Dólar abre em leve queda nesta sexta-feira após divulgação de inflação no Brasil

SÃO PAULO (FOLHAPRESS)

O dólar abriu em queda nesta sexta-feira (10), mantendo a desvalorização que já ocorreu no dia anterior.

Os investidores avaliam os resultados da inflação no Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que fechou 2024 em 4,83%, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A alta veio após variação de 4,62% em 2023.

O resultado de 2024 confirma o estouro do teto da meta de inflação, definido em 4,5%. Assim, o novo presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, terá de escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

No cenário internacional, os investidores aguardam a divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos.

Diante deste cenário, a moeda norte-americana caía 0,2%, cotado a R$ 6,0313, às 9h03. Na quinta-feira, o dólar fechou em forte queda de 1,10%, cotado a R$ 6,042, e a Bolsa subiu 0,13%, aos 119.780 pontos.

O dia foi de liquidez reduzida, uma vez que os mercados dos Estados Unidos permaneceram fechados por causa do funeral do ex-presidente Jimmy Carter. Trata-se de uma tradição norte-americana de longa data, na qual as operações financeiras são interrompidas após o falecimento de um ex-mandatário.

Os ativos foram afetados por um leilão de títulos pré-fixados realizado pelo Tesouro Nacional nesta sessão.

Quase todos os papéis ofertados foram vendidos. O lote incluiu 2,5 milhões de NTN-Fs, títulos prefixados de longo prazo que costumam atrair investidores estrangeiros.

O foco, então, foi direcionado às duas grandes pautas do início do ano: o novo governo de Donald Trump nos EUA e os juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). O republicano toma posse no dia 20 de janeiro, e a expectativa é sobre qual será a política tarifária da maior economia do mundo.

Na segunda-feira, uma reportagem do The Washigton Post indicou que assessores do presidente eleito estavam considerando taxar apenas importações de setores críticos para o país. A notícia, um recuo da abordagem mais agressiva prometida por Trump durante a campanha eleitoral, inspirou apetite por ativos de maior risco no mercado e causou a queda do dólar por duas sessões consecutivas.

Mas Trump logo refutou a publicação e, na quarta, a CNN informou que o republicano estaria estudando declarar emergência econômica nacional para ter uma justificativa legal na imposição de tarifas sobre aliados e adversários. O rumor fez a moeda norte-americana apresentar ganhos firmes em relação às demais divisas globais.

Enquanto ainda era candidato, Trump prometeu aplicar tarifas de 10% sobre as importações globais, além de outras de 60% para chinesas e de 25% para canadenses e mexicanas. Segundo especialistas em comércio, as medidas afetariam os fluxos comerciais, aumentariam os custos e provocariam retaliações.

Internamente, nos Estados Unidos, as tarifas ainda têm potencial inflacionário –comprometendo a briga do Fed contra a inflação, em curso desde 2020.

Um repique nos índices de inflação podem forçar a autoridade monetária a manter os juros altos por mais tempo. A taxa está na banda de 4,25% e 4,50%, depois de três cortes em 2024 que somaram 1 ponto percentual de afrouxamento.

Quanto mais altos os juros nos EUA, melhor para o dólar, que se torna mais atrativo aos investidores à medida que os rendimentos dos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro norte-americano, crescem.

O Fed, na última reunião de política monetária, em dezembro, sinalizou a possibilidade de uma interrupção no ciclo de cortes. As autoridades disseram “esperar que a inflação continue a se mover em direção a 2%”, embora tenham ponderado que “os efeitos de possíveis mudanças na política comercial e de imigração [de Trump] sugerem que o processo possa levar mais tempo do que o previsto anteriormente”.

Agora, a expectativa majoritária é que o Fed mantenha os juros inalterados na reunião do final deste mês, com apenas 7% das apostas da ferramenta CME Fed Watch prevendo um novo corte de 0,25 ponto.

Para calibrar as projeções, o mercado tem estado atento aos dados macroeconômicos dos EUA. Nesta sexta-feira, será divulgado o relatório de emprego para dezembro.

“Existe preocupação em relação ao mercado de trabalho, que segue aquecido, com a inflação, que retornou, mas desacelerou a queda, e também sobre as políticas do governo Trump em relação às tarifas”, disse Marcos Weigt, head de Tesouraria do Travelex Bank.

Já na ponta doméstica, o foco segue sendo a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O pacote de contenção de gastos proposto pela ala econômica do governo foi aprovado pelo Congresso no último dia útil de plenário, 20 de dezembro. As medidas, porém, foram desidratadas, e, segundo cálculos iniciais, a previsão é que até R$ 20 bilhões da conta original, de R$ 70 bilhões, deixem de ser poupados nos próximos dois anos.

O mercado já cobra por mais ajustes fiscais, e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que há espaço para outras contenções.

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