Afilhada de Joelma, Zaynara molda tradição do brega paraense para a geração Z

zaynara

ISABELA YU
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Aos 23 anos, a cantora paraense Zaynara ganhou o apelido de “princesinha do beat melody” por ser a principal representante do estilo musical para o resto do país. Como um subgênero do brega paraense, o beat melody une elementos do tecnomelody e calypso na sonoridade criada a partir das batidas eletrônicas.

“Todos eles têm a célula do brega paraense. Enxergo o beat melody como uma continuação dessa tradição. A diferença está em quem faz a música”, afirma Zaynara. Inclusive, Joelma, rainha do calypso, é a sua madrinha artística.

A admiração mútua entre elas resultou na balada “Aquele Alguém”, divulgada em outubro. Além dela, Zaynara bebe do trabalho de Viviane Batidão, Gaby Amarantos, Dona Onete, Fafá de Belém e Luê.

“Me considero uma mulher determinada, sonhadora, que está em constante descoberta de si mesma e que corre atrás dos seus sonhos. Ninguém tem o direito de diminuir a forma como as mulheres se expressam ou pensam”, pontua a cantora. No seu trabalho, dois pontos principais estão conectados: a saudação à ancestralidade amazônica está amarrada com as vivências da mulher jovem e independente.

Somando milhares de reproduções nas plataformas, “Sou do Norte”, lançada em abril de 2024, exalta a cultura paraense e celebra as raízes do povo tupinambá. “Eu vivo entre os rios, as matas e acredito nas crenças da floresta. Isso me ajuda a entender as minhas emoções”, reflete sobre a faixa. Já “Quem Manda em Mim”, outra favorita do público, integra o disco “É Beat Melody” (2022), e carrega a mensagem de empoderamento feminino.

Nascida na cidade de Cametá em 2001, Zaynara cresceu acompanhando a rotina de ensaios e shows do pai, Nildo Assunção, baterista da Banda Invencíveis. Com o apoio familiar, ela estudou nutrição na faculdade, enquanto dava os primeiros passos na música. A estreia oficial aconteceu no EP “Traz o Nosso Amor de Volta” (2021), e desde então soma um disco, além de colaborações com Pabllo Vittar, Luê e Felipe Cordeiro.

A artista integra a linhagem de cantoras que furaram a bolha regional para ganharem projeção no resto do país. O cenário de destaque vem sendo construído há décadas, mas alcançou novos patamares por conta dos debates acerca da crise climática e das disputas do território amazônico. Em novembro, Belém do Pará será sede da COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.

“Tanto o Brasil, quanto o resto do mundo está atento a nossa arte, vivemos um momento onde os olhares estão voltados para a nossa pluralidade cultural”, reflete Zaynara. Há uma grande responsabilidade em carregar essas bandeiras, mas isso passa longe de ser um fardo, pois ela enxerga como uma missão de vida.

“Acho legal o meu trabalho ganhar reconhecimento, mas me vejo como um canal de exaltação à música nortista, é o motivo pelo qual eu faço a minha arte. Isso incentiva e potencializa os movimentos culturais que acontecem na minha região”, define a cantora.

Na lista de objetivos a longo prazo estão emplacar músicas em trilhas sonoras de novelas, se apresentar no palco Mundo do Rock in Rio e ser indicada ao Grammy. Mas fora isso, ela almeja transformações coletivas: “Sonho em poder impactar as pessoas sobre questões urgentes da região amazônica, principalmente relacionadas ao meio-ambiente”.

O ano de 2024 foi um divisor de águas na sua carreira. Além de levar para casa o troféu de artista revelação nos prêmios Multishow e Women’s Music Event, ela garantiu um contrato com a Sony Music para o lançamento do segundo álbum. “Em apenas um ano eu realizei sonhos que achei que iam demorar um pouco mais para acontecer”, comenta a artista.

No meio tempo, se prepara para apresentar prévias da nova fase nos próximos meses. Inclusive, esse será o momento de introduzir a faceta compositora: “Sou exigente comigo mesma, levo a sério assinar uma música como Zaynara. Demorei bastante tempo para ter a coragem de falar com as minhas próprias palavras”.

E quais temas a inspiram? “A força da floresta, o curso dos rios do meu Pará, a região amazônica e o Baixo Tocantins”. Mesmo com os grandes planos no horizonte, ela mantém os dois pés no chão porque sabe que as rotas podem mudar a qualquer momento na indústria da música -e voltar para casa será sempre uma opção.

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