O matador rubro-anil

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Em 1965, o Rio de Janeiro celebrava o seu IV Centenário e tudo era festa na Cidade Maravilhosa. No futebol, todos queriam o título da temporada, principalmente porque o Vasco da Gama vencera a I Taça Guanabara e o I Torneio Internacional (houve dois) que homenageou a terra. Era grande a expectativa das torcidas do Fluminense por um bi; do Flamengo, para recuperar o caneco que não levantava desde 1963 e, principalmente, do Botafogo, que passava longe do título há três temporadas. Só América, Bonsucesso e Portuguesa não aspiravam nada, sabiam que os sus times só seriam pra cumprir tabela.

E rolou a bola. Surprendentemente, o Vasco da Gama saiu cedo da luta pelo título, deixando rubro-negros, tricolores, banguenses e botafoguenses travaando luta ferrenha pelo caneco. Estava animado. A quatro rodadas do final, no 27 de novembro, mais uma surpresa: o Botafogo, inesperadamente, ficou no 1 x 1 Bonsucesso, diante de incrédulos 5.334 pagantes, no Maracanã. Afinal, o treinador Daniel Pinto tinha sob seu comando um timaço – Manga, Joel Martins, Zé Carlos Gaspar, Paulistinha e Rildo; Elton e Afonsinho; Jairzinho, Humberto, Bianchini e Arthurzinho.

Embora o Bonsucesso não amedrontasse ninguém, sua rapaziada estava motivada pela promessa do cartolão Rubens Araújo Reis, de premiar a rapaziada, com Cr$ 150 a 200 mil cruzeiros, caso eles vencesse a partida. Funcionou o doping financeiro, que incluiu concentração no Hotel Nice, no centro do Rio de Janeiro.

O Bonsuça chegou ao Maraca com o treinador Alfinete não escondendo da imprensa a sua escalação da imprensa: Jonas; Marcelo, Jerry, Nogueira e Albérico; Jardel e Ivo; Gilbert, Adauri, Sabará e Escurinho. No entanto, aos 11 minutos, Jairzinho passou pro dois e cruzou bola para o miolo da área rubro-anil, onde estava o afobado zagueiro Marcelo, que marcou gol-contra. Parecia que a ordem natural das coisas iria rolar mesmo. Só que passou a acontecer tudo ao contrário do que se esperava. O Bonsucesso passou a mandar na partida, Criou e perdeu várias chances de gols, principalmente por conta de Adauri, que infernizou a vida dos zagueiros alvinegro. E o cotejo ficou pelo que estava ao final do primeiro tempo.

Veio a etapa complementar, como falavam os speakers radiofônicos de antigamente, e os rubro-anis quase empataram, com 30 segundos de peleja. Aos 13 minutos, Gilbert centrou bola para área alvinegra e o centroavante Sabará cabeceou para empatar: 1 x 1, placar que, também, tirou a Estrela Solitária da luta pelo charmoso título de campeão do IV Centenário do Rio de Janeiro assim que o árbitro José Gomes Sobrinho (auxiliado por Cláudio Magalhães e Gualter Portela Filho) fez o apito final.

Mas aquela não fora a única estrepolia do Bonsucesso no Campeonato Carioca de 1965. Antes, no 24 de outubro, com um gol e muita aprontação por Adauri, o time suburbano havia mandado 2 x 0 Vasco da Gamas, no estádio da Rua Teixeira de Castro. Quem era, afinal, aquele tal de Adauri que enchera o saco de botafoguenses e cruzmaltinos?

Surgido no mineiro Sport Club Juiz de Fora, em 1960, logo ele foi tentar a sorte no Fluminense, mas não dava, pois Seu Zezé Moreira estava com time montadinho, que terminou vice-campeão carioca. Com aquilo, foi para o Bonsucesso, um time fraco pelo qual marcou sete gols durante os Campeonatos Cariocas de 1962/1963. Chamou a atenção do Bangu, que o levou, em 1964, mas só o lançou em 14 jogos, nos quais marcou dois tentos diante de argentinos, durante excursão sul-americana. A seguir, disputou o Torneio Rio-São Paulo e voltou ao Bonsuça, para escrever a sensacional vitória sobre o Vasco da Gama.

Pouco depois, o Atlético-MG estava precisando de um atacante veloz, com boa técnica e que fosse íntimo do fundo da rede. E levou para vestir a sua camisa em 10 jogos e marcar dois gols.

Fase melhor Adauri viveria no Bahia, entre 1967/1970, sendo campeão estadual na primeira temporada e deixando nesta passagem, 15 gls em 24 jogos. Por fim, pendurou as chuteiras, no mesmo 1970, defendendo a Portuguesa-RJ. As últimas notícias sobre este cidadão nascido em Juiz de Fora-MG, em 11.04.1942, dizem que ele segue vivo, aos 82 de idade, com boa saúde – que legal!

Em qui., 9 de jan. de 2025 às 08:44, gustavo felipo [email protected] escreveu:
VALTINHO CANTOR

Zagueiro do Fluminense da década-1960 ficava entre a bola e o microfone

Entre 1967/68, o zagueiro Valtinho aparecia muito nas escalações do Fluminense que, muitas vezes, alinhava; Félix; Oliveira, Valtinho, Silveira e Bauer; Denílson e Serginho; Wilton, Samarone, Cláudio Garcia e Gílson Nunes. Depois, perdeu a vaga de titular, mas não o senso artístico.

Filho de músicos, ele aprendeu a tocar violão e animava as concentrações tricolores, cantando. Era só diversão, pois ele não se considerava um artista. Um dia, no entanto, o Flu foi jogar em Porto Alegre, contra o Grêmio, e a Rádio Guaíba o entrevistava. No meio do papo, Denílson entrou na conversa e contou ao repórter que Valtinho era um bom cantor. Foi o bastante para a emissora gravá-lo cantando “Gina”, uma das canções eu fizeram sucesso em um festival internacional de música no Rio de Janeiro daquele final de década-1960.

Cantar para os companheiros de time, Valter Alves da Silva, carioca do bairro de São Cristóvão, onde nascera, em 26 de novembro de 1948, mandava ver legal. O que ele jamais contava era que, certa noite, o seu amigo Arlindo Coutinho o incluísse em um show que seria feito pelo cantor norte-americano Johnny Mathis, na sede do Fluminense. Mas não amarelou. Encarou pra valer.

Pouco antes do show, Valtinho ainda treinava e poucos sabiam que ele iria fazer a sua estreia como cantor. Quando as luzes foram acesas e o público o viu no palco, muitos não sabiam do que se tratava. Quem sabia, o aplaudiu muito, incentivando e levando-o a fazer força para não chorar. E ele emplacou. Johnny Mathis gostou tanto do seu estilo, que o convidou a se apresentar nos Estados Unidos.

A partir daquele dia, Valtinho passou a ter duas opções: mudar de profissão, ou recuperar a sua vaga de titular na zaga tricolor, que estava com Galhardo. Não poderia demorar e deixar para decidir após o final do seu contrato, em fevereiro de 1970. Valtinho, zagueiro vigoroso, com 1m86cm de altura, que jogava pesando 76 quilos, até que não estava gordo para subir aos palcos. Mas, como não foi logo naquela “bola dividida”, nem tornou-se cantor profissional e nem recuperou a vaga de titular da zaga tricolor.

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