Túmulo de Eunice Paiva vira símbolo histórico e atrai mais de cem visitantes em SP

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RAÍSSA BASÍLIO E ALLISON SALES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Na manhã deste domingo (26), mais de cem pessoas se reuniram no cemitério do Araçá, em São Paulo, para uma visita guiada em homenagem a Eunice Paiva e outras personalidades brasileiras. O passeio “Araçá e Suas Vozes”, organizado pela historiadora Viviane Comunale, 48, e pelo pesquisador Thiago de Souza, 45, idealizador do projeto “O que te assombra?”, explora as memórias e histórias presentes no local.

Eunice Paiva, que morreu em 2018, aos 89 anos, é retratada no filme “Ainda Estou Aqui”, indicado ao Oscar em três categorias: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, para Fernanda Torres.

A obra resgata a trajetória da advogada, mulher de Rubens Paiva, desaparecido na ditadura militar, destacando a luta por justiça e direitos humanos.

Thiago de Souza, que conduz as visitas, vê em Eunice Paiva um símbolo de resistência e preservação da memória.

“Ela se transformou em um monumento à memória do país, não apenas por sua busca pela verdade sobre o desaparecimento de seu marido, mas também pela defesa dos direitos humanos e da democracia”, diz.

O pesquisador descobriu a presença de Eunice no Araçá após uma publicação no Instagram feita por Fernanda Torres. “Fico chateado por não saber disso antes, mas o timing é perfeito, especialmente no momento atual, em que debatemos democracia e memória”, comenta.

A história de Eunice Paiva também destaca a importância do luto como processo de cura e resistência. Durante a visita, Thiago e Viviane ressaltam que os rituais de despedida, como velórios, são fundamentais para aqueles que ficam.

“Os processos de luto são essenciais, e cada pessoa precisa de seu tempo para vivenciá-los”, explica Thiago. Somente em 1996, 25 anos após o desaparecimento de seu marido, ela obteve a certidão de óbito dele. O corpo de Rubens Paiva nunca foi encontrado.

“Encerrar os ciclos de luto é essencial. Muitas pessoas são privadas desse direito, e a luta de Eunice nos ensina sobre a necessidade de honrar essas histórias”, conclui o pesquisador.

Entre os visitantes, Edson Vital, 81 anos, aposentado, compartilha sua conexão com a história de Eunice. “Assisto ao filme há três meses e fico muito emocionado. Vivi essa época, tinha cerca de 20 anos. Não me envolvi em movimentos estudantis, mas vi muitas pessoas sofrerem. Fico feliz em conhecer essa história e em participar desta experiência”, conta.

Fabiana Petreli, 40, cobradora de ônibus, vê no passeio uma oportunidade de reconectar-se com memórias familiares. “Descubro este evento pelo Instagram. Minha família tem jazigo aqui, e meu pai sempre me trazia. Depois que ele faleceu, há 12 anos, comecei a vir sozinha. Encontro aqui paz e inspiração”, diz.

Ela diz ter sido atraída agora pela história de Eunice Paiva, que conheceu após a repercussão do filme.
“O cemitério é um grande contador de histórias. Por meio das biografias aqui preservadas, refletimos sobre valores como memória, justiça e humanidade”, defende Thiago de Souza.

Além de Eunice Paiva, o passeio destaca obras de arte de escultores renomados, como Victor Brecheret, Eugênio Prati e Gildo Zampol. A visita também passa pelos túmulos do “Menino Guga”, conhecido como o milagreiro do Cemitério do Araçá, o mausoléu do Sargento Barbosa, em processo de canonização, e as sepulturas de figuras como as atrizes Cacilda Becker e Nail Bello, o jogador Dener, a poeta Francisca Júlia, além do empresário Assis Chateaubriand, entre outros.

Serviço
“Araçá e Suas Vozes”, acontecerá novamente no domingo, 16/2, às 10h, no Cemitério Araçá, Avenida Doutor Arnaldo, 666 – Pacaembu. Inscrições e informações no perfil @oqueteassombra no Intagram. Grátis.

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