Temperatura do planeta em 2024 foi 1,6°C acima dos níveis pré-industriais

incêndio na california

GIULIANA MIRANDA
MADRI, (FOLHAPRESS)

Confirmado agora como o novo ano mais quente da história da humanidade, 2024 foi também o primeiro a ultrapassar a barreira de 1,5°C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais. Essa cifra é indicada por cientistas como o limite para conter as piores consequências das mudanças climáticas.

Dados do observatório Copernicus, da União Europeia, divulgados nesta sexta-feira (10) indicam que a temperatura média global no ano passado foi 1,6°C superior aos valores de 1850 a 1900, o parâmetro para os termômetros antes da emissão em larga escala de gases-estufa.

Em 2024, a temperatura média no planeta foi de 15,10°C, ficando 0,12°C acima do que foi registrado em 2023, o até então recordista de calor da série histórica. Também no Brasil 2024 bateu o ano anterior como o mais quente já computado, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), considerando medições desde 1961.

Os resultados indicam que a Terra segue em trajetória de rápido aquecimento, alimentado pela concentração recorde de CO2 e de outros gases que ampliam o efeito estufa.

“Honestamente, eu estou já estou ficando sem metáforas para explicar o aquecimento que nós estamos vendo”, disse Carlo Buontempo, diretor do serviço de mudanças climáticas do Copernicus.

“O que apresentamos hoje não são nossas opiniões pessoais nem cálculos de modelos complexos. Estes são dados baseados em observações, milhões de observações, que mais uma vez nos dizem de forma inequívoca que o clima continua aquecendo”, completou o cientista durante a apresentação do relatório à imprensa.

Todos os 366 dias de 2024 tiveram aquecimento acima de 1,25°C, enquanto três quartos deles superaram 1,5°C.

Além de ser o consenso científico para limitar as piores consequências das mudanças climáticas, como o fim de países insulares, o aquecimento de 1,5°C também é a meta preferencial pactuada pela comunidade internacional no Acordo de Paris, de 2015.

Embora considerem que o resultado seja um sinal de alerta, os pesquisadores europeus destacam que essa barreira ainda não foi definitivamente ultrapassada. Para isso, seriam necessárias duas décadas com temperaturas acima desse patamar.

“Cada ano na última década está entre os dez mais quentes já registrados. Estamos agora à beira de ultrapassar o nível de 1,5°C definido no Acordo de Paris, e a média dos últimos dois anos já está acima desse nível”, pontuou Samantha Burgess, líder estratégica para o clima do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo.

“Essas altas temperaturas globais, juntamente com níveis recordes de vapor d’água atmosférico em 2024, resultaram em ondas de calor e eventos de chuva intensa sem precedentes, causando sofrimento para milhões de pessoas”, completou.

Além do recorde nos termômetros, 2024 também foi marcado por números sem precedentes em outros indicadores.

A quantidade total de vapor d’água na atmosfera chegou a níveis máximos, ficando cerca de 5% acima da média de 1991 a 2020. O resultado também foi 1% maior do que o registrado em 2016 e 2023, os recordistas anteriores.

O relatório indica que esse suprimento abundante de umidade no ar contribuiu para ampliar o potencial de ocorrência de chuvas extremas. Combinado às altas temperaturas na superfície do mar, o cenário também foi favorável ao desenvolvimento de “grandes tempestades, incluindo ciclones tropicais”.

Por todo o globo, houve ocorrências de eventos climáticos extremos, que foram desde grandes inundações até ondas de calor severo.

“Os muitos eventos recordes que vimos ao longo dos últimos 12 meses não são meras casualidades estatísticas, mas sim uma consequência direta do aquecimento generalizado do nosso sistema climático. Esse aquecimento é, em grande parte, impulsionado pelo aumento constante das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa”, disse Buontempo.

Além disso, a conjugação de temperaturas elevadas e alta umidade contribuiu para níveis elevados do chamado estresse térmico, que representa um grave risco à saúde. Em 10 de julho de 2024, o planeta atingiu um novo pico histórico desse indicador, com 44% do globo afetado por estresse térmico forte ou extremo.

Ainda que o fenômeno atmosférico El Niño tenha favorecido as temperaturas particularmente altas no primeiro semestre de 2024, os pesquisadores consideram que a alta concentração de gases-estufa foi a principal responsável para o ano de aquecimento recorde.

Os primeiros seis meses de 2024 foram de calor intenso, com cada mês registrando temperaturas globais recordes para o respectivo período. Isso acabou contribuindo para uma sequência de 13 meses de recordes mensais de temperaturas, encerrada em junho.

Ainda assim, os termômetros globais permaneceram significativamente acima da média. Em 22 de julho, foi registrado um novo recorde para o dia mais quente da série histórica: 17,16°C.

Nos oceanos, o aquecimento também atingiu valores máximos na série histórica. Em 2024, a temperatura média anual da superfície do mar chegou a 20,87°C: um novo recorde que está 0,51°C acima da média de 1991 a 2020.

Publicado na madrugada desta sexta-feira, o relatório do Copernicus é o primeiro de uma série de monitoramentos independentes que mostram o estado do clima no planeta. Outros relatórios, incluindo os produzidos pela Nasa (agência espacial americana) e pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) serão divulgados ao longo do dia.

Apesar das diferentes metodologias e medições, todos os levantamentos confirmaram que 2024 bateu todos os recordes de aquecimento.

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