A advocacy informativa contamina a imprensa no Brasil e no mundo

(Imagem: StockSnap/Pixabay)

Advocacy é uma expressão inglesa, sem uma tradução exata para o português, usada para caracterizar a promoção de uma ideia, projeto, ação ou decisão através da comunicação. É mais ou menos o que está acontecendo atualmente com os jornais, semanários, telejornais e páginas noticiosas na internet, no caso da polêmica em torno da popularidade do presidente Lula.

A tradicional percepção de isenção e objetividade nas notícias está sendo substituída por formas diversas de militância ou advocacy informativa. Trata-se de um fenômeno, cada vez mais frequente e sofisticado, que está diretamente ligado à crescente complexidade do fluxo de informações fornecido pela imprensa e por jornalistas independentes ao conjunto da população aqui e no resto do mundo. Estamos sendo submetidos a um bombardeio informativo que nos desorienta e nos deixa inseguros sobre onde está a ‘verdade” no meio da avalanche de dados e versões diferentes sobre um mesmo fato.

Para complicar as coisas, a imprensa perdeu o monopólio da produção e disseminação de notícias, depois que as plataformas digitais e redes sociais independentes passaram a ser as principais fontes das chamadas “hard news”, jargão inglês para notícias de impacto. Os jornais, revistas, telejornais e sites acabaram limitados à condição de analistas e intérpretes de hard news, situação que os levou a praticar a advocacy informativa.

A grande imprensa brasileira e quase uma centena de projetos jornalísticos online deixam cada vez mais claro que praticam a militância informativa para debilitar a imagem do atual presidente da República visando ganhos políticos e eleitorais futuros. É uma estratégia de comunicação que usa a complexidade dos resultados de pesquisas de opinião ou de questões como o processo contra acusados de participar de atos golpistas e a situação da economia nacional para moldar a percepção da opinião pública segundo uma determinada visão de mundo.

As pesquisas de opinião e a advocacy informativa

As pesquisas de opinião pública são um caso exemplar de complexidade informativa capaz de gerar percepções diferenciadas e muitas vezes distorcidas. Os especialistas em pesquisas de opinião sabem que os resultados vão depender do momento político e social em que a consulta é realizada, do tipo e formato das perguntas, do local onde são feitas as entrevistas, das técnicas de cruzamento das respostas e da amostra de público escolhida. São muitas as variáveis possíveis, mas as conclusões publicadas quase sempre se limitam a posicionamentos dicotômicos, estilo aumentou ou diminuiu, bom ou mau, aprovo ou desaprovo.

O resultado das últimas consultas sobre popularidade presidencial não ajuda a esclarecer o paradoxo entre notícias que mostram uma economia em expansão e indicadores numéricos apontando um decréscimo no prestígio do governo. As manchetes da imprensa destacaram que a popularidade de Lula despencou induzindo à percepção de que o governo está fragilizado e impotente diante dos problemas nacionais.

Os marqueteiros mais experientes sabem como usar uma pesquisa para colocar um tema na agenda pública de debates, com a justificativa de que os resultados expressam a opinião pública. Isto serve como gatilho para a imprensa entrar na discussão, aproveitando-se da diversidade de opiniões, para praticar a advocacy informativa.

A metáfora do copo meio cheio ou meio vazio é cada vez mais representativa da realidade que vivemos. O copo é o mesmo, a água idem, a diferença está em nossa mente. Num ambiente cada vez mais caracterizado pela diversidade e complexidade dos temas em debate pelo público é inevitável que as pessoas desenvolvem em suas mentes visões de mundo diferenciadas, logo promovam seus pontos de vista, praticando a advocacy informativa. Até aí nenhum problema.

A controvérsia sobre o uso dos mecanismos de advocacy surge quando a imprensa omite o fato de que está promovendo um determinado posicionamento sobre questões em debate pelo público. A maioria das pessoas ainda acredita que os jornais e revistas, bem como telejornais de grande audiência são uma espécie de ‘bíblia’ da verdade. Isto faz com que elas tenham a tendência a serem influenciadas pelo que leem, ouvem ou veem na imprensa, podendo assumir visões de mundo fora da realidade em que vivem.

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Carlos Castilho é jornalista com doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo EGC da UFSC. Professor de jornalismo online e pesquisador em comunicação comunitária. Mora no Rio Grande do Sul.

 

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