Imprevisibilidade de chuva de verão dificulta antecipação de alerta contra tempestades

BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Durante as fortes chuvas que atingiram a cidade de São Paulo nas última semanas, moradores voltaram a receber um novo tipo alerta em seus celulares. A notificação, porém, chegava a algumas regiões quando o temporal já havia provocado problemas, causando uma dúvida nas pessoas: o sistema teria falhado?

Segundo a Defesa Civil, responsável pelo disparo, nenhum problema foi constatado. O órgão estadual afirma que a tecnologia serve para informar aos moradores quando a chuva está forte e ininterrupta numa certa localidade, colocando a área sob risco. Não é sua função avisar sobre a chegada de um temporal.

Isso, aliás, seria muito difícil, segundo Carlos Augusto Morales Rodriguez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo). Ele explica que as previsões com radar meteorológico, utilizado em todo o mundo, só funcionam quando o equipamento percebe algum sinal de precipitação em sua área de cobertura.

A partir disso, a intensidade de um temporal pode ser calculada até 30 minutos antes de cair. Mas isso depende de outros fatores, e esse tempo pode ser ainda menor, a depender do fenômeno.

“Maior antecipação só seria possível com modelos matemáticos e físicos de alta resolução que rodem numa região com uma rede de observações densa”, segue o especialista. De acordo com ele, mesmo em outros países não há algo do tipo.

Além disso, o funcionamento do sistema de radar meteorológico fica ainda menos preciso em casos das típicas tempestades de verão, como as observadas agora.

“Esses fenômenos muito violentos, em que você tem rajadas de vento e a cidade inunda, podem se formar em pouco tempo, às vezes minutos”, de acordo com Marcelo Seluchi, coordenador-geral de operações e modelagem do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

Por isso, no caso das chuvas de verão, o alerta pode ser enviado quando a tempestade já começou.
Idealmente, segue, seria indicado que pessoas em áreas de risco recebessem avisos até duas horas antes de situações extremas. Esse seria o tempo mínimo necessário para, por exemplo, a evacuação de uma área.

A Defesa Civil de São Paulo diz fazer a notificação prévia. Por meio de seu serviço de mensagem (SMS), ela diz avisar diretamente aos cidadãos sobre riscos de tempestades.

O serviço de texto fornece informações meteorológicas sobre qualquer um dos 645 municípios do estado. Quem não recebe as notificações pode solicitar o serviço enviando um SMS para o número 40199. Basta digitar o CEP da residência ou de outros locais de interesse em qualquer período.

A Defesa Civil emitiu pela primeira vez, em 24 de janeiro, um alerta sobre a chuva que atingiu a cidade de São Paulo por meio da nova tecnologia cell broadcast.

A notificação que apareceu em telefones celulares por volta das 16h citava a chuva forte se espalhando pela capital com rajadas de vento e risco de alagamento, além de recomendar que as pessoas buscassem ou permanecessem em local seguro.

Diferentemente de alertas por mensagem de texto, o que usa a tecnologia cell broadcast interrompe outras funções dos aparelhos -como reprodução de vídeos e uso de apps- e dispara um alarme sonoro e um vibratório para chamar a atenção do usuário.

Todo aparelho celular de determinada região conectado a uma antena de telefonia e recebendo sinal 4G ou 5G vai receber mensagens de alerta. A previsão é que sejam acionados aparelhos que estejam em área de risco independentemente de o usuário ter cadastrado seu número.

Conforme a pesquisa Adaptação Climática: uma intersecção Brasil 2030, da Associação de Pesquisa Iyaleta -que estuda mudanças climáticas- no Brasil apenas 7,81% dos municípios têm o sistema de alerta antecipado de desastres disponível.

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