Rebeldes declaram cessar-fogo na RDC após combates matarem cerca de 900

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O M23, grupo rebelde apoiado por Ruanda que tomou a principal cidade do leste da República Democrática do Congo (RDC) na semana passada, anunciou na noite desta segunda-feira (3) um cessar-fogo unilateral, com início nesta terça (4).

A facção disse que a pausa nos combates que já mataram 900 pessoas segundo a ONU é motivada “por razões humanitárias”. A trégua está programada para terminar neste sábado (8), quando o presidente do país invadido, Félix Tshisekedi, e seu homólogo ruandês, Paul Kagame, participam de uma reunião extraordinária convocada por ambas a Comunidade de Estados da África Oriental (Ceao) e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para tentar negociar um acordo.

O M23 vinha avançando sobre a província congolesa de Kivu do Norte, que reúne lucrativas minas de coltan, ouro e minério de estanho, usados na produção de baterias e aparelhos eletrônicos, nos últimos meses.

Mas a tomada da capital da região, Goma, na segunda passada levou o conflito a um novo patamar, com o M23 ameaçando tomar a capital da RDC, hospitais superlotados e cadáveres se empilhando nas ruas.

O secretário de Comunicação congolês, Patrick Muyaya, afirmou nesta segunda que mais de 2.000 corpos precisavam ser sepultados em Goma.

Organizações de assistência humanitária têm auxiliado as autoridades a aliviar os necrotérios dos hospitais e a enterrar os corpos, mas a área em que isso pode ser feito no município “é extremamente limitada”, disse Myriam Favier, chefe da subdelegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Goma.

A ONU acusa tanto os rebeldes quanto o Exército da RDC de terem ferido os direitos humanos durante os enfrentamentos, praticando execuções sumárias e estupros, entre outros -as partes acusadas não responderam a pedidos de comentário. O Conselho de Direitos Humanos do organismo multilateral anunciou nesta terça que pretende discutir o caso nesta sexta (7).

O M23 é o mais recente de um extenso histórico de movimentos rebeldes apoiados por Ruanda a surgirem na fronteira do país com a RDC. O governo ruandês nega apoiar o grupo, apesar de vários relatórios da ONU terem concluído o contrário.

O grupo armado, por sua vez, diz que existe para proteger a população tutsi da região -muito antes do genocídio de 1994 em Ruanda, representantes da etnia já tinham começado a migrar para países vizinhos para se proteger dos hutus no poder.

Embora os confrontos tenham cessado em Goma, há relatos de que Bukavu, capital da província vizinha de Kivu do Sul, tem sido palco de enfrentamentos nos últimos dias. O M23 afirmou que não pretende avançar contra essa ou outras localidades.

O porta-voz do Exército da RDC, Sylvain Ekenge, se disse cético em relação às declarações do grupo. “O M23 sempre diz uma coisa e faz outra. Eles estão pedindo um cessar-fogo para se reorganizar e reforçar suas fileiras”, afirmou ele.

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