Santos, Itanhaém e Mongaguá têm alta nos atendimentos a casos relacionados à virose

PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A Secretaria Municipal da Saúde de Santos, no litoral paulista, confirmou à Folha que houve aumento no número de atendimentos relacionados às viroses nas 3 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) da cidade -Central, Zona Leste e Zona Noroeste. Segundo a prefeitura, a capacidade atual dos serviços ainda é suficiente para a demanda.

Nestas unidades, em novembro de 2024, foram realizados 2.147 atendimentos e em dezembro, 2.264.

Entre os dias 1º e 6 de janeiro (até às 12h) houve 1.339 casos, ou seja, 59,1% do total do mês passado.

Na Santa Casa de Santos, os atendimentos nos meses de novembro e dezembro foram, respectivamente, 622 e 567. Nos primeiros cinco dias deste ano, o hospital já atendeu 412 pacientes. É uma média de 80 por dia, contra os 20 dos últimos dois meses, o que caracteriza alta de cerca de 300%.

Outros municípios da Baixada Santista também registraram alta. Em Itanhaém, a Secretaria de Saúde registrou uma média de 229 atendimentos diários de casos relacionados à virose entre 1° e 5 de janeiro de 2025 -1.145, sendo 793 na UPA do Sabaúna e 352 na UPA Infantil do Centro. O número é 69% maior do que a demanda do mês inteiro anterior (790) nas unidades.

De 23 de dezembro a 4 de janeiro, os serviços de urgência e emergência de Mongaguá realizaram 12.270 atendimentos. Destes, 1.783 (14,5%) são relacionados à virose.

Segundo a prefeitura de Mongaguá, o aumento dos casos começou no dia 30 de dezembro e desde sábado (4) apresenta queda. O município acredita que o alto fluxo de turistas tenha sido responsável pelo crescimento das ocorrências da doença.

Desde segunda-feira (6), a reportagem questiona a prefeitura de Guarujá sobre a situação local, mas até o momento não obteve resposta. Na semana passada, a Secretaria Municipal da Saúde precisou aumentar a infraestrutura nas UPAs Enseada e Rodoviária para dar conta da demanda. Outras três unidades tiveram o horário de funcionamento estendido.

As farmácias enfrentaram falta de medicamentos para controle de náuseas e vômitos, e equilíbrio da flora intestinal. A situação fez o Procon-SP enviar um pedido formal às associações que representam empresas varejistas de alimentos, bebidas e medicamentos -como mercados, farmácias e distribuidores- para que orientem suas associadas a acelerar a reposição de produtos e reforçar os estoques em suas unidades no litoral paulista.

Já Praia Grande afirmou que houve um aumento nos casos relacionados à virose, mas negou o surto em notas enviadas ao jornal nos últimos dois dias. A reportagem solicitou o número de atendimentos na cidade, mas não obteve resposta. “De acordo com protocolo do Ministério da Saúde, não é necessário produzir a notificação desta doença, somente em caso de surtos, o que não condiz com o cenário atual do município”, diz uma das notas.

Em entrevista à Folha, Alessandra Lucchesi, diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, afirmou que a situação de Praia Grande e Guarujá preocupa.

“São dois municípios que nos reportaram a ocorrência de surtos. Isso significa dizer que conseguiram detectar dentro do aumento do número de casos alguns adensados passíveis de investigação. Então, por mais que a gente monitore semanalmente as doenças diarreicas, frente a ocorrência de surtos, é disparado um processo de investigação mais detalhado. Tanto o Guarujá quanto a Praia Grande conseguiram identificar famílias inteiras doentes ou até mesmo pessoas que dividiram a mesma estadia e que compartilharam os mesmos sinais e sintomas”, diz Lucchesi.

“No Guarujá, onde estamos verificando um número exacerbado de pessoas com os mesmos sinais e sintomas e, basicamente, com uma história clínica parecida, adotamos outros procedimentos de investigação. Nesse momento, estamos investigando o município como um todo e não mais essas notificações que foram feitas desses grupos em isolado.”

Entre os sinais relacionados a gastroenterocolite estão os de desidratação -náuseas, dor de cabeça, vômito, diarreia e febre (em alguns casos). “Quando a pessoa não consegue realizar uma hidratação favorável, podem aparecer sintomas neurológicos. Se a diarreia ou o vômito durar mais de três dias, procure um médico”, alerta.

A doença costuma ser benigna, mas os extremos de idade, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos devem ter atenção.

A jovem Amanda Caroline Resende de Oliveira, 29, morreu no sábado (4), em Cristais Paulista, no interior paulista, após um quadro forte de virose. Ela esteve no Guarujá poucos dias antes do óbito. Uma moradora de Taquarituba (a 328 km de São Paulo), de 20 anos, foi internada na UTI de um hospital do Guarujá após sintomas de virose.

Segundo Alessandra Lucchesi, não é possível relacionar as duas ocorrências com o surto. “No caso do óbito, ainda é necessário que a gente consiga ter acesso às informações de doenças preexistentes, o quadro clínico apresentado e o histórico médico para que possamos averiguar a causa”, explica. A reportagem não conseguiu apurar se as moças pertencem a grupo de risco.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo promoveu, na segunda (6), uma reunião com os secretários municipais de saúde e representantes das vigilâncias epidemiológicas dos nove municípios da Baixada Santista. O encontro serviu para abordar medidas a serem adotadas nos casos de gastroenterocolite aguda que ocorrem na região.

O grupo técnico da pasta reforçou sobre a importância dos protocolos de coleta de amostras humanas e de água para a análise dos casos.

Alessandra Lucchesi disse que as amostras de água e humanas chegaram ao Instituto Adolfo Lutz Central, na capital paulista, nesta terça (7). “Elas serão processadas para vírus, bactérias e parasitas. É muito provável que se tivermos algum resultado voltado à virologia ou à parasitologia, ele sai em até cinco dias.

Se tivermos a necessidade de aguardar o resultado da bacteriologia, pode durar alguns dias a mais, em torno de dez a 15 dias.”

ORIENTAÇÕES PARA EVITAR CONTAMINAÇÃO

Não entre na água da praia se ela estiver classificada como imprópria pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e evite banhos de mar 24 horas após as chuvas;
Evite alimentos mal cozidos;
Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde eles ficam acondicionados;
Leve seus próprios lanches em passeios, corretamente armazenados;
Observe bem a higiene de lanchonetes e quiosques;
Cuidado com gelos, raspadinhas e sorvetes de origem desconhecida;
A transmissão da doença é oral-fecal e não respiratória. Lave as mãos com água e sabão antes das refeições, de preparar alimentos e após uso do banheiro;
Beba sempre água mineral filtrada;
Em caso de diarreia, intensifique a hidratação e se necessário, busque atendimento médico.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.