‘Praias’ em SP, ironizadas por cariocas, são refúgio no calorão

ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Para um carioca, chamar de praia uma estrutura montada embaixo de um viaduto pode ser uma ofensa.

No ano passado, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), ironizou um evento da Sabesp chamado “prainha paulistana” às margens do rio Pinheiros.

Nas imagens que viralizaram nas redes sociais, o local parecia vazio, com lixo boiando e pernilongos. O gestor aproveitou a chacota do evento para fazer um convite. “É tão mais fácil vir para o Rio. Vocês serão felizes aqui e amamos vocês. Só chegar”, escreveu Paes à época.

O evento da Sabesp terminou em meados de dezembro, mas outras opções de praia na capital são refúgio para paulistanos em meio ao verão com os termômetros que marcam temperaturas acima dos 30°C.

No Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, não tem mar. Mas, em um dos cartões postais de São Paulo, foi instalada uma quadra de vôlei com areia, cadeiras de praia e sombreiros. O local, batizado de Praia do Centro, faz parte da programação do Sesc Verão até o dia 23 de fevereiro.

“Quando você fecha o olho, bate uma brisa, dá até para matar uma saudade da praia”, diz a funcionária pública Júlia Marinho, 24, sobre o estande montado. De calça social e salto alto, ela aproveitou o horário do almoço para jogar uma partida de vôlei de areia com o colega de trabalho na última segunda-feira (20), quando os termômetro da cidade registraram 31°C.

Por ali, a aposentada Catia Aparecida, 58, vigiava os dois netos enquanto brincavam na quadra de areia.

Ela vive na avenida 9 de Julho e encontrou no espaço uma opção para os pequenos tomarem um ar fresco em meio às férias.

“No centro, tem pouca opção para criança. Pena que dura só durante as férias”, diz ela que levou os netos todos os dias do fim de semana e na segunda.

Após passarem o dia ali, ela diz que tem que lidar com um probleminha quando volta para casa: a areia que toma conta dos netos. “Daqui, eles vão direto para o banho, ficam cheios de areia”, diz a avó, dando risada.

A mais de 20 quilômetros dali, na praia do Sol, dentro da represa do Guarapiranga, crianças se refrescavam na água da represa, adultos lanchavam nos bares e jovens tomavam sol. A areia do local fica por conta das quadras de vôlei e beach tennis.

Na região da represa, restaurantes e bares na beira da represa anunciam almoços e passeios de lancha e barco. Na entrada, o clima praiano já é visto pelos trajes dos frequentadores.

Por ali, os frequentadores chegam de biquíni, cangas e bonés. Em meio às férias escolares, famílias curtem dias de sol sob a supervisão de salva-vidas, que evitam acidentes entre os visitantes.

A aposentada Daniela Freire, 58, batalhava para manter as sobrinhas na parte rasa da represa. “Elas querem ir para o fundo, mas eu não vou deixar”, dizia ela, que considera a represa um local adequado para se refrescar para quem não tem outra fonte de lazer. Apesar do nome, ela não se sente na praia, apenas em um lugar onde é possível se refrescar.

Na parte do gramado, Laís Sampaio, 40, curtia a tarde de terça-feira (21) na praia pela primeira vez ao lado de uma amiga. Acostumada com praias do litoral de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, ela achou a experiência diferente.

Com placas que indicam perigo de afogamento, ela relata que ficou com medo de entrar na água da represa, mas logo se acostumou. “Achei que fosse mais bagunçado, mas é um ambiente bem familiar”, diz ela, que pretende retornar.

Quem não pretende voltar tão cedo é Silvana dos Santos, 51, que frequenta o local há cerca de 30 anos.

Apesar da natureza, há rastros de lixo doméstico em quase todas as partes do gramado. Para ela, a sujeira incomoda e afirma que vai deixar de ir ao local em decorrência da poluição que avistou na represa.

“Molhei meus pés porque estou morrendo de calor, mas não devo entrar na água. Aqui, sempre teve esse problema, mas está cada vez pior. As pessoas que vem aqui deixam ainda mais sujo”, diz ela, que costuma ir à represa para orar e observar a natureza.

A Folha de S.Paulo questionou a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente sobre a limpeza do local. Por meio de nota, a pasta afirmou que realiza diariamente manejo e zeladoria do espaço.

Ainda afirmou que vai “intensificar as ações de conscientização para orientar os munícipes sobre a importância do descarte correto de resíduos, visando a preservação do espaço e a convivência sustentável”.

A limpeza da represa e das margens, segundo informa a gestão municipal, é realizada no âmbito do Programa Nossa Guarapiranga, “com o objetivo de preservar o espelho d’água e garantir os usos múltiplos desse importante recurso hídrico”.

“A operação é conduzida pela Sabesp, que utiliza barreiras flutuantes para conter os resíduos e realiza a coleta e transporte náutico até uma área designada. A partir desse ponto, a concessionária Ecourbis é responsável pela coleta e transporte dos resíduos para disposição final em aterro sanitário”, explica a pasta, que detalha que a coleta ocorre às segundas, quartas e sextas-feiras, no período noturno.

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