Trem para aeroporto de Guarulhos entra em fase de pré-operação

aeroporto guarulhos

FÁBIO PESCARINI E ADRIANO VIZONI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O “people mover” aeromóvel, como é chamado o sistema de trem que ligará a estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) aos terminais do aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, percorreu neste domingo (26) cerca de 100 km de testes de pré-operação.

Ao todo, a via suspensa com trilhos tem 2,7 km de extensão com quatro estações, uma ligada à do trem metropolitano e outras em cada um dos três terminais do aeroporto internacional. Quando o sistema estiver inaugurado, esse trajeto final será feito em aproximadamente seis minutos.

A reportagem viajou em dois percursos inteiros do trajeto -o jornal é o primeiro veículo de imprensa a acompanhar os testes de pré-operação, com paradas técnicas que deixaram o tempo de percurso mais longo.

Nesta fase de testes, o trem é monitorado como se estivesse em operação normal, com parada em cada uma das estações, simulando o tempo necessário para saída e entrada de passageiros.

Havia cerca de 20 pessoas no trem, entre convidados, engenheiros e técnicos da Aerom Sistemas de Transporte, empresa responsável pelo projeto, que há uma década já faz esse mesmo tipo de deslocamento no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

A operação ao público deveria ter sido começado no primeiro semestre de 2024, mas atrasou. Depois, o prazo passou para o segundo semestre do ano passado, o que não ocorreu. No último dia 17, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) publicou em suas redes sociais que a inauguração deverá ocorrer em março, mas o prazo ainda não está confirmado porque a certificação ainda não foi concluída.

Por causa do atraso, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) afirma que a GRU Airport, responsável pelo aeroporto de Guarulhos, pode ser multada. Procurada sobre prazos, a concessionária disse que não havia novidade.

A certificação exigida em contrato é a mesma de metrôs no exterior ou para instalação de usinas nucleares, dizem Hulbéia Ribas, gerente de segurança, e Marcus Coester, CEO da Aerom, empresa com sede no Rio Grande do Sul.

Desde o último dia 12, a operação assistida ocorre durante o período de seis horas aos domingos. Em fevereiro, a expectativa é que os testes sejam feitos durante dez horas e, na sequência, aos sábados e domingos. “Estamos na fase de ajuste fino”, diz o engenheiro Diego Abs.

No mês que vem, passageiros interessados em acompanhar a fase experimental do aeromóvel poderão se cadastrar pela internet.

Não houve nenhum problema nas viagens acompanhadas pela reportagem neste domingo. O trem -que é operado remotamente a partir de uma sala com mais de cem câmeras de monitoramento em um prédio junto à estação da CPTM- oscilou velocidades de 20 km/h a 60 km/h, conforme exibido um um tablet e em um laptop nas mãos de técnicos e engenheiros dentro do trem.

O veículo foi estável em trilhos sinuosos instalados em vigas com mais de 4 metros de altura e, próximo ao terminal 3 do aeroporto, em um aclive de 5% (na volta), um dos desafios do projeto.

O trem, que circula por meio de propulsão pneumática, é composto por dois carros articulados que pesam 16 toneladas e deverá levar até 200 passageiros por viagem. Eles chegam a 24,7 metros e rodam em dois trilhos, como se fossem trens convencionais.

O veículo é silencioso e basicamente se ouve apenas o barulho dos trilhos. Há assentos para pessoas sentadas, espaços no chão para bagagens e grandes vãos para quem viajar em pé. O pequeno tranco na saída semelhantes ao de um metrô. Em caso de pane, abrem-se portas nas duas pontas do aeromóvel e as pessoas poderão andar pelo trilho sem risco de choco elétrico. “Mas em Porto Alegre nunca houve nenhum problema assim”, diz o CEO.

Quando estiver em funcionamento, será equipado com wi-fi e monitores informativos.

As estações estão totalmente prontas e sinalizadas. Há portas automáticas em cada uma delas e que só abrem após a abertura das do veículo parado.

“Todo o projeto prevê redundância de segurança. Há, por exemplo, dois sistemas de freios, um pneumático e outros nas rodas”, afirma Coester.

O custo total foi estimado no no ano de 2023 em pouco mais de R$ 30 milhões. O pagamento é custeado com recursos da outorga da concessionária. O contrato de operação da Aerom é de dez anos, depois o sistema passa para a União.

A operação comercial deve ter início aos poucos, com ampliações de horários para a saída dos trens.

Serão dois trens circulando simultaneamente (por enquanto, apenas um roda nos testes operacionais) e um ficará como reserva, mas com um rodízio.

Atualmente há duas opções para se chegar pelo sistema ferroviário ao aeroporto de Cumbica. Uma delas é a linha 13-jade, com saída da estação Engenheiro Goulart, na zona leste de São Paulo.

A outra alternativa é o Expresso Aeroporto, que também circula na linha 13, a partir da estação Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, com embarque de hora em hora. Nos dois casos, a tarifa custa R$ 5,20. O acesso ao aeromóvel é gratuito e ele poderá ser usado, inclusive, para o deslocamento de pessoas entre os terminais.

O “people mover” precisou ser construído porque a estação da CPTM não chega ao aeroporto. O transporte aos terminais atualmente é feito em ônibus.

No anúncio do início das obras, o então governador João Doria (hoje sem partido, na época no PSDB) disse ser “bizarra” a desconexão entre a linha 13-jade e o aeroporto de Cumbica.

“Não faz sentido transporte público que não leva até o aeroporto. É tão bizarro que é difícil acreditar que isso tenha sido feito no estado de São Paulo”, disse Doria.

A estação Aeroporto-Guarulhos chegou a ser prometida para a Copa do Mundo de 2014, mas só foi entregue em 2018.

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