Trump ameaça anexar Canadá e tomar controle da Groenlândia e do Canal do Panamá


No caso do Canadá, o presidente eleito dos Estados Unidos se aproveita do momento de instabilidade política para repetir que o país vizinho deveria se tornar o 51º estado americano. Trump afirma que não descarta usar a força para tomar Groenlândia e Canal do Panamá
O presidente eleito dos Estados Unidos vem fazendo uma série de ameaças antes mesmo de tomar posse. Donald Trump afirmou que não descarta usar a força para tomar a Groenlândia e o Canal do Panamá.
Quando os Estados Unidos tiveram a ideia de fazer um canal ligando o Oceano Atlântico ao Pacífico, a parte mais estreita do continente fazia parte da Colômbia. Os colombianos não gostaram da ideia. Os Estados Unidos, então, agitaram a população da província do norte e eles pediram independência. Foi por causa do Canal do Panamá que o Panamá foi criado em 1903.
Em troca do apoio à independência panamenha, os Estados Unidos puderam construir, administrar e defender a faixa de terra do canal. E os panamenhos pagavam por isso. Os americanos tinham lá suas próprias escolas, polícia, governo.
Foi por causa do Canal do Panamá que o Panamá foi criado, em 1903
Jornal Nacional/ Reprodução
A situação mudou em 1977, quando o presidente Jimmy Carter, do Partido Democrata, assinou um acordo para devolver o canal aos panamenhos em 1999. Foi o que aconteceu.
Quis a história que bem no momento em que o corpo de Jimmy Carter estava sendo velado em funeral de Estado, Donald Trump retomasse a ideia de controlar o canal. Trump tinha afirmado, dias antes, que a China tomou conta da passagem de navios que corta o continente americano. Deu uma declaração falsa de que soldados chineses operam no canal.
Hoje, uma empresa com sede em Hong Kong administra dois portos nas entradas do canal. Especialistas dizem que a companhia pode, sim, ter acesso a toda informação do vaivém dos navios – a grande maioria americanos. O que pode ser informação valiosa de inteligência.
Trump ameaça anexar Canadá e tomar Groenlândia e Canal do Panamá: o que está por trás disso?
Trump também reclama que os panamenhos estão cobrando mais caro pela passagem de navios americanos. Na verdade, os preços subiram por causa da seca que o Panamá enfrenta. O canal é obra de engenharia espetacular. Comportas que abrem e fecham. A água sobe e levanta um transatlântico. Com as mudanças climáticas, o custo de operação ficou mais alto e está todo mundo pagando mais.
Perguntado se descarta usar o Exército para retomar o canal, Trump disse:
“Talvez. Talvez precisemos fazer alguma coisa”.
O Panamá, na hora em que foi criado, com ajuda dos Estados Unidos, concordou que nunca formaria um Exército.
Trump também não descarta, segundo ele, usar o Exército para tomar para os Estados Unidos outro grande território: a Groenlândia. A ilha no Ártico é quase do mesmo tamanho da Argentina. Embaixo do gelo há ouro, urânio, ferro, diamante, petróleo, gás e minérios raros que servem para fazer baterias recarregáveis. Muito não é explorado por questões políticas.
A Groenlândia faz parte da Dinamarca. A colonização da população Inuit, que já vivia lá, começou no século XVIII. Hoje, é uma região autônoma, mas a Dinamarca ainda responde pela defesa e pelas relações exteriores do território.
A Dinamarca faz parte da Otan, a aliança militar do Atlântico Norte. Os Estados Unidos também. A regra da Otan é: se um território for invadido, todos defendem. Trump disse que poderia comprar o território onde moram 56 mil pessoas.
O filho dele, Donald Trump Jr., viajou para a Groenlândia no mesmo dia em que o pai cogitou força militar para tomar o território. Mas disse que a viagem é apenas por lazer. Foi passar o mesmo frio que agora faz no Canadá.
O primeiro-ministro Justin Trudeau renunciou essa semana para sair de uma geladeira política. Não tinha apoio do Congresso e não conseguia governar. Agora, está no cargo só provisoriamente. E vêm por aí novas eleições.
Trump postou dois mapas nas redes sociais com o Canadá anexado aos Estados Unidos
Jornal Nacional/ Reprodução
Trump se aproveita do momento de instabilidade política, e repetiu na terça-feira (7) que o Canadá deveria se tornar o 51º estado americano; que seria muito melhor para segurança nacional e que os Estados Unidos dão muito dinheiro para os canadenses. Postou dois mapas nas redes sociais com o Canadá anexado aos Estados Unidos; afirmou que usaria força econômica para isso.
Por último, Trump quer mudar o nome de uma outra região: o Golfo do México – que, segundo ele, deveria passar a se chamar Golfo da América. Trump disse que são os americanos que fazem a maior parte do trabalho por lá e quer punir os mexicanos por, segundo ele, deixarem que milhões de pessoas entrem nos Estados Unidos.
Com esses planos, Trump revive ideias que pareciam ter ficado no passado, napoleônicas, como se fosse um imperador capaz de anexar outros territórios em um novo grande império. Não virá sem reações.
Trudeau: ‘Só se o inferno congelar’
Reações às ameaças Donald Trump já começaram, com condenações da comunidade internacional.
O primeiro-ministro canadense rejeitou a ideia de Donald Trump de transformar o Canadá em um estado americano. Justin Trudeau escreveu:
“Só se o inferno congelar que o Canadá vai se tornar parte dos Estados Unidos. Os trabalhadores e as comunidades dos dois países se beneficiam do fato de serem os maiores parceiros comerciais e de segurança um do outro”.
O ministro das Relações Exteriores do Panamá, Javier Martinez-Acha, afirmou que a soberania do canal não é negociável. Disse que isso faz parte da história de luta do país e é uma conquista irreversível.
“Que fique claro, o canal é dos panamenhos e continuará sendo”, disse.
Presidente Claudia Sheinbaum
Reprodução/TV Globo
Sobre o Golfo do México, o governo mexicano declarou que este nome é reconhecido internacionalmente e usado há centenas de anos. A presidente Claudia Sheinbaum apresentou um mapa do século 17 e sugeriu que a América do Norte – incluindo os Estados Unidos – deveria ser chamada de América Mexicana, como mostra o documento.
O primeiro-ministro das finanças da Groenlândia reforçou o que o primeiro-ministro do território já havia dito no passado:
“A ilha não está à venda”.
O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, reconheceu que as crescentes preocupações dos Estados Unidos com a segurança no Ártico são legítimas, diante das atividades da Rússia e da China na região, e que a Groenlândia – um território autônomo da Dinamarca – tem ambições de independência.
“Se elas se materializarem, a Groenlândia se tornará independente, embora dificilmente um estado federal dos Estados Unidos”, afirmou o chanceler.
A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, foi além:
“Somente a Groenlândia pode decidir e determinar o futuro da Groenlândia”, disse ela.
As declarações do presidente eleito dos Estados Unidos repercutiram bem além dos países que podem ser diretamente afetados. O primeiro-ministro da Alemanha expressou surpresa. Olaf Scholz disse que ele e outros parceiros europeus não entenderam o que Donald Trump quis dizer com os comentários.
“O princípio da inviolabilidade das fronteiras se aplica a todos os países, independentemente de estarem a leste ou oeste de nós. Todos os países precisam respeitar isso, independentemente de serem pequenos ou muito poderosos”, Scholz afirmou.
O primeiro-ministro disse ainda que esse é um princípio fundamental do direito internacional e um componente central dos valores ocidentais.
O ministro das Relações Exteriores da França destacou que a Groenlândia é um território da União Europeia. A Dinamarca faz parte do bloco. Jean Noel Barrot afirmou que a União Europeia não vai tolerar que nenhum país, qualquer que seja, ataque as suas fronteiras.
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