Mais de 35 mil servidores estão pelo menos no 2º concurso na administração federal

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LUCAS MARCHESINI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Mais de 35 mil servidores ativos estão pelo menos no seu segundo cargo no governo federal. São casos em que a pessoa passa em um concurso e, após algum tempo, é aprovada em nova seleção. Desse total, 75% é aprovado de novo até quatro anos e meio após o primeiro certame.

Os dados inéditos são da Enap (Escola Nacional de Administração Pública) e se baseiam em informações do sistema de pagamento da administração pública federal.

O estudo da Enap considera a mobilidade na carreira pública federal a partir de 2000. Atualmente, existem na ativa 514,2 mil servidores públicos federais.

O resultado sobre a rotatividade de pessoal contribui para entender quais carreiras são mais atrativas, quais são menos e qual o fluxo interno de servidores na máquina pública.

“Existe o concurseiro profissional e três cenários. Ou a pessoa entra em um cargo com salário altíssimo [e não troca mais], ou fica presa em um cargo não tão bom por comodidade ou continua tentando passar em um melhor”, resumiu o analista administrativo da Coordenação Geral de Ciência de Dados da Enap, César Augusto Galvão.

“É um fenômeno que não depende só de a pessoa estudar, depende também de o governo contratar. Aí entra o foco em fazer isso logo depois do CNU (Concurso Nacional Unificado). Faz muito tempo que não tem concurso grande e teve seleção para vários cargos, inclusive de remuneração bem alta. Vai ser interessante observar se com o CNU vai ter mais servidores trocando de cargo”, continuou.

Para a professora do departamento de gestão de políticas públicas da UnB (Universidade de Brasília) Sheila Tolentino, os cargos com maior rotatividade são aqueles com salários mais baixos e tarefas pouco desafiadoras. Esse é o caso quando, por exemplo, cargos de nível médio são ocupados por pessoas com diploma de ensino superior.

“Outra questão é custo-benefício. A função exige especialidade muito grande e a remuneração é muito baixa? Nesse caso, o investimento não compensa”, ponderou.

“Os cursinhos de concurso fazem muito isso, estimulam a fazer todos os concursos e chamam isso de escada. Passa em concurso com requisito e remuneração menor para depois ir aprovando em outros com salário melhor. Usam a posição como escada”, acrescentou.

“A análise de dados do sistema de pagamento do governo é bastante útil para responder perguntas que até então estavam sem respostas. Essas análises permitem aos gestores públicos tomarem decisões com mais clareza”, explicou o coordenador-geral de Ciência de Dados da Enap, Pedro Masson.

Desde o ano 2000, 2014 foi o período com a maior troca de carreira por servidores a partir de novos concursos, com mais de 2.600 casos. O pico anterior aconteceu em 2006, com 2.500. O ponto mais baixo foi 2003, com 500 trocas.

Um total de 33,1 mil servidores trocaram uma vez de carreira, apontou o levantamento. “É o meu caso inclusive. Eu era da carreira de ensino médio e passei para a de nível superior”, exemplificou Masson.

Os dados do estudo evidenciam que a situação dele não é única. O cargo que mais tem saídas é o de assistente administrativo, que é de nível médio. Foram 4.700 no período analisado. O segundo lugar é agente administrativo, com 1.800 saídas. O terceiro lugar é de professores de ensino básico, técnico e tecnológico, com 1.200 saídas.

Outros 3.200 servidores trocaram duas vezes de carreira. Isso significa que entraram em um concurso, passaram em um melhor e continuaram tentando até serem aprovados uma terceira vez.

O estudo considera apenas o serviço público federal. Se uma pessoa veio de governos estaduais ou municipais, ela não aparece como mudança de cargo. O mesmo acontece se o servidor troca um cargo federal por um em outra esfera.

A troca de cargo acontece 75% das vezes com até quatro anos e meio no cargo, aponta o levantamento.

A mediana é de 2,25 anos enquanto os 25% que passam menos tempo no primeiro cargo ficam aproximadamente menos de um ano na função. O caso máximo é de uma pessoa que passou em novo concurso 23 anos após entrar no primeiro cargo.

A mediana mede o ponto central em uma quantidade de dados. Ela é utilizada para evitar distorções no cálculo de médias.

A análise também avaliou a proporção de mulheres e homens entre os servidores, sendo que 54,4% são homens e 45,6%, mulheres.

A diferença cresce entre os que entraram antes de 2001 no governo federal. Nesse caso, os homens representam 62% do total, enquanto as mulheres são 38%.

“Situações assim sempre têm múltiplas causas. Existe a história do nosso país e movimento de maior inserção da mulher no mercado de trabalho nas décadas mais recentes”, avaliou Galvão.

“É esperado que a população de servidores mais antiga seja predominantemente masculina como era no mercado de trabalho mais antigo. Existia predominância de homens e isso mudou nos anos recentes. O dado faz sentido com vários outros indicadores.”

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