Bancos avaliam que aumento do prazo do consignado do INSS trará mais endividamento

ADRIANA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Os bancos veem com preocupação o aumento do prazo para o pagamento de empréstimos consignados com base em aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) anunciado pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.

Representantes de instituições ouvidos pela reportagem alertaram que o prolongamento do prazo poderá acarretar aumento do endividamento e maior comprometimento de renda dos aposentados e demais beneficiários do INSS.

O prazo para pagamento passou de sete para oito anos e também beneficia quem recebe o BPC (Benefício de Prestação Continuada). As prestações mensais passam de 84 para 96 com o ano adicional de prazo para pagamento.

A avaliação do setor bancário é que, com prazos mais elásticos, os juros acumulados ao longo do contrato tendem a fazer com que o custo total do empréstimo aumente.

Procurado, o Ministério da Previdência afirmou que não faria comentário adicional em relação às declarações de Lupi desta quarta (5).

Um integrante do setor disse à reportagem que não há dúvida de que o resultado da medida será mais endividamento. Ele destaca que, ao alongar em 12 meses a dívida, o beneficiário do INSS poderá pagar mais do que o valor originalmente contratado, levando a um comprometimento da renda por um período maior, o que pode tornar o cliente mais vulnerável a eventos financeiros imprevistos, como aumento de despesas pessoais ou emergências familiares.

Ao anunciar a extensão do prazo, Lupi justificou o aumento como uma medida para aliviar um pouco o peso da prestação para os aposentados.

O setor bancário não participou das discussões com o Ministério da Previdência Social sobre o prolongamento do prazo, de acordo com pessoas a par do tema.

A medida ocorre no momento em que os bancos pressionam o governo Lula para que o teto de juros dos empréstimos acompanhe o movimento de alta da taxa Selic pelo Banco Central.

CONSIGNADO PRIVADO

Na semana passada, dirigentes dos maiores bancos do país se reuniram com Lula e acertaram o lançamento do novo consignado privado para trabalhadores celetistas.

A medida é uma aposta do presidente para aumentar o crédito e injetar mais recursos na economia no cenário atual de desaceleração do ritmo de crescimento com o ciclo de alta de juros pelo BC.

Na reunião com Lula, os banqueiros sinalizaram que abrem mão da garantia do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) se a nova linha não nascesse com o teto de juros.

Presente no encontro, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, perguntou aos dirigentes dos bancos se estavam seguros. A resposta foi positiva.

Se o novo produto nascer com o tabelamento de juros, os bancos querem a permissão para usar o saldo do FGTS como garantia para quitar os empréstimos nos casos de demissão do trabalhador que tomou o empréstimo. A legislação atual já permite o uso de 10% do saldo e 100% da multa como garantia. Não há definição ainda sobre esses pontos.

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