Dólar cai e Bolsa sobe, com mercados fechados nos EUA e política tarifária de Trump no radar

dólar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar apresenta queda nesta quinta-feira (9), em um dia que promete ser de poucas operações já que os mercados nos Estados Unidos estão fechados devido ao funeral do ex-presidente Jimmy Carter.

Às 11h44, a moeda norte-americana caía 0,34%, cotada a R$ 6,089. Já a Bolsa subia 0,16%, aos 119.818 pontos, embalada por notícias de uma possível fusão da Gol com a Azul.

A agenda esvaziada da sessão tem direcionado o foco à grande pauta do início de ano: o novo governo de Donald Trump nos EUA. O republicano toma posse no dia 20 de janeiro, e a expectativa é sobre qual será a política tarifária da maior economia do mundo.

Notícias sobre os planos do presidente eleito têm movimentado os mercados nos últimos dias.

Na segunda-feira, uma reportagem do The Washigton Post indicou que assessores do presidente eleito estavam considerando taxar apenas importações de setores críticos para o país. A notícia, um recuo da abordagem mais agressiva prometida por Trump durante a campanha eleitoral, inspirou apetite por ativos de maior risco no mercado e causou a queda do dólar por duas sessões consecutivas.

Mas Trump logo refutou a publicação e, na quarta, a CNN informou que o republicano estaria estudando declarar emergência econômica nacional para ter uma justificativa legal na imposição de tarifas sobre aliados e adversários. O rumor fez a moeda norte-americana apresentar ganhos firmes em relação às demais divisas globais.

Enquanto ainda era candidato, Trump prometeu aplicar tarifas de 10% sobre as importações globais, além de outras de 60% para chinesas e de 25% para canadenses e mexicanas. Segundo especialistas em comércio, as medidas afetariam os fluxos comerciais, aumentariam os custos e provocariam retaliações.

Internamente, nos Estados Unidos, as tarifas ainda têm potencial inflacionário -comprometendo a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) contra a inflação, em curso desde 2020.

Um repique nos índices de inflação podem forçar a autoridade monetária a manter os juros altos por mais tempo. A taxa está na banda de 4,25% e 4,50%, depois de três cortes em 2024 que somaram 1 ponto percentual de afrouxamento.

Quanto mais altos os juros nos EUA, melhor para o dólar, que se torna mais atrativo aos investidores à medida que os rendimentos dos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro norte-americano, crescem.

O Fed, na última reunião de política monetária, em dezembro, sinalizou a possibilidade de uma interrupção no ciclo de cortes. As autoridades disseram “esperar que a inflação continue a se mover em direção a 2%”, embora tenham ponderado que “os efeitos de possíveis mudanças na política comercial e de imigração [de Trump] sugerem que o processo possa levar mais tempo do que o previsto anteriormente”.

“Vários observaram que o processo desinflacionário pode ter estagnado temporariamente ou observaram o risco de que isso possa acontecer.”

Agora, a expectativa majoritária é que o Fed mantenha os juros inalterados na reunião do final deste mês, com apenas 7% das apostas da ferramenta CME Fed Watch prevendo um novo corte de 0,25 ponto.

Para calibrar as projeções, o mercado tem estado atento aos dados macroeconômicos dos EUA. Na sexta-feira, será divulgado o relatório de emprego para dezembro.

Indicadores recentes têm apontado para a resiliência da economia, com um mercado de trabalho saudável e uma inflação ainda acima da meta de 2% do Fed.

“Existe preocupação em relação ao mercado de trabalho, que segue aquecido, com a inflação, que retornou, mas desacelerou a queda, e também sobre as políticas do governo Trump em relação às tarifas”, disse Marcos Weigt, head de Tesouraria do Travelex Bank.

Tudo isso “sugere que o Fed não vai ter muito espaço para novos cortes de juros”, avalia Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Já na ponta doméstica, o foco segue sendo a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O pacote de contenção de gastos proposto pela ala econômica do governo foi aprovado pelo Congresso no último dia útil de plenário, 20 de dezembro. As medidas, porém, foram desidratadas, e, segundo cálculos iniciais, a previsão é que até R$ 20 bilhões da conta original, de R$ 70 bilhões, deixem de ser poupados nos próximos dois anos.

O mercado já cobra por mais ajustes fiscais, e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que há espaço para outras contenções.

Em entrevista na terça, o chefe da Fazenda disse que o déficit primário ficará em 0,1% do PIB em 2024. O dado oficial do resultado primário do ano ainda não foi divulgado.

Se confirmado, o governo terá cumprido a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB para mais ou para menos.

“Depois de dez anos de desajuste, estamos fazendo um ajuste estrutural”, disse.

“Se o plano traçado pelo Ministério da Fazenda for a termo, chegar ao final do jeito que nós planejamos, nós vamos chegar com economia muito mais arrumada, mas muito mais arrumada, do que nós herdamos.”

Já na ponta corporativa, as ações da companhia aérea Azul eram destaque positivo, em meio a notícias sobre uma possível fusão com a rival Gol.

Os papéis subiam 4,27%, reduzindo o ímpeto depois de terem avançado mais de 7% no início da sessão.

Segundo reportagem do Valor Econômico, a companhia aérea deve assinar com a Abra, controladora da Gol, um memorando de entendimento nas próximas semanas para discutir uma eventual fusão dos negócios.

Gol, em recuperação judicial e fora do Ibovespa, disparava 12,90%.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.