‘Não sou bolsonarista’, diz desembargador que liberou prisão domiciliar a assassino de petista

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CATARINA SCORTECCI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS)

O desembargador Gamaliel Seme Scaff determinou nesta terça-feira (18) uma reavaliação médica do ex-policial penal Jorge Guaranho, condenado pela morte do petista Marcelo Arruda. O magistrado ainda prestou solidariedade à família da vítima e acrescentou que “não é bolsonarista”.

Scaff autorizou, a pedido da defesa, a prisão domiciliar para Guaranho um dia após ele ser condenado em júri marcado por choro e reviravolta a uma pena de 20 anos de prisão em regime inicial fechado pelo crime.

Nesta terça, o desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná explicou por que tomou a decisão liminar e se defendeu do que chamou de “tempestuoso clamor público de parcela da militância das esquerdas”.

“No sábado pela manhã, um tempestuoso clamor público de parcela da militância das esquerdas, ao pressuposto de que o réu condenado no dia anterior, teria sido posto ‘em liberdade’ porque o juiz seria bolsonarista e estaria ‘protegendo’ o assassino da vítima Marcelo, em absoluto desrespeito à viúva, familiares e companheiros. Isto nunca foi verdade. Não sou bolsonarista! Não importa o que digam ou achem. Mas isso não importa agora”, escreveu ele.

Ao pedir a liminar, a defesa de Guaranho justificou que o ex-policial penal ainda sofre com as sequelas do dia do crime, quando foi alvo de disparos de Arruda depois de atirar no petista.

Segundo seus advogados, o policial penal realiza “tratamento médico especializado em decorrência de ter sido alvo de nove disparos de arma de fogo e severos espancamentos por mais de cinco minutos, resultando em fratura completa da mandíbula, perda completa de dentes e massa óssea”.

Acrescentaram que “os diversos projéteis estão alojados no corpo do paciente, inclusive na caixa craniana e na porção esquerda da massa encefálica”.

Na decisão desta terça, Scaff determina que Guaranho seja submetido a uma reavaliação médica no IML (Instituto Médico Legal).

“Considerando que o quadro de saúde do réu vem recebendo tratamento, necessário atualizar os autos quanto ao seu estado atual, de modo a saber se reúne condições” de iniciar o cumprimento da pena no CMP [Complexo Médico Penal] ou até em um presídio estadual, diz o magistrado.

O CRIME

Em 9 de julho de 2022, Guaranho invadiu a festa de Marcelo, que comemorava 50 anos de idade no salão de um clube em Foz do Iguaçu, junto com familiares e amigos.

O petista usava uma camiseta com a imagem do então candidato Lula, e a decoração fazia referências ao PT, como balões vermelhos. Guaranho e Marcelo não se conheciam, mas, ao saber do tema da festa, o então policial penal resolveu ir até o local gritando o nome de Jair Bolsonaro (PL) em provocação aos convidados.

No equipamento de som de seu carro, ligou uma playlist com músicas da campanha do então presidente.

Marcelo respondeu à provocação, gritando “[Bolsonaro] na cadeia”, e, após uma rápida discussão com Guaranho, pegou terra e jogou no carro do policial penal. Guaranho foi embora, mas voltou pouco tempo depois.

Nessa segunda vez em que apareceu na festa, o policial penal desceu do carro, e a policial civil Pamela Silva, companheira de Marcelo, mostrou seu distintivo, pedindo que ele fosse embora. Mas Guaranho viu Marcelo ao fundo, atrás de Pamela, e começou a atirar nele.

Mesmo caído após ser alvejado por Guaranho, Marcelo conseguiu disparar contra o policial penal, que foi ao chão e também levou chutes de três homens que presenciaram toda a ação.

O petista deixou quatro filhos. Os dois mais velhos, Heitor, 18, e Leonardo, 29, acompanharam o júri. Os mais novos, de 9 e 2 anos, não chegaram a entrar no prédio. Despediram-se da mãe, Pamela, pouco antes do começo do julgamento e ficaram com a avó.

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