De terno e sorriso largo, Seu Lidinho é eternizado no Carnaval de Florianópolis

O samba no pé e um sorriso largo eram assinaturas de Lídio Augusto Costa, o saudoso e lendário Seu Lidinho. Um dos passistas mais antigos e carismáticos do Carnaval de Florianópolis, Seu Lidinho era amplamente admirado e respeitado da capital catarinense. Sua partida, em uma tarde de 5 de agosto do ano passado, deixou saudades e boas lembranças.

Artista Allan Cardoso usa fotos de diferentes ângulos para moldar o rosto de Seu Lidinho, sob o olhar atento da neta do passista, Luiza Nunes Costa

Artista Allan Cardoso usa fotos de diferentes ângulos para moldar o rosto de Seu Lidinho, sob o olhar atento da neta do passista, Luiza Nunes Costa – Foto: Germano Rorato/ND

Agora, essas memórias serão eternizadas de forma especial no Berbigão do Boca deste ano. Isso por que ele entrou para a seleta lista de homenageados que se tornam bonecos, símbolo da ala mais tradicional e emblemática da festa.

Os bonecos sempre homenageiam personalidades relevantes para a cultura, para a cidade e para o Carnaval de Florianópolis. Desde 1992, quem os confecciona é o artista plástico Allan Cardoso, que se dedica por meses para, em suas palavras, “dar vida à matéria”. Com o boneco de Lidinho, já são 43 criações que puxam o “Arrastão da Alegria” do Berbigão do Boca pelas ruas do Centro, que neste ano está marcado para ocorrer em 21 de fevereiro, sempre uma semana que antecede a sexta-feira de Carnaval.

“Os bonecos que o Allan faz com tanta dedicação e empolgação são a nossa alegoria principal e pelas quais as pessoas ficam aguardando para saber quem será a pessoa que será homenageada pelo boneco”, destacou o diretor financeiro do Berbigão do Boca, Leonardo Garofallis.

Para Nado, como é conhecido, a homenagem é justa por quem tanto contribuiu para o Carnaval e para a vida da cidade. “Ele estava em todas as rodas de samba. Quem frequenta o Mercado Municipal, os bares, quando tinha samba, encontra o Seu Lidinho. Era uma alegria e sempre dançava com todo mundo, ele dançava com a cidade”, assegurou Garofallis.

O processo de criação

O trabalho de criação do boneco de Seu Lidinho começou em dezembro, no ateliê de Allan Cardoso, localizado no Morro do Tico-Tico, no Centro de Florianópolis. São várias etapas e o trabalho já está avançado, com a fase atual dedicada à pintura. Todo o processo costuma levar cerca de 20 dias, se for feito dia e noite, mas o artista plástico revelou que gosta de ter mais tempo para os dias sem inspiração.

O início de tudo é a cabeça de argila, que aos poucos vai ganhando os traços do homenageado. Esse molde é então utilizado para criar uma cabeça de fibra de vidro “mais leve e resistente”, detalha Allan. Para garantir a semelhança, ele utiliza diversas fotos de Seu Lidinho tiradas de diferentes ângulos.

“A gente sai à procura das fotos, do lado direito, esquerdo, de frente, e começa todo um processo de incorporação do Lidinho. Não digo do espírito, mas sim da matéria”, brinca o artista.

A roupa do boneco é outro elemento essencial, que será confeccionada sob medida por costureiras especializadas. Para Seu Lidinho, o traje escolhido foi seu clássico terno branco, camisa vermelha e gravata amarela, em homenagem à sua escola do coração, a Embaixada Copa Lord, da qual fez parte desde o seu início, em 1955. O figurino será complementado por seu inseparável chapéu.

Quando finalizados, os bonecos medem cerca de 2 metros, mas, nas mãos dos bonequeiros, podem chegar a 4 metros de altura.

Boneco “ainda vivo” está fora de questão

Na reportagem do jornal ND do ano passado sobre o boneco que homenageou o Mestre Rato, o artista Allan Cardoso havia manifestado a intenção de criar um boneco próprio, que seria o único a representar uma pessoa viva. Porém, ele mudou de ideia.

“Depois do Carnaval, por volta de julho, passei mal no aeroporto e fiquei 15 dias no hospital. Quase fui para o outro lado”, relembra Allan, com humor. “Enquanto estava lá, só pensava que não queria mais fazer um boneco meu. Não se aconselha ninguém a virar boneco antes de morrer”, comentou, rindo.

“Ele dizia: quero um boneco que me represente, que saiba dançar os meus passos. Não quero boneco parado!”, disse Luiza Nunes Costa, neta de Seu Lidinho – Foto: Germano Rorato/ND

Memórias de Seu Lidinho

O presidente da Velha Guarda da Copa Lord, Ari de Freitas Cunha, relembrou do amigo de longa data e compadre com muito carinho. “São só lembranças ótimas. Uma pessoa muito querida, educada, se dava com todo mundo. Pra mim, a ficha não caiu ainda, eu penso que ele foi passear. Agora, chegando o Carnaval, vai ser muito difícil porque ele desfilava na frente. Esse ano, quando pisarmos na Nego Quirido, vamos entrar com ele na memória e nos nossos corações”, declarou.

Ari de Freitas Cunha, presidente da Velha Guarda da Embaixada Copa Lord, lembra com carinho do amigo – Foto: Germano Rorato/ND

O legado de Seu Lidinho vai além do Carnaval. Ele era um avô dedicado, como relembra sua neta, Luiza Nunes Costa. “Todos falam do Seu Lidinho nas rodas de samba, no Carnaval, com aquela alegria e elegância únicas. Mas eu lembro dele como avô, carinhoso e zeloso com os netos.”

A homenagem no Berbigão do Boca era um desejo do próprio Lidinho, como destaca Luiza. “Ele sempre dizia que queria virar um boneco do Berbigão. Até porque ir ao Berbigão e desfilar na Copa Lord eram certezas no Carnaval dele”.

E para quem carregar o boneco, um desafio especial foi deixado. “Ele dizia: quero um boneco que me represente, que saiba dançar os meus passos. Não quero boneco parado!”, relembra a neta, entre risos. “Um dos aprendizados que ele deixou pra mim é sempre sorrir pra vida, por mais que tenha as dificuldades, e vai ter, nunca abaixar a cabeça”, concluiu Luiza.

“Ele dizia: quero um boneco que me represente, que saiba dançar os meus passos. Não quero boneco parado!” — Luiza Nunes Costa, neta de Seu Lidinho

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