
Um estudo recente apontou que animais selvagens ficam “bêbados” mais vezes do que se possa imaginar. O etanol é encontrado nas frutas fermentadas ingeridas por eles.

Animais selvagens ficam ‘bêbados’ mais do que imaginado, aponta estudo – Foto: Freepik/Reprodução ND
Muitas evidências apontam que os animais consomem esses alimentos de forma acidental. Contudo, cientistas questionam esta suposição em uma pesquisa publicada na Trends in Ecology & Evolution.
Kimberley Hockings é quem lidera o grupo de autores do estudo. Eles argumentam que, como o etanol está naturalmente presente em quase todos os ecossistemas, provavelmente os animais que comem frutas e néctar o consumam regularmente.
“Estamos nos afastando dessa visão antropocêntrica de que o etanol é simplesmente algo que os humanos usam”, explicou Hockings.
De acordo com a pesquisadora, essa situação é mais abundante no mundo natural do que era imaginado anteriormente. “A maioria dos animais que comem frutas açucaradas serão expostos a algum nível de álcool”, comentou.

Frutas fermentadas podem causar “embriaguez” em animais silvestres – Foto: Jonas Kakaroto/unsplash/ND
Estudo aponta como consumo de frutas pode “embriagar” animais silvestres
Conforme a pesquisa, o etanol se tornou abundante há cerca de 100 milhões de anos, quando as plantas com flores começaram a produzir néctar açucarado e frutos que a levedura poderia fermentar. Atualmente, essa fermentação está presente em quase todos os ecossistemas.
Na maioria das vezes, as frutas fermentadas naturalmente atingem apenas 1 a 2% de álcool por volume, mas concentrações tão altas quanto 10,2%, semelhantes às cervejas de alto teor alcoólico, foram encontradas em frutos de palma maduros demais no Panamá.
De acordo com o estudo, os animais possuíam genes capazes de decompor o etanol antes que as leveduras começassem a produzi-lo. Porém, há evidências de que a evolução aperfeiçoou esta capacidade para mamíferos e aves que consomem frutas e néctar .
“Do ponto de vista ecológico, não é vantajoso ficar bêbado enquanto sobe em árvores ou rodeado de predadores à noite. Essa é uma receita para que seus genes não sejam transmitidos”, comentou Matthew Carrigan, coautor do estudo.
Conforme os autores, não ficou claro se os animais consomem etanol intencionalmente apenas por consumi-lo, sendo preciso realizar novas pesquisar para entender o impacto disso na fisiologia e na evolução animal.
O grupo de pesquisadores ainda explicou que o consumo de etanol é positivo aos animais silvestres, sendo fonte de calorias e com benefícios medicinais.
“Do ponto de vista cognitivo, foi proposta a ideia de que o etanol pode ativar o sistema de endorfina e dopamina, produzindo uma sensação de relaxamento que pode trazer benefícios em termos de sociabilidade, acrescentou a ecologista comportamental e coautora, Anna Bowland.
A equipe agora planeja apurar as implicações que a ingestão de frutas fermentadas causa no comportamento e sociabilidade de primatas.