Autotestes de FSH são vendidos nas farmácias como meio de detectar a menopausa

A ginecologista e coordenadora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro, Maria Cândida Bacarat, dá mais detalhes sobre o assunto

GIULIA PERUZZO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Testes rápidos são um meio popular e muitas vezes acessível de descobrir alguns diagnósticos, como a gravidez, a Covid e até a menopausa. De funcionamento muito semelhante aos já encontrados há anos no mercado gestacional, os testes para avaliar se uma mulher entrou ou não no marco do climatério medem os níveis hormonais em uma amostra de urina.

Quem rege esse resultado é o hormônio folículo-estimulante (FSH), responsável por regular o sistema reprodutivo de homens e mulheres. Quando ele é encontrado em grandes quantidades na urina, pode indicar a menopausa ou a pré-menopausa. No autoteste, se os níveis estiverem acima de 25 mUI/ml, ele dá positivo.

Se a mulher ainda tiver menstruações mensais, deve realizar o teste entre o 2º e o 7º dia do ciclo menstrual, de acordo com a RD Saúde, empresa que engloba as redes de farmácia Drogasil e Droga Raia e a marca Needs. Se não menstruar mais, o teste pode ser realizado em qualquer período.

Apesar da facilidade e rapidez do resultado, especialistas afirmam que os autotestes não devem ser a única ferramenta usada para fechar um diagnóstico concreto. José Maria Soares Júnior, chefe do departamento de obstetrícia e ginecologia e coordenador do ambulatório de climatério da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), atenta para o risco de um falso diagnóstico: “um diagnóstico inadequado também pode levar paciente a uma falha, às vezes na contracepção, e uma gravidez inadvertida”, fala.

O risco de uma gravidez indesejada em idade avançada é um dos problemas de se ter um resultado equivocado em relação à menopausa. Isabel Cristina Sorpreso, coordenadora do ambulatório de climatério da FMUSP e da atenção primária à saúde da mulher em ginecologia da mesma instituição, aponta que um resultado laboratorial sem a avaliação clínica pode levar à mulher ao desespero, o que prejudica a saúde mental e o acompanhamento médico adequado.

“O diagnóstico do climatério, da menopausa, é clínico. Ele se dá a partir da ausência da menstruação associada a outros sintomas”, complementa a médica. “Eles [os autotestes] são complementares ao diagnóstico ou vão fazer diagnósticos diferenciais.” Os diagnósticos diferenciais são aqueles onde a mulher apresenta sintomas relacionados à menopausa, mas a partir do resultado negativo do exame pode-se investigar outras causas.

O QUE É A MENOPAUSA?

A menopausa é o marco da última menstruação da vida da mulher, que é seguida de pelo menos 12 meses sem ter nenhum outro sangramento. Já o climatério é o que vem antes e depois desse período. “É uma fase da vida da mulher que pode ir dos 40 aos 65 anos”, indica José Maria. “Esse período é dividido entre a transição para a menopausa e a pós-menopausa.”

É nessa fase que aparecem os sintomas mais comuns relacionados ao que chamamos de menopausa: ondas de calor, sudorese, irritabilidade, alterações no sono, distúrbios de humor, disfunções de assoalho pélvico e de saúde sexual.

Existe também a possibilidade de a menopausa ocorrer antes ou depois do esperado. “Entre os 40 e 55 anos, chamamos de menopausa oportuna. Entre os 40 e os 45 é uma menopausa precoce e a tardia acontece após os 56 anos”, explica Isabel. Isso pode acontecer por diversas causas, mas José Maria aponta que, na maior parte das mulheres que têm a menopausa precoce, não se sabe o motivo.

“Existe também o fator genético, em grande parte das mulheres a mãe também teve [menopausa precoce]. Tem também causas genéticas cromossômicas como a Síndrome de Turner, a ocorrência de doenças infecciosas, como a caxumba, doenças reumatológicas, insuficiência ovariana temporária ou à cirurgia de retirada dos ovários. Mas a maior parte é idiopática, que não se sabe a causa”, afirma o médico.

COMO LIDAR COM A MENOPAUSA?

Ambos os especialistas advertem que assim que começarem os sintomas, principalmente se há casos familiares de entrada precoce no climatério, um médico deverá ser consultado para o diagnóstico clínico e tratamento adequado.

O tratamento mais comum após a menopausa é a reposição hormonal. Para Isabel, essa terapia traz benefícios como “alívio dos sintomas, redução das disfunções urogenitais, melhora da qualidade da massa óssea e muscular. E outros benefícios relacionados também a humor e cognição”.

Além da importância do tratamento medicamentoso, ela afirma que a mudança de hábitos e a promoção da saúde é fundamental para a manutenção da qualidade de vida da mulher. “A redução de 30% de consumo de alimentos processados e ultraprocessados diariamente, optando por alimentos in natura ou caseiros. Realização de 150 a 300 minutos de atividade física por semana”, recomenda.

Com as alterações hormonais, é importante também olhar para a saúde mental e socialização durante o período do climatério. Optar por realizar as atividades físicas ao ar livre e de maneira coletiva podem auxiliar no sentimento de solidão e melancolia, além de buscar uma rede de apoio.

“O estilo de vida vai determinar se você vai ter uma vida saudável. A terapia hormonal é uma parte, mas quem determina a própria vida e a própria saúde é a paciente”, enfatiza José Maria. “Essa é uma fase da vida que te prepara para o envelhecimento.”

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