Cabral posta vídeo em piscina, e ONG chama de ‘símbolo da impunidade’

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ALÉXIA SOUSA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Um vídeo publicado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral sugerindo filmes para os seguidores assistirem durante o fim de semana gerou repercussão nas redes sociais e até uma nota de repúdio.

Na gravação compartilhada na sexta-feira (17), ele aparece de óculos escuros, dentro de uma piscina com o Pão de Açúcar ao fundo, numa aparição descontraída, típico de influenciadores digitais.

A ONG Transparência Internacional Brasil reproduziu a publicação de Cabral e afirmou que o vídeo “se tornará um símbolo da impunidade brasileira para o mundo”.

O juiz Marcelo Bretas, responsável pela maioria das condenações do ex-governador e que hoje está afastado provisoriamente de seu cargo, comentou a postagem da entidade e escreveu: “Pois é…”.

“Para esse final de de semana, tenho três dicas para você”, disse Cabral no vídeo, citando “filmes que me emocionaram muito ao longo da minha vida”.

Os filmes mencionados são “Blade Runner” (1982), “Cinema Paradiso” (1988) e “Eles Não Usam Black Tie” (1981).

Procurada, a assessoria do ex-governador não se pronunciou sobre a repercussão pública do vídeo.

A Transparência Internacional disse que o ex-governador “ri na cara da Justiça e do povo brasileiro” ao ostentar “o que o Estado não foi capaz de recuperar do que roubou”.

“Os crimes de Sergio Cabral causaram mortes, imenso sofrimento humano, atraso e pobreza. Foram 101 milhões de dólares recuperados em contas no exterior, quase um bilhão de reais do Rio de Janeiro desviados para seu bolso”, afirmou a ONG, voltada ao combate à corrupção no mundo.

O ex-procurador Deltan Dallagnol, que atuou em um dos casos de Cabral que tramitou no Paraná e hoje é filiado ao partido Novo, disse que o ex-governador está “livre, leve e solto, agora como blogueiro” e que o Supremo Tribunal Federal vai gradativamente tirando as condenações “das suas costas”.

O ex-governador, que deixou a cadeia em 2022 após uma série de condenações por esquemas de corrupção investigados pela Lava Jato, mantém seu perfil ativo produzindo conteúdo para seus quase 50 mil seguidores.

Ele tem alternado vídeos na academia, com suas recém-iniciadas aulas de boxe e fotos do período de governo (2007-2014). Também dá dicas de leitura e de séries de streaming. As publicações contam com o apoio de uma especialista em marketing digital.

Cabral ficou seis anos preso preventivamente enquanto respondia a 37 ações penais, 35 relacionadas aos desdobramentos da Operação Lava Jato. Ele permanece com um passivo de 33 processos criminais (32 da Lava Jato).

As penas, somadas, chegaram a ultrapassar os 400 anos de prisão. Com a anulação de sentenças e mudanças na dosimetria, elas agora atingem 274 anos.

O ex-governador é acusado de ter cobrado 5% de propina sobre os grandes contratos de sua gestão. As investigações apontaram contas com cerca de R$ 300 milhões no exterior em nome de laranjas, além de joias e pedras preciosas usadas, segundo o Ministério Público Federal, para lavagem de dinheiro.

Inicialmente, o ex-governador negava as acusações. Dois anos depois da prisão, decidiu confessar os crimes. No fim de 2019, fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, depois anulado pelo STF em maio de 2021. Após sair da prisão, voltou a negar as denúncias.

Em 2023, ele disse em entrevista que gostaria de se candidatar a deputado federal em 2026, porém permanece ainda hoje enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

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