Brasileiros são resgatados após meses de tortura em Mianmar

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MANUELA RACHED PEREIRA
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)

Após mais de três meses mantidos reféns como vítimas de tráfico humano e submetidos a torturas em Mianmar, os brasileiros Luckas Viana dos Santos, 31, e Phelipe de Moura Ferreira, 26, foram resgatados, segundo informado por familiares.


Brasileiros fugiram no último fim de semana e foram resgatados por autoridades locais. Segundo familiares de ambos, eles conseguiram escapar do local onde eram mantidos reféns junto com um grupo de centenas de estrangeiros, também vítimas de tráfico humanos. Após a fuga, eles foram encontrados por agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista), grupo armado de rebeldes dissidentes das Forças Armadas de Mianmar, que vive sob um regime ditatorial militar há quatro anos.


Vítimas foram mantidas em centro de detenção local. Os brasileiros conseguiram se comunicar com seus familiares da prisão, de onde aguardam serem transferidos a Tailândia com o auxílio de uma organização civil internacional de combate ao tráfico humano chamada The Exodus Road. A entidade confirmou o resgate dos brasileiros, junto a outros 368 estrangeiros de 21 países que também haviam sido traficados a Mianmar.


“Estou me sentindo o homem mais feliz do mundo. Eu pensei que não ia mais conseguir ver meu filho, mas graças a Deus, conseguimos”, disse Antonio Carlos Ferreira, pai de Phelipe.


Resgate não teve apoio do Ministério das Relações Exteriores e embaixada brasileira, segundo familiares. “O mérito do resgate foi todo da ONG [Exodus]. A embaixada [brasileira] só ficou aguardando a boa vontade das autoridades de Mianmar, que não iam fazer nada. Já sabiam onde eles estavam e tinham que ter pressionado mais, mas não fizeram nada. Quem pressionou foi a ONG”, afirma Antonio, pai de Phelipe.


Procurado pelo UOL, Itamaraty ainda não retornou. O texto será atualizado com eventuais manifestações da pasta e mais informações sobre o resgate.


Brasileiros ficaram cerca de três meses reféns. Luckas e Phelipe se tornaram vítimas de tráfico humano em Mianmar entre outubro e novembro, após aceitarem supostas propostas promissoras de emprego na Tailândia (relembre o caso).


Phelipe e Luckas, ficaram presos em uma fábrica em Myawaddy, onde eram forçados a trabalhar 15 horas por dia. Sob ameaças e tortura, eles aplicavam golpes digitais em pessoas de outros países.


Durante os meses, familiares relataram dificuldade de contato com órgãos brasileiros e reclamaram de retornos protocolares e vagos. “Quando respondem, nos mandam notas dizendo que estão em contato com as autoridades locais e que a situação ali é complicada. Mas então como que, pra resgatar o ator chinês famoso, foi tão rápido?!”, questionou Antônio Carlos Ferreira, pai de Phelipe.


No início de janeiro, um jovem ator chinês foi resgatado em Mianmar quatro dias após chegar ao país como possível vítima de tráfico humano. Wang Xing, 31, foi levado para a mesma região onde os dois brasileiros foram mantidos reféns, segundo informado pela agência de notícias estatal chinesa, Xinhua News.


Chinês viajou à Tailândia após aceitar falsa proposta de trabalho. Segundo veículos de imprensa tailandeses, como o Bangkok Post, o ator havia sido convidado a participar de um teste de atores para um filme no país asiático.

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