Motta se queixa a aliados de repercussão de fala sobre 8/1 e promete fugir de polêmicas

presidente da câmara dos deputados, hugo motta

VICTORIA AZEVEDO E MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), queixou-se a aliados nos últimos dias sobre a repercussão de sua fala a respeito dos ataques golpistas de 8 de janeiro.

Em entrevista no último dia 7, Motta disse que o episódio foi uma “agressão inimaginável”, mas não que não o via como uma tentativa de golpe de Estado.

De acordo com relatos colhidos pela Folha, o presidente da Câmara afirmou em um almoço a um grupo de aliados de partidos variados, do PL ao PT, que as pessoas que o criticaram esqueceram que, na mesma entrevista, ele negou a possibilidade de fazer processos de impeachment contra o presidente Lula (PT) avançarem.

Ainda segundo participantes do almoço, Motta reforçou que tem compromissos “com os dois lados” e que não irá atrapalhar o governo em nada, mas que tem opiniões pessoais acerca de temas.

Um deputado que estava no encontro diz que o presidente da Câmara reforçou que decisões de pauta de plenário serão tomadas de forma coletiva, ouvindo os líderes partidários.

Além disso, Motta agora pretenderia focar uma agenda propositiva à frente da Casa. A avaliação é de que é preciso buscar uma agenda de consenso, que fuja de assuntos da polarização. A sinalização da parte dele, segundo aliados, é que este não é o momento de pautar o temas polêmicos, como o PL da Anistia, que isenta do cumprimento de pena os condenados pelo 8 de janeiro.

Como a Folha mostrou, bolsonaristas passaram a usar a declaração do próprio Motta para buscar mais apoio para o projeto de lei.

Além disso, esse grupo ampliou a pressão, levando ao encontro de Motta a família de um dos presos de 8 de janeiro. O encontro ocorreu, mas não houve nenhum registro de imagem. Descobriu-se depois que o motorista de carreta condenado a 14 anos de prisão, que era usado como exemplo por esses parlamentares, está foragido da Justiça desde o ano passado.

Na entrevista em que falou sobre o 8 de janeiro, Motta afirmou que “o que aconteceu não pode ser admitido que aconteça novamente”.

“Agora querer dizer que foi um golpe…”, completou. “Golpe tem que ter um líder, tem que ter pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas, como as Forças Armadas, e não teve isso.”

Sobre pedidos de impeachment de Lula apresentados por parlamentares da oposição, afirmou que quer ser o “presidente da estabilidade” e que Lula foi legitimamente eleito.

“Não é gerando mais instabilidade que vamos resolver o problema do país. O presidente Lula foi legitimamente eleito pelo nosso povo, está respaldado por esse povo para poder governar”, disse.

“Pedido de impeachment é claro que se analisa, tem que ver se tem fundamento, consistência, mas é também um processo político de escolha e não está no nosso horizonte fazer nenhum tipo de movimento que traga para o país instabilidade”, completou.

Motta entrou na disputa pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) oficialmente em setembro de 2024. Teve menos tempo de exposição que os outros candidatos e fez uma campanha em que pouco expôs posicionamentos sobre propostas legislativas.

O foco foi buscar pautas de consenso e temas em que pudesse arrematar votos nos diferentes campos ideológicos da Câmara.

Aliados seus na Casa dizem que ele, de fato, tem o entendimento de que não houve tentativa de golpe em 8 de janeiro, mas que isso não necessariamente se traduz em apoio ao PL da Anistia.

Afirmam ainda que Motta se sentiu confortável para externar seus posicionamentos porque estava numa rádio local e não teria plena compreensão do peso que hoje tem a sua palavra.

Lideranças petistas viram as declarações como acenos de Motta à pauta bolsonarista, mas avaliam que o presidente da Casa terá movimento pendular na sua gestão, atuando ora para o governo, ora para a oposição.

Ainda na avaliação desses líderes, Motta não deverá atuar de fato para que seja votado o chamado PL da Anistia.

Por isso, dizem que não há motivo para crise com o novo comandante da Casa, ainda que considerem importante destacar que discordam da interpretação sobre os ataques às sedes dos três Poderes.

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