Após convite, governo Lula decide enviar embaixadora para posse de Maduro

O presidente Lula e Glivânia Maria de Oliveira, embaixadora do Brasil na Venezuela — Foto: Ricardo Stuckert/Presidência

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enviar a embaixadora do Brasil em Caracas, Glivânia Oliveira, para a cerimônia de posse de Nicolás Maduro, nesta sexta-feira. Maduro assumirá mais um mandato como presidente da Venezuela, após uma eleição polêmica, realizada em julho do ano passado, em que não ficou comprovada sua vitória.

A participação na posse será protocolar. Ninguém sairá de Brasília até Caracas. O governo Lula não reconheceu a vitória de Maduro sobre o opositor Edmundo González, porque as atas eleitorais que comprovariam o resultado jamais foram apresentadas.

Na avaliação do governo Lula, Maduro não cumpriu o que prometeu no Acordo de Barbados, quando representantes do governo e da oposição venezuelana se comprometeram, no fim de 2023, com eleições livres, justas, transparentes e aceitas por todos.

Outro motivo de irritação no governo Lula são as ofensas de Nicolás Maduro. O líder chavista não se conforma com a posição do governo brasileiro ante a eleição e não perdoa o Brasil por ter barrado a Venezuela no Brics, bloco formado por nações em desenvolvimento, que inclui países como China, Rússia e Brasil.

Manter os laços com a Venezuela, em uma relação entre dois Estados, e não entre dois governos, é a estratégia do Brasil, que continua cuidando das embaixadas do Peru e da Argentina em Caracas. Um importante interlocutor da área diplomática acredita que, se não fosse a bandeira brasileira na representação argentina naquele país, uma tragédia já poderia ter acontecido, como a invasão do prédio e a prisão de opositores de Maduro, que lá estão asilados desde março de 2024.

A Venezuela tem uma fronteira de mais de dois mil quilômetros com o Brasil, numa região estratégica como a Amazônia. Além disso, é dona da maior reserva de petróleo do mundo e abriga um número significativo de brasileiros. Cuidar dos interesses por lá é essencial, explicam integrantes do governo brasileiro.

Posse esvaziada

Apenas países que reconheceram a vitória de Maduro receberam convite específico para a posse. O Brasil entrou no bolo de convites enviados às embaixadas. Portanto, Lula não foi diretamente convidado, mas poderia ir, se julgasse conveniente, o que não é o caso.

Porém, a expectativa é que a posse seja esvaziada. Países aliados, como Rússia e Bolívia, não devem enviar seus presidentes.

Governos x Estados

A tradição de reconhecer ou não governos remete a uma visão de maior ingerência em outros países. Houve um tempo em que, se os Estados Unidos reconheciam ou não um governo na América Latina, isso era determinante. Mas a atual política externa brasileira está se afastando dessa abordagem.

Nas palavras de um interlocutor do governo Lula, o Brasil não pode ser mais um país que determina qual governo é legítimo ou não. Por isso, o foco é manter relações com os Estados e, consequentemente, com quem de fato exerce o governo.

Um exemplo sempre lembrado na área diplomática foi o período Bolsonaro, quando o Brasil decidiu reconhecer o oposicionista Juan Guaidó como presidente. Não funcionou. O grupo político do Guaidó não tinha controle de nenhuma instituição na Venezuela, e o Brasil ficou sem diálogo para resolver questões do nosso próprio interesse. Seria péssimo cometer o mesmo erro, na avaliação de integrantes do governo.

O chanceler Mauro Vieira vem reforçando que “o Brasil não reconhece governos, reconhecemos Estados”. Ou seja, o Brasil reconhece a Venezuela como um Estado, assim como a China, a França ou a Palestina.

O Globo

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