No DF, endividamento das famílias recua pelo sexto mês consecutivo em dezembro

Maiara Marinho
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O índice de endividamento das famílias no Distrito Federal registrou uma queda de 1,2 ponto percentual em dezembro de 2024, em comparação a novembro, passando de 68,9% para 67,7%. Este é o sexto mês consecutivo de redução. Em números absolutos, o total de famílias endividadas diminuiu de 731 mil para 718 mil, segundo dados da Fecomércio/DF concedidos com exclusividade ao Jornal de Brasília.

De acordo com Matheus Silva de Paiva, professor de Economia da Universidade Católica de Brasília (UCB), famílias endividadas são aquelas que possuem algum tipo de dívida — mesmo que os pagamentos estejam em dia, como um empréstimo, financiamento ou outra forma de crédito.

Por esse motivo, o professor acredita que o resultado divulgado pela Fecomércio/DF, com base nos dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), reflete uma diminuição no consumo das famílias, já que a redução do índice geral de endividamento indica que as pessoas estão contratando menos dívidas em relação ao período anterior.

“Isso se deve, principalmente, às altas taxas de juros, que geram cautela nos tomadores de empréstimos”, explica. Segundo ele, quando a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, está alta, o custo das dívidas aumenta, reduzindo a demanda por empréstimos e financiamentos. Assim, a diminuição no número de endividados pode ser um reflexo de dificuldades financeiras ou de um esforço maior para economizar.

Na comparação com dezembro de 2023, a proporção de famílias endividadas caiu de 79,9% para 67,7% em dezembro de 2024. Por outro lado, a inadimplência continua a crescer. Em dezembro de 2023, 20,9% das famílias tinham contas atrasadas; já em dezembro de 2024, esse percentual subiu para 40,7%. Entre novembro e dezembro de 2024, a inadimplência passou de 39,8% para 40,7%.

Em números absolutos, dezembro de 2024 registrou 718.446 famílias endividadas no Distrito Federal, 432.358 famílias inadimplentes e 221.246 famílias sem condições de pagar suas dívidas no mês seguinte, ou seja, janeiro de 2025. Entre os principais tipos de dívidas estão cartão de crédito (64,9%), crédito pessoal (14,7%), financiamento imobiliário (13,5%) e financiamento de veículos (11,3%), entre outros.

A maior parte das famílias inadimplentes (56,7%) enfrenta essa situação há mais de 90 dias. Os dados indicam que, enquanto aumenta o número de famílias sem dívidas, cresce também o número de famílias que se consideram muito endividadas. Entre as famílias sem dívidas, a maioria (51,5%) possui renda superior a 10 salários mínimos, enquanto 34% têm renda de até 10 salários mínimos.

Comparado ao índice nacional, onde o endividamento é de 76,7%, o DF apresenta um nível 9 pontos percentuais inferior. “Há muitas características heterogêneas entre os estados brasileiros, o que dificulta determinar com precisão por que o índice de endividamento no DF é 9 p.p. menor que a média nacional”, comenta o professor.

Fecomércio/DF

O presidente do Sistema Fecomércio/DF, José Aparecido Freire, destaca que, além da redução expressiva no nível de endividamento das famílias, há uma estabilização da inadimplência.

“Embora o patamar de inadimplência ainda seja elevado, os dados refletem cautela e boa gestão das dívidas pelas famílias”, comenta. Segundo ele, isso pode contribuir para equilibrar as vendas no varejo nos próximos meses.

Freire aponta que o aumento de inadimplentes foi de apenas 0,9% de novembro para dezembro de 2024, acompanhado de uma redução de 0,4% no número de famílias que não poderão pagar suas dívidas no mês seguinte, além da queda de 1,2% no total de famílias endividadas.

Deixando a inadimplência

Na edição publicada em novembro de 2024, que avaliava os resultados de outubro sobre o endividamento no Distrito Federal, o Jornal de Brasília conversou com uma jornalista de 31 anos, que não quis se identificar. Na ocasião, ela estava com uma dívida de mais de R$ 140 mil com uma instituição bancária, o que a levou à inadimplência.

No dia 10 de janeiro, alguns meses depois, com um desconto de 98%, ela quitou o débito ao pagar R$ 2.644,62 — valor inferior ao saldo devedor inicial, que era de R$ 4.266,20. A negociação foi feita diretamente com o banco.

“É uma sensação de muito alívio, sabe? Como se eu tivesse retomado o rumo da minha vida. Existia um sentimento de vergonha e fracasso em razão da dívida”, comentou. Para ela, os benefícios de quitar dívidas incluem recuperar o crédito e a possibilidade de planos a longo prazo, como o de planejar a compra de uma casa ou de um carro.

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