Venezuela manda aviões para buscar deportados por Donald Trump nos EUA

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MAYARA PAIXÃO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS)

A mesma Venezuela que há pelo menos sete anos é origem da maior diáspora da América Latina, com cidadãos que fogem da crise econômica e da perseguição política, voltou nesta segunda-feira (10) a receber seus imigrantes deportados pelos Estados Unidos.

O regime chavista anunciou nesta segunda-feira (10) que dois aviões da sua estatal do setor, a Conviasa, pousaram na base aérea Biggs Army Airfield, no estado americano do Texas, para transportar os primeiros deportados venezuelanos sob o acordo selado com Trump.

Caracas não diz quantos deportados seriam, mas diz que foi informada por Washington de que alguns dos imigrantes têm ligações com o Trem de Arágua, grupo criminoso venezuelano que ao longo dos últimos anos se espalhou por outros países da América Latina, como o Chile.

O regime comandado por Nicolás Maduro afirma ter pedido ao governo Trump para ir buscar seus deportados, em vez de que fossem transportados em aeronaves americanas, como ocorre com os brasileiros, por exemplo. O acordo selado é um capítulo importante.

A ditadura não aceitava receber imigrantes deportados até então, o que era um imbróglio não apenas para os EUA, mas como para o Panamá, que sob o governo linha-dura de José Raúl Mulino começou a deportar, no ano passado, imigrantes que cruzam a perigosa selva de Darién em seu percurso terrestre para chegar aos Estados Unidos.

Como não há convênio com Caracas nesse sentido, os venezuelanos apenas seguem caminho rumo à Costa Rica e aos demais países até eventualmente chegar à fronteira do México com os EUA.

O comunicado do regime tem passagens que chamam a atenção. Diz que, hoje, “depois de muitos esforços, a Venezuela é um dos lugares mais seguros do continente” e que o fluxo migratório que sai do país -e que se aproxima de 8 milhões de pessoas- é fruto “das sanções econômicas e das campanhas de guerra psicológica contra o país”.

O acordo foi selado durante a visita de Richard Grenell, enviado de Trump, a Caracas no último dia 31. A ação surpreendeu ao fazer da Venezuela o primeiro país da América Latina escolhido para uma visita da nova administração republicana.

Grenell saiu de lá com dois trunfos: acompanhado de seis presos americanos que Maduro libertou e com o acordo de deportados em mãos.

Ao mesmo tempo, poucos dias depois o mesmo regime que diz que quer uma “agenda zero” com o governo Trump, para relações políticas pacíficas, estava chamando o secretário de Estado, Marco Rubio, de um “delinquente internacional” depois que o chefe da diplomacia de Trump participou da apreensão de um avião da ditadura na República Dominicana por desrespeito a sanções americanas.

Imigrantes venezuelanos estão entre as nacionalidades potencialmente mais impactadas pelo plano de deportação em massa da Casa Branca. Isso porque o governo Trump também suspendeu proteções temporárias que haviam sido concedidas a mais de 600 mil venezuelanos que vivem nos EUA.

Os imigrantes viraram uma arma política durante a última eleição na Venezuela, conduzida e concluída sob acusações de fraude eleitoral. O regime impediu que a maior parte da diáspora venezuelana pelo mundo fosse às urnas. Apesar de diáspora de 7,7 milhões de pessoas, apenas 69 mil eleitores no exterior estavam registrados para votar, graças a barreiras impostas por Caracas para o registro eleitoral.

Por outro lado, a oposição também apelava a essa parcela dos seus nacionais, afirmando que, se eleita, faria a Venezuela um país para o qual poderiam retornar com uma economia pulsante e sem perseguição política. É a mesma oposição que, agora, está em certa medida frustrada pelos arranjos políticos entre Trump e Maduro, estabelecidos sob bases e potenciais ameaças ainda desconhecidas.

Ao menos pelas declarações públicas de Marco Rubio, entende-se que estão na mesa possíveis sanções à economia venezuelana, como ao setor de petróleo. A peça-chave seria a autorização para que a gigante petroleira Chevron siga atuando em território venezuelano.

Conselheiros estimam que a empresa produza de 200 mil a 220 mil barris de petróleo ao dia, se somados também seus associados, na Venezuela. A gigante ajudou a minimizar a bancarrota do regime e ainda contribui no mercado de câmbio para aumentar as entradas de dólares.

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