Diretor do BC vê cenário de atividade externa resiliente e política monetária mais heterogênea

Diogo Abry Guillen

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, avaliou que o cenário tem mostrado bastante resiliência da atividade externa. Ele fez a afirmação durante live promovida pela Bradesco Asset sobre os potenciais impactos da política monetária na conjuntura macroeconômica de 2025. A conversa foi conduzida pelo economista-chefe da instituição financeira, Marcelo Toledo.

“Talvez uma das principais características do cenário externo tem sido a resiliência da atividade”, afirmou Guillen.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de vários países, de acordo com ele, está relativamente estável, apesar de uma política monetária que se mostrou contracionista e que agora sofre cortes. “É um cenário bem resiliente de crescimento do PIB “

Sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, a questão, conforme o diretor, é se o ajuste vai se dar via oferta ou via demanda. Por enquanto, de acordo com ele, o cenário é bem benigno no mercado de trabalho nos Estados Unidos. “Claro, fica o debate sobre qual é a velocidade desse ajuste no mercado de trabalho: se vai trazer a desinflação que se almeja, mas bem benigno”, considerou.

Guillen voltou a comentar sobre o processo de desinflação em dois estágios no mundo. O primeiro momento seria o de uma diminuição “mais barata”, que não precisa de tanta abertura de hiato. A partir de 2022, de acordo com ele, em vários países houve um processo de normalização de cadeias, com os preços administrados mais baixos, e aí um segundo estágio que é mais resiliente. “Nesse segundo estágio e com a resiliência da inflação, começa também a ter maior diferenciação entre países. Eu acho que a gente está nesse processo de política monetária mais heterogênea, seja no ritmo com que vai se dar essa queda de juros ou até uma interrupção na queda de juros, no nosso caso, um ciclo de uma política monetária distinta em função dos elementos idiossincráticos”, comentou.

O diretor salientou que o cenário global, que era marcado por um choque correlacionado e que era ligado à pandemia de covid-19, agora mostra a prevalência das respostas dadas e da atuação da política monetária. Olhando para a política monetária, há um processo de corte de juros em vários países, mas não no caso brasileiro. “No caso do Brasil, a expectativa, por exemplo, de juros para 2025 é acima do que foi o pico desde a covid, que acho que é um debate que a gente vai ter aqui sobre esse ciclo de elevação de juros”, considerou.

Ambiente externo desafiador

Diogo Guillen disse que há dúvidas sobre a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), principalmente depois da eleição de Donald Trump, já que há incertezas sobre a política econômica que o novo presidente americano adotará.

Para Guillen, o ambiente externo permanece desafiador. “Acho que os mercados têm refletido um pouco desse nosso debate sobre como é que vai se dar essa queda de juros nos Estados Unidos, com os dados de mercado de trabalho resilientes”, disse, acrescentando que há um monitoramento sobre como vai se dar o processo de desinflação. “Acho que tem muita incerteza em função das políticas que o governo Trump pode adotar, seja para a imigração, como é que vai ser o fiscal, se tudo pode ter impacto sobre inflação e consequentemente sobre o Fed”, citou.

O segundo ponto apresentado pelo diretor diz respeito a como os bancos centrais das principais economias estão determinados nesse processo de convergência. “Acho que deixou de ser um grande assunto mais recente, mas a gente já falou bastante sobre isso”, considerou.

Para uma redução da inflação no Brasil, conforme Guillen, é mais importante a redução da inflação nos outros países, já que um câmbio mais depreciado pode atrapalhar a inflação. “A gente acha que mais importante é esse ambiente de inflação mais baixo globalmente, essa determinação dos países desenvolvidos em trazer a inflação para as metas num cenário em que você vê o primeiro momento de inflação caindo e agora uma resiliência maior em vários países.”

Estadão conteúdo

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