Ex-prefeita relata atuação de deputado em desvio de emendas no CE

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São Paulo, 08 – Pivô da investigação sobre suspeita de desvio de emendas parlamentares envolvendo o deputado Júnior Mano (PSB-CE), a ex-prefeita de Canindé (CE) Rozário Ximenes (Republicanos) entregou ao Ministério Público estadual, em 26 de setembro de 2024, uma lista de empresários e CNPJs que, segundo ela, vinham sendo usados para desviar recursos públicos em pelo menos 51 municípios do Ceará.

Ao fim do depoimento, Rozário assinou a denúncia, que poderia ter sido apresentada anonimamente. No mesmo dia, teve início a investigação que, meses depois, colocaria Júnior Mano na mira da Polícia Federal. “Fui com a cara e a coragem, não conversei com ninguém antes”, afirmou ela em entrevista ao Estadão.

Rozário relatou ao Ministério Público que Júnior Mano atuava em “conluio” com o prefeito eleito de Choró (CE), Carlos Alberto Queiroz Pereira, o Bebeto do Choró (PSB), para, de acordo com ela, “desviar e lavar” o dinheiro de emendas.

Procurado, Júnior Mano disse que está à disposição das autoridades e confia que “sua inocência será plenamente reconhecida”. A defesa de Bebeto declarou que não comentaria o caso, que tramita em sigilo, mas afirmou que ele é inocente.

‘Fazia tudo’

Bebeto seria uma espécie de operador do esquema sob investigação, conforme a ex-prefeita. Ficaria encarregado de abordar gestores públicos e oferecer emendas parlamentares em troca de “comissão”. Ele foi impedido de tomar posse na prefeitura de Choró e está foragido por suspeita de compra de votos. “O Bebeto sempre entrou nas prefeituras a mando do Júnior Mano, ele é a pessoa do Júnior Mano, a pessoa que fazia tudo para ele”, disse Rozário ao Estadão.

Para a PF, a relação entre Júnior Mano e Bebeto, “marcada por uma combinação de subordinação, cooperação e articulação político-financeira, estruturou um sistema de corrupção baseado no direcionamento de emendas parlamentares, uso de caixa 2 e manipulação eleitoral estratégica”.

Para o esquema funcionar, ainda de acordo com Rozário, Bebeto recorreria a empresas registradas em nome de “laranjas” (mais informações nesta página). O grupo combinaria preços para vencer licitações das prefeituras. “Não tenho medo, eu vou até o fim. Vai cair muita gente”, disse Rozário.

Água

Em outubro do ano passado, quando a Operação Camisa 7 foi aberta, Bebeto protagonizou uma situação “furtiva”, segundo a PF Abordado por agentes, na orla de Fortaleza, ele arremessou o celular, por cima de uma cerca, em direção a um espelho d’água de um edifício. A PF descreveu o gesto como “tentativa evidente de ocultar provas”.

A artimanha, no entanto, acabou frustrada. Os investigadores recuperaram o aparelho e as mensagens, com citação a Júnior Mano, fizeram a investigação ser remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito está no gabinete do ministro Gilmar Mendes.

Estadão Conteúdo

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