Suspeita de envenenar bolo no RS tentou cremar corpo de sogro para ocultar provas, afirma polícia

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CARLOS VILLELA
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS)

A investigação do caso do bolo envenenado com arsênio em Torres (RS), que resultou na morte de três pessoas, em dezembro, aponta para uma tentativa de Deise Moura dos Anjos, 42, de atrapalhar a obtenção de provas de seu envolvimento no crime.

Nesta sexta-feira (10), a PC-RS (Polícia Civil do Rio Grande do Sul) confirmou que Deise passou a ser considerada suspeita de quatro assassinatos após a identificação de arsênio no corpo de seu sogro, Paulo Luiz dos Anjos, morto em setembro.

A polícia diz que Deise tentou, sem sucesso, convencer a família a cremar o corpo do sogro para ocultar a presença de veneno.

De acordo com o subchefe de polícia do Rio Grande do Sul, delegado Heraldo Chaves Guerreiro, a investigação mostrou que Deise fez uma viagem rápida de Canoas até Arroio do Sal com o marido para visitar Paulo e a sogra, Zeli Teresinha dos Anjos, 61, e deixaram um cacho de bananas e leite em pó no local. No dia seguinte, Paulo consumiu os alimentos, passou mal e morreu.

Os investigadores afirmam ter provas de que o leite em pó estava contaminado com arsênio, a mesma substância presente no bolo que causou a morte das irmãs de Zeli, Maida Berenice Flores da Silva, 59, e Neuza Denize Silva dos Anjos, 65, e da sobrinha Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47.

Segundo a delegada regional Sabrina Deffente, o cacho de bananas foi levado por Deise como um álibi, caso não conseguisse pressionar a família a realizar a cremação do sogro. “Todas as ações dela já eram feitas pensando em um álibi para o que pudesse ser encontrado”, disse.

Deise teria sugerido, como razão para a morte do sogro, que as frutas poderiam estar contaminadas devido às enchentes de maio de 2024.

Ela também pediu à sogra que o assunto fosse encerrado e que não houvesse mais exames laboratoriais, alegando que o marido estava entrando em depressão por se sentir culpado por ter levado as bananas.

“Ela constrói toda uma narrativa para que as provas não fossem obtidas”, disse a delegada Sabrina. O marido será ouvido como testemunha, mas, no momento, a investigação não o trata como suspeito.

A tese de que Deise foi a responsável pelos envenenamentos ganhou força após a análise preliminar de celulares apreendidos. Durante a busca, ela teria alertado o delegado que encontrariam pesquisas sobre venenos, mas alegou que essas buscas foram realizadas após as mortes, quando a hipótese de envenenamento foi levantada.

Depois, foram identificadas quatro compras diferentes de arsênio por Deise ao longo de cinco meses.

“Essa senhora Deise é tão dissimulada que, mesmo não tendo durante muito tempo uma relação boa com a família do seu esposo, logo após adquirir esse arsênio ela passou a ter conversas com a sogra dizendo que estava com saudade, que queria vê-la”, disse a delegada.

O depoimento da suspeita e relatos familiares confirmaram que Deise tinha uma relação conturbada com a sogra e com o marido. A polícia acredita que o principal alvo era Zeli, que esteve presente nos dois episódios de envenenamento. A Folha não conseguiu contato com a defesa de Deise.

Ela prestou depoimento na terça-feira (7) e negou as acusações.

Segundo o delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, responsável pelo caso, Deise demonstrou desprezo pela sogra durante o depoimento. “A nora investigada se referia a Zeli como naja”, disse o delegado.

“Toda vez que ela chamava a sogra de naja, ela ria.”

A investigação inicialmente apontava como possível motivação um conflito familiar de mais de 20 anos, decorrente de um empréstimo feito por Zeli. Essa questão foi mencionada por Deise em uma denúncia contra o marido, na qual alegava agressões.

De acordo com a polícia, a menção da dívida fazia parte do plano da suspeita para criar argumentos previamente planejados.

A delegada afirmou não haver indícios de crime patrimonial. Segundo ela, a família não tinha muitas posses, e a sogra de Deise havia perdido a casa em Canoas durante as enchentes de maio.

“Trata-se de uma pessoa com distúrbios, sociopata, psicopata, enfim, pois não encontramos nenhuma justificativa plausível que pudesse motivar toda essa sequência de envenenamentos”, acrescentou a delegada.

A polícia também apura o conteúdo de uma garrafa que teria sido levada por Deise ao hospital onde a sogra estava internada. Como o líquido foi descartado antes de ser ingerido, o resultado da perícia foi inconclusivo.

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