Advornalismo consumerista

(Foto de Mikhail Nilov/Pexels)

Se você pesquisar “Advornalismo” ou “Advornalismo Consumerista” no Google, só vai dar meu nome. Isso porque eu cunhei esse termo no artigo que apresentei como meu Trabalho de Conclusão de Curso. O artigo foi aprovado pela banca e o conceito foi aprovado pelos milhares que me acompanham no TikTok. Mas o que eu quis dizer com ele?

Primeiro, não é um termo apolítico. Ele expressa uma intenção, a intenção de combate ao justiçamento, em prol da cultura de paz. Ao cunhar tal neologismo desta maneira, sem procurar raízes gregas ou latinas, mas em uma simples junção, quis demonstrar as contradições do formato inaugurado por Celso Russomanno nos anos 90. Aqui, portanto, esteja ciente de que há um lado.

Meu trabalho pretendia, de início, tão somente investigar as violações éticas nos programas de atendimento ao consumidor. Em outras palavras, tratava-se de analisar diversos programas e contrastá-los com a conduta, ou o ethos jornalístico. Assim, iniciei minha abordagem em cima do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

Pouco a pouco, começou a ficar claro que as coisas não são tão simples e cristalinas: não apenas as violações à ética jornalística eram intensas, mas sistemáticas, pressupostos do formato, estruturais, condições sine qua non para a existência de tais programas. A ausência de um mínimo de equilíbrio, a interferência na informação, o agenciamento de uma das fontes, o sensacionalismo… e mais do que isso: o florescer de traços de advocacia misturada ao jornalismo. Ali, a advocacia atuava no extrajudicial, tendo uma ferramenta poderosa de punição: a câmera. O apresentador advoga em prol de seu cliente, virando o juízo da opinião pública contra o estabelecimento, caso este não realize o que aquele apresentador julgue justo. Assim, a figura do justiceiro em nome dos pobres e oprimidos criava a novela perfeita para muita audiência e muitos votos. Um case de sucesso para a grande massa, às custas da dignidade de duas profissões.

Esta mistura entre advocacia e jornalismo, baseada na conveniência, não poderia nascer em outro país. Meia página de Sérgio Buarque de Holanda ou de Roberto DaMatta já dá conta de explicar a tendência deste povo para pegar os benefícios de dois mundos, sem as obrigações de nenhum deles. Assim surge o advornalismo consumerista, um novo ethos, que já não é nem jornalismo, nem advocacia, mas pega prerrogativas de ambos. Como jornalismo, não se limita a informar; como advocacia, não mantém a sobriedade e a discrição próprias da categoria. Assim, ao tentar enquadrar tanto nas diretrizes deontológicas do jornalismo quanto da advocacia, falhamos miseravelmente.

Combater o advornalismo consumerista não é combater o consumidor. Não é defender empresários que dolosamente lesam seus clientes. Combater o advornalismo consumerista é lutar pela promoção de uma cultura de paz. Não haverá paz enquanto houver justiceiros. O justiceiro esconde de sua plateia seus reais objetivos, dissimula seus meios através de fins que parecem, ao mais simples cidadão, tão nobres, que vale tudo, tudo pode. O combate é para que o cidadão seja emancipado, consciente de como acionar o seu estado em prol de seus direitos básicos, sem terceirizar sua cidadania a terceiros que dela obterão lucros inimagináveis.

Abaixo, este que é a pedra inaugural de um movimento em prol de condutas acertadas, que não deixem nenhum direito para traz, contemplando uma cidadania pedagógica e consciente de que os fins não justificam os meios.

Leia aqui o trabalho completo:

https://viniciusmacia.wordpress.com/wp-content/uploads/2024/07/final.pdf

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Vinicius Macia é jornalista, pós-graduando em Jornalismo Investigativo e Pós-graduando em Ciência Política.

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