julio Bárbaro Xavier é jornalista, ator e apresentador potiguar. Formado em Jornalismo pela Universidade Potiguar-UnP. Aluno da graduação de Linguagem na Fasesp. É pós-graduado em Comunicação Digital pela UnP.

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