A pressa e a preguiça na mídia: o declínio das grandes histórias no jornalismo brasileiro

(Imagem: Haynie C./Pixabay)

Parece duro o que vou compartilhar com vocês, mas sinto cada vez mais falta de grandes histórias no jornalismo brasileiro. E de histórias diversificadas também. Talvez isso ocorra pela pressa que a sociedade exige ou pela busca de sustentabilidade nas redações e produções independentes. Os profissionais estão se voltando à teoria do agendamento (em que a mídia pauta os assuntos discutidos pela opinião pública) para justificar produções preguiçosas.

Atualmente, nas salas de aula de jornalismo, as disciplinas e seus conteúdos concorrem em tempo real com as informações consumidas digitalmente. Os futuros jornalistas estão acoplados aos seus aparelhos celulares, com uma vida social e digital que duela diretamente com o aprendizado de técnicas básicas. A melhor opção para coletar, analisar e produzir informações tem sido a mais rápida e, infelizmente, não a mais completa. E o que seria essa completude? Saborear cada etapa da produção jornalística de forma lenta e prazerosa.

Prazer. Talvez isso esteja em falta no meio jornalístico hoje. O prazer pela profissão, pelo entendimento de que nosso trabalho deve impactar e transformar vidas. Mas como fazer isso se não se pensa no novo? No diferente? Vemos a mídia cada vez mais pautando a própria mídia. E é claro que vai continuar; precisa até. Temos que falar sobre o que importa, fazer barulho onde ninguém faz. Mas usar uma teoria para camuflar a preguiça profissional, isso sim é uma falta de prazer tremenda. Temos que buscar novas e grandes histórias. Buscar o nosso próprio prazer, e não esperar por prazeres alheios.

O cenário atual do jornalismo brasileiro é atravessado pela urgência de resultados imediatos e pela necessidade de adaptação às demandas de uma audiência hiperconectada. Isso impacta diretamente a qualidade das reportagens. A produção jornalística se torna refém de tendências momentâneas, muitas vezes às custas da profundidade e da investigação criteriosa. Histórias que poderiam tocar profundamente o público são simplificadas ou ignoradas em favor de cliques e curtidas.

Há também uma questão estrutural nas redações. Com o enxugamento das equipes, jornalistas precisam produzir mais conteúdo em menos tempo. Isso faz com que as grandes reportagens, que demandam tempo e recursos, sejam cada vez menos prioritárias. A busca pela rentabilidade, muitas vezes guiada por algoritmos, reforça o ciclo de superficialidade. O prazer em contar boas histórias é substituído pela pressão de alimentar as plataformas digitais.

A solução passa pela revisão de prioridades. Precisamos resgatar o valor das grandes histórias e da experiência que elas proporcionam ao público. Histórias bem contadas têm o poder de criar conexões emocionais, de inspirar ações e de promover reflexões. Mas isso exige coragem para sair da zona de conforto, para explorar novos formatos e para desafiar a dinâmica frenética das redes sociais.

Nas universidades, os cursos de jornalismo devem reforçar a importância da investigação e da narrativa. Estudantes precisam ser incentivados a experimentar, a questionar padrões e a buscar a essência da profissão. Mais do que isso, é fundamental cultivar a paixão pela verdade e pela busca de histórias que realmente importem.

O jornalismo é uma arte e uma responsabilidade. E como toda arte, exige dedicação, inspiração e prazer. Resgatar as grandes histórias no jornalismo brasileiro não é apenas uma questão de estilo, mas de sobrevivência profissional e de relevância social.

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Henrique Brito é jornalista, graduado pelo Centro Universitário Inta (Uninta), Ceará, com especialização em Gestão de Marketing e Comunicação Integrada. Atualmente, exerce a função de assessor de comunicação e imprensa no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Sobral e atua como docente no curso de Jornalismo do Uninta.

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