Grupo Globo, esquerda e extrema direita

(Imagem: Gerd Altmann/Pixabay)

Neste ano, o Grupo Globo – principal conglomerado de mídia do Brasil e um dos maiores do planeta – completa um século de existência. Desde sua fundação por Irineu Marinho, chegando aos dias atuais, tudo que remete à marca Globo está a serviço dos interesses do grande capital e da manutenção do status quo. Ou seja, ideologicamente à direita no espectro político.

Nessa lógica, os governos populares de Getúlio Vargas, João Goulart, Lula e Dilma Rousseff, em suas respectivas épocas, foram duramente atacados por jornal O Globo, Rádio Globo e Rede Globo.

Com tal histórico, é natural que, ao longo das décadas, as maiores críticas ao Grupo Globo tenham vindo da esquerda política. Qualquer força progressista que se preze tem na empresa da família Marinho alvo privilegiado de suas críticas e questionamentos. Daí o clássico grito, ecoado em ruas Brasil afora: “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

No entanto, por uma dessas ironias tupiniquins, o centenário do maior conglomerado de mídia do Brasil tem sido marcado pelo melhor momento da relação entre Globo e esquerda. Atualmente, não é a esquerda, mas a extrema direita, a voz que mais se insurge contra o Grupo Globo no debate público.

Alguns fatores nos ajudam a compreender essa estranha realidade. Primeiro, a adesão da Rede Globo à cultura woke (também conhecida como identitarismo), suposta agenda de defesa de determinadas minorias sociais (negros, mulheres, homossexuais etc.). Desse modo, a falsa impressão de que a programação da emissora está contemplando a “diversidade” leva setores da esquerda a acreditarem que a maior emissora de televisão do país, enfim, adotou uma postura progressista.

Já no campo político, o Grupo Globo conseguiu emplacar o discurso de “defensor da democracia” contra o “fascismo” (representado pelo espantalho do bolsonarismo). Nessa (falsa) dicotomia, parcela considerável da esquerda adere de maneira acrítica aos conteúdos divulgados nos noticiários dos veículos de comunicação da família Marinho acreditando estar combatendo o “perigo autoritário”.

Inclusive, os mais empolgados, apesar de reconhecer que há articulistas conservadores na GloboNews – como Demétrio Magnoli e Merval Pereira – sugerem que há articulistas “progressistas” na emissora, a exemplo de Octavio Guedes, Flávia Oliveira, Guga Chacra e Natuza Nery.

A proximidade da esquerda com o Grupo Globo também está presente nas linhas editoriais da chamada “imprensa progressista”. Não tem sido raro observamos que veículos alternativos – outrora críticos ferrenhos do conservadorismo do Grupo Globo –, agora funcionem como espécies de correias de transmissão de matérias produzidas por Jornal Nacional, G1, Estúdio i e afins. Em outros termos, o Grupo Globo tem pautado a imprensa de esquerda (sobretudo em matérias que, supostamente, são contrárias ao bolsonarismo).

Em suma, é lastimável constatar que, num ano tão emblemático como o do centenário do Grupo Globo, grande parte da esquerda esteja a reboque da agenda de um conglomerado de comunicação que tantos efeitos nefastos trouxe ao Brasil. O que é pior: como dito anteriormente, ser crítico ao Grupo Globo quase virou sinônimo de ser de extrema direita (e todos os delírios habituais desse campo ideológico, como considerar a Rede Globo como “esquerda”, “marxismo cultural” ou “adepta da nova ordem mundial”).

Enfim, mais do que nunca, não podemos permitir que o histórico bordão “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo” seja substituído pela hashtag “Globo Lixo”.

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Francisco Fernandes Ladeira é Professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Doutor em Geografia pela Unicamp e Especialista em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu.

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