Ideia do governo faz indústria cogitar, de novo, importação de café

DAVID LUCENA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A proposta do governo de reduzir alíquotas de importação para ajudar a baratear os alimentos tem feito a indústria voltar a discutir a importação de café verde, mas analistas criticam a ideia e dizem que a medida não teria nenhum impacto no preço.

No setor, a possibilidade de importar café verde volta ao debate de tempos em tempos, mas sempre enfrenta forte resistência de produtores rurais.

Via de regra, o Brasil não permite a importação dos grãos crus. Em casos excepcionais, pode-se trazer, desde que seja para industrializar café destinado à exportação, por meio de um regime aduaneiro conhecido como drawback.

Presidente da associação que representa os industriais, Pavel Cardoso diz que, “uma vez a indústria tendo disponibilidade de trazer cafés de players pontuais”, a ideia poderia ser considerada como um “extremo necessário”.

“Havendo essa convergência de todo o ecossistema de café por essa sugestão do governo, a Abic [Associação Brasileira da Indústria de Café] se disponibilizaria a mobilizar os nossos associados e conversar a respeito”, diz Cardoso.

Ele afirma, contudo, que, caso a ideia fosse levada adiante, o café café importado “teria que vir revestido de políticas agrícolas para que não afetasse o produto brasileiro e garantisse a questão da segurança sanitária, (…) para não trazer nenhum desconforto para nenhum dos elos da cadeia”.

Especialistas, no entanto, dizem que a medida não seria eficaz. Segundo Eduardo Carvalhaes, analista de mercado do Escritório Carvalhaes, não há café no mundo, uma vez que os outros grandes produtores também enfrentam escassez em decorrência de adversidades climáticas.

Além disso, ele pondera que a medida poderia fazer as cotações aumentarem ainda mais nas Bolsas internacionais. “Imagina o sinal que seria enviado para o mundo de que o maior produtor do mundo está precisando importar café?”, questiona.

O presidente do Conselho Nacional do Café, Silas Brasileiro, vai na mesma linha. “A produção de café em todo o mundo foi atingida pelas adversidades climáticas, assim como no Brasil”, diz Silas. “Portanto, não existem fornecedores que poderiam ofertar café com preços menores.”

“A solução para baratear os alimentos seria reduzir a incidência do imposto interno, pois a tributação do café torrado e moído, como em outros produtos, é elevada. Incidência de PIS, Cofins, IPI, ICMS, tudo isso eleva o preço do café para o consumidor”, diz.

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