FOLHAPRESS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que pediu ao homólogo Vladimir Putin que ele volte para a política e interrompa a guerra com a Ucrânia. A declaração foi dada em entrevista do brasileiro ao jornalista Jon Lee Anderson, da revista americana The New Yorker.
Na conversa, o petista afirmou ter feito o pedido há algumas semanas, durante uma ligação telefônica.
“‘Putin, acho que está na hora de você voltar para a política. Acabar com isso. O mundo precisa de política, não de guerra. Você faz falta. Não há pessoas suficientes para sentar à mesa e discutir o destino do planeta: O que queremos para a humanidade?'”, disse Lula à revista. A reportagem não traz qual teria sido a resposta do russo ao pedido.
O declaração marca mais uma tentativa de mediação do conflito por parte do político brasileiro. Ao longo dos primeiros meses de seu terceiro mandato, Lula fez por mais de uma vez declarações sobre a Guerra da Ucrânia -algumas das quais protagonistas de rusgas com parceiros do Ocidente.
Em muitos casos, ele equiparou as responsabilidades de Moscou e de Kiev, apesar de a invasão territorial ter partido da Rússia. O brasileiro também chegou a enviar seu assessor para política externa, o ex-chanceler Celso Amorim, a Moscou. No Palácio do Kremlin, o diplomata se reuniu com Putin e alguns assessores do presidente russo para falar sobre o conflito.
Meses depois, pressionado por críticas de que privilegiava o diálogo com a Rússia, Lula também enviou Amorim a Kiev, onde o ex-chanceler esteve com Volodimir Zelenski e com representantes da chancelaria ucraniana.
Em outras oportunidades, Lula também afirmou que a guerra foi um erro histórico da Rússia e voltou a mencionar uma proposta de clube da paz e disse que não pretende enviar munições para a Ucrânia, como já foi solicitado pela Alemanha. “Eu não quero entrar na guerra, eu quero acabar com essa guerra.”
O presidente brasileiro está em Moscou para as celebrações russas dos 80 anos da rendição da Alemanha nazista na Segunda Guerra. A agenda de Lula prevê um jantar e um concerto no Kremlin na noite desta quinta-feira (8), além de uma reunião bilateral com Putin, em que está prevista assinatura de acordo.
Lula também falou à New Yorker sobre as relações com o presidente Donald Trump e criticou os Estados Unidos e a Rússia pelo desejo de dominar estados vizinhos. “Por que a Rússia e os EUA querem aumentar seus territórios se não conseguem nem administrar o que já têm?”, questionou o brasileiro.
O presidente voltou a afirmar que haverá reciprocidade na taxação de produtos dos Estados Unidos, após o governo americano anunciar tarifa de 25% sobre o aço brasileiro. Contudo, Lula garante que antes disto, o Brasil vai buscar uma negociação diplomática: “Se não houver possibilidade, tomaremos medidas”, acrescentou.
Sobre o republicano, o petista disse não ter conversado com ele até agora, e que não tem interesse em fazer isso, mas não descartou tomar a iniciativa, se necessário. “Se, como representante do Estado americano, ele quiser falar com Lula, o representante do Estado brasileiro, falarei com ele com calma. (…) Se eu tiver algum problema e precisar ligar para ele, eu ligo.”