Júri popular da morte de tesoureiro do PT: réu diz que não foi à festa da vítima ‘nem para brigar, nem para matar’


Guaranho defedeu tese de que reagiu a disparos de Marcelo e que se quisesse matá-lo, teria feito isso antes. Julgamento ocorre em Curitiba. Sentença deve sair na quinta (13). Jorge Guaranho no segundo dia de julgamento no Tribúnal do Júri, em Curitiba, antes do início da sessão
Reprodução RPC
O réu e ex-policial penal Jorge Guaranho, que está sendo julgado em Curitiba pela morte do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, disse em depoimento não foi à festa da vítima “nem para brigar, nem para matar”. Esta foi a primeira vez que Guaranho falou, publicamente, a versão dele sobre o que o levou a atirar contra Marcelo Arruda.
Guaranho está sendo julgado desde terça-feira (11) pela morte de Arruda, que além de tesoureiro municipal do PT, também era guarda municipal em Foz do Iguaçu. O crime, em julho de 2022, foi filmado por uma câmera de segurança e aconteceu enquanto Arruda comemorava a própria festa de aniversário com decoração temática do presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores.
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Guaranho foi ouvido na noite desta quarta-feira (12), no Tribunal do Júri. Ele só respondeu a perguntas feitas pela própria defesa e pelos jurados. O depoimento dele, assim como o de testemunhas e peritos, não pôde ser gravado nem fotografado.
Guaranho prestou depoimento de muletas.
Ao dar a sua versão sobre o motivo de ter ido atirado contra Marcelo, defendeu que disparou porque Marcelo, segundo ele, atirou antes. Disse, também, que não tinha intuito de matar ninguém e que, antes de disparar, mandou Marcelo abaixar a arma alegando ser policial.
O réu afirmou, ainda, que entrou no salão onde a festa ocorria porque queria desarmar Marcelo, mas foi impedido após ser atingido por tiros da vítima.
“Se eu quisesse matar o Marcelo, eu tinha matado desde antes.”
Após o depoimento de Guaranho, o júri popular foi suspenso e será retomando na quinta-feira (13), às 9h, com a fase de debates – em que acusação e defesa fazem as sustentações antes do Conselho de Sentença definir para condenação ou absolvição. A expectativa é que o júri seja concluído ainda quinta (13).
Tempo real: g1 transmite ao vivo o julgamento
Cronologia: relembre o crime
O desenrolar dos fatos, conforme Guaranho
No dia do crime, Guaranho foi duas vezes ao local onde a morte aconteceu. Na primeira, houve uma discussão entre ele e Arruda. A segunda foi quando a troca de tiros aconteceu.
Sobre a briga com Marcelo Arruda na primeira ida de Guaranho ao local, o réu confirmou que foi até a festa ouvindo uma playlist com músicas alusivas ao então presidente Bolsonaro. Ao chegar lá, disse que Marcelo xingou a música e o desentendimento entre os dois começou.
Guaranho negou ter falado “Aqui é Bolsonaro” no local, mas confirmou ter dito “Bolsonaro mito”. Disse, também, que após ter feito essa afirmação, Marcelo avançou contra ele.
Questionado sobre como ele se sentiu naquele momento, Guaranho disse que ficou ofendido com a atitude de Marcelo, que jogou terra no carro em que o réu estava com a família, incluindo o filho bebê. Segundo Guaranho, o filho teve um machucado no olho.
O réu também disse que foi embora, mas decidiu voltar ao local depois da primeira confusão porque queria “cobrar explicação do cara que machuchou meu filho”.
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Motivação política
Durante o julgamento, acusação e defesa lutam para evidenciar se houve, ou não, motivação política no crime cometido por Guaranho, que responde por homicídio duplamente qualificado. A outra principal divergência, a qual o Conselho de Sentença deve responder, é se Guaranho atirou primeiro contra Arruda ou se reagiu.
Respondendo a defesa, Guaranho falou que nunca teve desentendimentos políticos antes do crime e que não tem ódio a qualquer vertente política.
Afirmou também que, no passado, teve discussões em redes sociais sobre política, mas não brigas.
Choro
Guaranho se emocionou no tribunal ao responder perguntas sobre as agressões que sofreu após a troca de tiros com Marcelo Arruda. Relembrou que, enquanto estava preso, até o fim de 2024, não recebeu tratamento médico ideal e que só conseguiu ser bem atendido após ter ido para prisão domiciliar.
Alegou, no depoimento, que tem dificuldade para andar e precisa fazer fisioterapia.
Ainda sobre as agressões, Guaranho concordou quando a defesa disse que ele tem “amnésia pós-trauma” por conta de pancadas que levou na cabeça. Ele foi questinado se lembrava das agressões e respondeu que não.
Perguntas dos jurados
Os jurados fizeram 12 perguntas para Jorge Guaranho.
Na primeira pergunta, foi questionado sobre em qual estado considera que estava no dia, se estava alcoolizado. Respondeu que tomou dois copos e disse que tinha bastante resistência para bebida, mas como estava na churrasqueira, ocupado, não bebeu muito na ocasião.
A segunda pergunta foi se, ao chegar ao salão, se identificou como policial. Ele respondeu que sim.
A terceira pergunta foi se o motivo para ele não ter atirado na primeira vez que foi ao salão foi o fato de que estava com esposa e filho. Ele respondeu que na primeira ida não tinha um perigo letal, porque Marcelo não estava armado, mas na segunda, sim.
A quarta pergunta foi sobre o motivo de ele voltar. Ele respondeu que quando viu que a porta de trás do carro foi aberta, achou que tinha sido Marcelo que abriu e, por isso, arrancou pra ir embora. “Quando eu vi meu filho chorando ali, eu não pensei”, respondendo o motivo de ter voltado. E complementou: “Infelizmente quando eu voltei lá, o Marcelo estava me apontando a arma […] Eu tentei até o último minuto não atirar. Se Marcelo tivesse ficado no fundo, perto da sala de jogos, poderia ter dialogado, mas Marcelo avançou com a arma.”
A quinta pergunta também foi sobre o motivo dele voltar. Ele disse que foi porque o olho do filho ficou machucado após Marcelo jogar terra no carro dele, na primeira ida ao local.
A sexta pergunta foi sobre os filhos de Marcelo: “Já parou pra pensar que tem problema de memória e sequelas, o filho tem problema no olho, mas os filhos do Marcelo não têm mais pai?”. Guaranho respondeu que pensa nisso o tempo todo e disse que a família dele também sofreu. Avaliou o caso como uma fatalidade. “Se ele não tivesse vindo pra cima de mim com aquela arma de fogo, não importaria o partido político dele […] Eu mesmo namorei uma menina que era do Partido dos Trabalhadores.”
A sétima pergunta foi sobre o motivo dele ter ido na festa pela primeira vez. Respondeu que “era uma brincadeira” e que não sabia que ia acontecer o que aconteceu.
A oitva pergunta questionou se foi adequado atirar no local, considerando que ele tinha treinamento de polícia e havia muitas pessoas ao redor. Guaranho respondeu que “tentou ao máximo não atirar” e que atirou “a hora que eu não tive mais escolha […] na hora que eu atirei, eu senti que se não fosse eu que atirasse, eu ia ser baleado.”
A nona pergunta foi sobre a memória. Um jurado perguntou se ele se recorda do dia. Guaranho respondeu que lembra do dia enquanto estava consciente, mas disse que isso foi progressivo.
A décima pergunta foi se ele se arrepende. Guaranho respondeu que sim. “Sempre vão ser 4 filhos sem pai. Foi o Marcelo que morreu […] Eu não queria, tentei não atirar […] Arrependimento vai ser pra sempre. Marcelo morreu, eu quase morri.”
A décima primeira pergunta foi se em algum momento Marcelo deixou de ser uma ameaça. Guaranho respondeu que quando atirou no Marcelo, tinha duas opções: voltar pro carro ou desarmar Marcelo. Afirmou que se entrasse no carro, Marcelo teria condições de atirar nele. Segundo ele, a avaliação que teve no momento foi a de que Marcelo ainda representava perigo, por isso atirou mais uma vez.
A décima segunda pergunta foi se ele considerou atirar em uma parte não vital. Guaranho respondeu que tentou ao maximo evitar o coração e o tórax. Disse que o primeiro tiro pegou no abdômen e o segundo na coxa. “Mas infelizmente pegou no abdômen e causou hemroragia que o matou no hospital.”
Réu foi ouvido após conclusão de depoimentos das testemunhas
Antes de Guaranho, nove pessoas foram ouvidas entre terça (11) e quarta-feira (12):
Pâmela Suellen Silva, viúva de Marcelo Arruda, que detalhou o dia do assassinato e deu declarações sobre a dificuldade de criar o filho mais novo após a morte do pai. Na época, o bebê tinha 40 dias de vida;
Daniele Lima dos Santos, vigilante que estava no local do crime;
Denise de Oliveira Carneiro Berejuk, perita responsável por laudos de imagem;
Wolfgang Vaz Neitzel, amigo de Marcelo Arruda que participou da festa e viu discussão que terminou com o assassinato;
Edemir Alexandre Riquelme Gonsalves, tio de Pâmela, companheira de Marcelo Arruda e que comprou decoração da festa;
Marcelo Adriano Ferreira, policial penal do Presídio de Catanduvas que trabalhava com o agora ex-policial penal Jorge Guaranho;
Márcio Jacob Muller Murback, amigo de Guaranho que tinha acesso às imagens das câmeras de segurança da associação onde ocorria a festa de Arruda por fazer parte da direção onde ocorria a festa;
Simone Cristina Malysz, perita que participou da elaboração de laudos do caso;
Alexandre José dos Santos, amigo de Marcelo Arruda, servidor público e que também estava na festa.
Ainda na terça, Leonardo, filho de Marcelo Arruda, foi dispensado da posição de testemunha pela acusação e não será mais ouvido.
Na quarta, o perito Rodrigo Cavalcanti de Oliveira Neves e a esposa de Guaranho, Francielle Sales da Silva, também foram dispensados.
Relembre o crime, segundo a polícia
Relembre caso de ex-policial penal que matou tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu
Conforme as investigações, Jorge Guaranho invadiu a festa de aniversário de Marcelo Arruda e os dois discutiram. Cerca de 10 minutos depois, o policial penal voltou ao local, armado, e disparou contra Arruda, que revidou usando a arma que carregava por ser guarda municipal.
Arruda foi socorrido, mas morreu na madrugada de 10 de julho de 2022. Ele deixou quatro filhos. Na época do crime, um deles tinha pouco mais de 40 dias.
Após o crime, Guaranho foi agredido por convidados presentes na festa de Marcelo. Ele foi internado e permaneceu em hospital de Foz do Iguaçu até ter alta e ser encaminhado ao Complexo Médico-Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, onde ficou preso até setembro 2024. Atualmente, Guaranho cumpre prisão domiciliar.
O infográfico abaixo mostra a ordem dos acontecimentos do crime, segundo a Polícia Civil:
Entenda ordem dos acontecimentos no dia do assassinato do petista baleado em festa de aniversário, segundo a polícia
Arte/g1
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