Chuva forte no DF causa estragos em várias regiões

Por Camila Coimbra
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A previsão do tempo para o Distrito Federal nos próximos dias indica a continuação das chuvas intensas e seus riscos, como os de alagamento que causaram prejuízo para os moradores da capital federal neste final de semana. Nesta terça-feira as temperaturas em Brasília variam entre 19°C e 24°C, com possibilidade de chuvas que podem atingir até 40,1 mm, o maior volume esperado nos próximos cinco dias. O céu permanece encoberto com nuvens até pelo menos quinta-feira (16), com chances de pancadas de chuva e trovoadas isoladas. Os ventos poderão chegar a 8 km/h, enquanto a umidade relativa do ar estará entre 73% e 97%.

Andrea Ramos, meteorologista, informa que a previsão ainda é de muita chuva, “Existe um canal de umidade formado, e, com isso, quando há aquecimento, o tempo fica abafado, resultando nas chuvas em forma de pancadas, com trovoadas e rajadas de vento”, explica.

“Essas características são típicas do verão, e janeiro já se mostra chuvoso nos primeiros 13 dias. A tendência para os próximos dias ainda segue assim, pelo menos até quarta-feira, com previsões de chuvas associadas principalmente a esse canal de umidade que está atuando no Distrito Federal”.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta amarelo indicando esse perigo potencial, as regiões administrativas, do Guará Park, Arniqueiras/Águas Claras e Vicente Pires foram bastante atingidas no fim de semana.

Estragos das Chuvas

Dirigindo em direção à Vicente Pires, na Estrada Parque, Fernanda Araújo, de 35 anos, que reside no Núcleo Bandeirante, viveu momentos de tensão ao ficar ilhada dentro do carro com sua mãe, em um trecho próximo ao viaduto do metrô entre Águas Claras e Arniqueiras, na tarde de domingo (12).

Por conta do grande volume de água, o veículo de Fernanda sofreu uma pane elétrica, o que impossibilitou sua movimentação ou o uso do freio de mão. A água começou a invadir o carro, atingindo a altura dos bancos, e objetos no interior começaram a boiar. “A primeira coisa que pensei foi abrir os vidros, porque sabia que, com a pressão da água, seria impossível abrir as portas. Isso garantiu que conseguíssemos sair”, explicou.

Com a ajuda de um cobrador de ônibus que estava próximo, Fernanda conseguiu retirar sua mãe do veículo e colocá-la em segurança dentro do ônibus. Em seguida, ela voltou ao carro para retirar alguns pertences essenciais. “A água subia cada vez mais. É desesperador ver o carro sendo tomado pela enchente e não poder fazer nada.” Ela conta que apenas o cobrador e alguns poucos voluntários tentaram ajudar. “O bombeiro foi chamado várias vezes, mas não apareceu até o momento em que fomos embora. Só conseguimos resolver com o apoio da Polícia Militar, que bloqueou a via e chamou o guincho.”

“É revoltante pagar impostos e ver serviços mal feitos, além das pessoas jogando lixo na rua, o que agrava o problema. Quando a água vem com força, transforma tudo em uma piscina”, desabafou Fernanda.

Guará Park

Os moradores do Condomínio Cecília Meireles, na chácara 35 do Guará Park, enfrentam há dois anos, alagamentos nas casas do final do condomínio. A aposentada Doracila Maria da Silva, de 76 anos, vive há 20 anos no local, e, segundo ela, as fortes chuvas têm transformado sua rotina em um cenário de medo e prejuízo. No domingo (12), a chuva começou por volta das 17h, enquanto Doracila estava sozinha em casa. Por sorte, sua filha e o genro chegaram pouco antes do alagamento. “A água veio de repente, e a única coisa que conseguimos fazer foi tirar os objetos de maior valor e colocar para cima. É impossível salvar tudo. É um desespero”, relata.

O problema começou após a construção de obras na região, que, segundo a aposentada, não foram devidamente planejadas para conter o volume de água.

“Antes não acontecia isso, mas depois dessas obras começaram os problemas. As bacias de contenção não suportam o volume de água, estouram, e a enxurrada invade tudo em questão de minutos. Já é a segunda vez que minha casa é atingida”, conta. Durante o último alagamento, a água subiu rapidamente, forçando a idosa e sua família a correr para salvar o que fosse possível.

Apesar de ter acionado a administração regional há três meses, ela afirma que nenhuma providência foi tomada. “O administrador veio aqui, me prometeu soluções, mas até agora nada foi feito. Eu o cobrei, e ele disse que lembrava do caso, mas não fez nada para nos ajudar. Enquanto isso, o prejuízo se acumula.”

Na última enchente, os danos materiais foram avaliados entre R$ 30 mil e R$ 40 mil. Além disso, o impacto emocional tem sido devastador. “Não é só o que perdemos em bens materiais. É o abalo emocional, a sensação de impotência. Não consigo mais dormir tranquila quando o tempo fecha”, desabafou a moradora.

Doracila também destacou que, no ano passado, a situação foi ainda pior, com mais casas atingidas e danos ainda maiores. Segundo ela, é revoltante ver o descaso das autoridades diante de problemas recorrentes. “O governo não faz nada. A gente paga impostos e não recebe nada em troca. As obras que deveriam resolver os problemas acabaram criando outros.”

Notas

A Administração do Guará informou que está em contato com os demais órgãos do GDF para resolver a situação o quanto antes.
“Desde o início da manhã, o próprio administrador do Guará, Artur Nogueira, esteve no local adotando as providências necessárias e acionando todas as equipes técnicas do GDF. Com o apoio da Secretaria de Obras, a situação será resolvida no menor tempo possível”, relata a assessoria da administração do Guará.

Secretaria de Obras

Segundo a Secretaria de Obras, as fortes chuvas que atingiram o Distrito Federal no fim de semana causaram o transbordamento de córregos em várias regiões. No Guará Park, o volume atípico de precipitação sobrecarrega os sistemas de drenagem, mas a água foi absorvida em pouco tempo, devido à eficiência da infraestrutura existente.

Em nota, o órgão esclareceu que o transbordamento do córrego no Guará Park não foi provocado pela lagoa de detenção, mas pelo excesso de chuvas na cabeceira do córrego. As lagoas de detenção, segundo a pasta, desempenham um papel crucial no sistema de drenagem, armazenando a água captada pelas bocas de lobo e liberando-a lentamente no corpo hídrico. Essa medida, regulamentada pela Adasa, evita que a água seja despejada de forma abrupta, minimizando o risco de alagamentos.

Desde a madrugada de domingo, equipes da Secretaria de Obras, Novacap, Administrações Regionais, Caesb, DER e Defesa Civil têm atuado de forma integrada para mitigar os impactos das chuvas. Entre as ações realizadas estão a limpeza de vias e sistemas de drenagem, a remoção de materiais acumulados e a identificação de áreas que necessitam de intervenções imediatas.

O Governo do Distrito Federal (GDF) informou que segue atento e comprometido com a segurança da população, monitorando as condições climáticas e reforçando as medidas necessárias para reduzir os transtornos causados pelas chuvas intensas. “A agilidade nas intervenções e a continuidade das ações paliativas são fundamentais para garantir a segurança e o bem-estar dos moradores”, destacou a nota.

A Administração Regional de Arniqueiras informou que já está atuando nas áreas mais afetadas da cidade para mitigar os danos causados. Desde a manhã desta segunda-feira (13), equipes da Administração, em parceria com a Novacap, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Defesa Civil, trabalham em serviços de limpeza e recuperação asfáltica.

Um dos pontos mais críticos é o SHA Conjunto 5, onde os reparos começaram imediatamente. Segundo a Administração, uma obra de complementação da galeria pluvial foi realizada em setembro, nas proximidades da Chácara 8, mas o volume de chuva registrado no domingo superou a capacidade de vazão, provocando alagamentos. Outro problema identificado foi a descida do Mirante, que, devido ao declive acentuado, direciona grande parte do fluxo de água para o SHA Conjunto 5, intensificando o acúmulo na região.

A Administração também anunciou um macroprojeto de drenagem pluvial, desenvolvido em parceria com a Terracap e outros órgãos do Governo, para atender toda a região. As obras, que visam solucionar definitivamente os problemas estruturais, estão previstas para começar em 2025. Enquanto isso, as ações emergenciais nos pontos mais atingidos devem ser concluídas ao longo desta semana, conforme informou a Administração.

Defesa Civil

A Defesa Civil do Distrito Federal reforçou as ações de prevenção, monitoramento e assistência devido ao aumento das chuvas na região. Segundo o coronel Eloízio Ferreira do Nascimento, diretor de Gestão de Riscos da Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), o volume de chuva registrado até o dia 13 já alcançou 86% da média mensal de 206 mm. Em áreas como Gama e Bandeirante, a precipitação ultrapassou 40 mm em um único dia, caracterizando chuvas intensas para o período.

“O volume concentrado de chuvas em poucos meses eleva os índices diários registrados, comparando-se à média anual de 1.300 mm. Esse cenário exige respostas rápidas e medidas preventivas”, explicou o coronel.

Para minimizar os impactos das chuvas, a Defesa Civil orienta a população a adotar medidas preventivas, como a limpeza de áreas residenciais, o descarte correto de lixo e o preparo para evacuações em áreas de risco. “Quem vive em locais propensos a alagamentos deve ter um plano de ação, como organizar saídas seguras e proteger móveis e eletrodomésticos”, destacou o coronel. Ele também reforçou a importância de monitorar sinais de risco, como a elevação da água ao nível das tomadas, momento em que a energia elétrica deve ser desligada imediatamente.

Atualmente, 22 áreas de risco são monitoradas, incluindo Sol Nascente, Arniqueiras, Morro da Cruz, Gama e São Sebastião. As equipes avaliam danos como erosões e rachaduras em edificações, orientando moradores e acionando os órgãos competentes para intervenções.

Entre as ações emergenciais estão a entrega de cestas básicas, colchões e itens essenciais às famílias afetadas. No momento, 10 famílias do Pôr do Sol e regiões adjacentes recebem apoio devido à perda de alimentos e eletrodomésticos causados por alagamentos.

Além do suporte emergencial, a Defesa Civil avalia danos estruturais para determinar a necessidade de reparos ou interdições. “Nosso objetivo é garantir que as pessoas possam permanecer em suas casas com segurança ou sejam encaminhadas a abrigos, se necessário”, afirmou o coronel Eloízio.

Serviços de alerta

A Defesa Civil reforça a importância de relatar situações de risco pelo telefone 199 e cadastrar o CEP da residência no número 40199 para receber alertas. Em caso de perigo imediato, a orientação é evacuar a área e informar o Corpo de Bombeiros pelo 193.

ORIENTAÇÕES DA DEFESA CIVIL À POPULAÇÃO:

  • Fique atento à previsão do tempo para a sua região; conheça os principais problemas que podem afetar sua casa e sua região;
  • Não jogue lixo nas ruas, ele é facilmente levado aos bueiros e pode causar entupimento;
  • Mantenha calhas e ralos da sua casa limpos;
  • Solicite a poda ou corte de árvores, sempre que perceber uma situação de risco de queda;
  • Tenha sempre lanternas e pilhas em condições de uso;
  • Cuidado quanto ao uso de velas ou lamparinas, coloque-as em local seguro e afastado de objetos que possuem risco de incêndio.

ANTES DAS FORTES CHUVAS OU CHUVAS INTENSAS:

  • Se possível, fique abrigado;
  • Não pare o carro perto de árvores ou postes, porque eles podem cair ou atrair raios;
  • Se houver risco de deslizamentos de terra na região onde você mora, fique atento a qualquer sinal de rachaduras no terreno ou nas paredes;
  • Solte os animais, caso estejam presos nas casinhas ou por corrente;
  • Avise seus vizinhos do perigo, caso necessário;
  • Tenha sempre em mente uma rota de fuga alternativa;
  • Fique atento aos sinais de uma tempestade: nuvens escuras, altas e ameaçadoras, trovões e relâmpagos distantes e aumento repentino do vento.

DURANTE AS FORTES CHUVAS OU CHUVAS INTENSAS:

  • Desligue os aparelhos elétricos, o quadro geral de energia e feche o registro de entrada de água e de gás;
  • Fique atento ao nível da subida das águas, mesmo à noite;
  • Se houver risco de inundações e enxurradas na região onde você mora, coloque documentos e objetos de valor em sacos plásticos bem fechados e em local protegido e de fácil acesso, em caso de evacuação. Coloque os seus móveis e utensílios em locais altos, evitando que eles sejam danificados;
  • Se a água invadir sua casa, vá imediatamente para áreas mais altas e peça ajuda pelo telefone 193;
  • Se houver infiltração, rachaduras, barulho estranho, ou movimentação de postes/árvores próximos à casa, abandone imediatamente a casa;
  • Feche bem as portas e janelas;
  • Se houver vendaval, granizo ou descargas elétricas, fique atento às recomendações para esses tipos de ameaças;
  • Auxilie crianças, idosos e pessoas com dificuldade de locomoção próximas a você;
  • Caso não tenha treinamento, evite tentar salvar alguém entrando na água, ligue 193, jogue algum material flutuante e aguarde os profissionais chegarem;
  • Evite contato com a água de alagamentos, pois podem estar contaminadas e provocar doenças;
  • Nunca atravesse ruas alagadas, mesmo estando de carro, moto ou bicicleta, pois a força da água poderá arrastá-lo;
  • Se estiver em um veículo com possibilidade de alagamento na via, procure um local alto e espere o nível da água baixar;
  • Se houver qualquer sinal de movimentação de terra no terreno, procure um local seguro;
  • Avalie a real necessidade de dirigir sob forte chuva;
  • No caso de ter a necessidade de percorrer trilhas ou dirigir durante a chuva, seja prudente na escolha do seu trajeto;
  • Caso seja necessário dirigir durante a chuva, aumente a distância de seguimento do veículo da frente;
  • Caso a guia (meio-fio) esteja coberta de água, evite passar por esse trecho;
  • Em caso de emergência ou risco iminente chame o Corpo de Bombeiros (193).

EM CASO DE CHUVAS COM RELÂMPAGOS:

  • Afaste-se de estruturas metálicas não aterradas (portas, janelas, colunas, cercas de arame etc);
  • Nunca se abrigue sob árvores, torres de transmissão, antenas ou postes de iluminação;
  • Caso esteja em campo aberto, permaneça agachado e longe de estruturas que possam atrair o raio;
  • Procure nunca estar em um ponto mais elevado no terreno.

DEPOIS DAS CHUVAS:

  • Se a chuva alagar sua casa, lave e desinfete o chão, paredes, objetos caseiros e roupas atingidas;
  • Raspe toda a lama e retire o lixo do chão, das paredes, dos móveis e dos utensílios;
  • Evite o contato com água e lama. Para isso, use luvas e botas ou sacos plásticos duplos nas mãos e pés;
  • Não use água de fontes naturais e poços depois do alagamento, pois podem estar contaminados;
  • Volte para casa durante a luz do dia.

Fonte: Defesa Civil

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