Enfrentamento a queimadas precisa de uma operação aos moldes do garimpo ilegal

O Brasil não aprendeu nada com o grande incêndio que ocorreu em Roraima no fim de 1997 e início de 1998 (Foto: Divulgação)

Mais uma vez, a própria natureza se encarregou de controlar os focos de queimadas que vinham sendo observados nos últimos dias na região Norte de Roraima, graças às chuvas que caíram nesses primeiros dias de 2025. Infelizmente, essa não é a mesma realidade de outras regiões na Amazônia e em outros estados, onde o fogo vem devastando o meio ambiente.

Os fatos mostram que queimadas e desmatamento no Brasil só serão efetivamente combatidos quando houver uma operação aos moldes do que ocorre na Terra Indígena Yanomami no combate ao garimpo ilegal, em que foi criada uma Casa de Governo baseada em Boa Vista para coordenar as ações de retirada dos invasores, destruição de equipamentos e veículos que serviam à logística criminosa, monitoramento, além da assistência às comunidades indígenas.

Conforme anúncio feito pelo Governo Federal no último dia de 2024, foram realizadas durante o ano passado mais de 3,8 mil operações de combate a invasores e proteção na Terra Yanomami, a qual se estende também pelo Estado do Amazonas. Foram apreendidos 33Kg de ouro, totalizando cerca de R$3 milhões, além de 226Kg de  mercúrio, avaliados em mais de R$ 500 mil.

Porém, em relação a queimadas e desmatamento, a situação é bem diferente. Os dados mostram que, se não houver uma concentração de esforços, o Brasil jamais irá conseguir alcançar o enfretamento aos crimes ambientais que se intensificaram nos últimos anos, entre eles o garimpo ilegal. Para se ter uma ideia, 75% dos inquéritos por queimadas e desmatamentos na Polícia Federal não indiciam ninguém (Fonte: Folhapress), apesar de a tecnologia atual permitir uso de imagens de satélites e de drones.

A própria PF reconhece suas limitações, diante de suas atuações em várias frentes de combate a crimes, incluindo garimpo ilegal e corrupção na política. As autoridades sabem da necessidade de investir mais em capacitação dos policiais, aquisição de novas tecnologias e a instituição de um programa de cooperação com outros órgãos (federais, estaduais e municipais), além de troca de experiência com países que têm know-how em ações de prevenção e combate a incêndios e outros crimes ambientais.

O ápice da impunidade e de falta de vontade política brasileira para lidar com esses tipos de crimes foi o caso que ocorreu no Pará, em 2019, quando foram registrados 1,5 mil focos de incêndio em um único dia, episódio que ficou conhecido como “Dia do Fogo”. Informações divulgadas inclusive pela imprensa paraense apontaram que tudo foi articulado por fazendeiros em grupos de mensagens instantâneas, mas nem por isso houve alguém punido.

A verdade é que regredimos no que diz respeito a dispor de estrutura para combater queimadas e incêndios, uma vez que o país se mobilizou para combater o mega incêndio que ocorreu no período de seca no final de 1997 e início de 1998. Além de cooperação com outros países para combater o fogo, foi o montada uma moderna sala de monitoramento e controle de ações de combate. E tudo isso se perdeu ao longo dos anos e dos governos que se seguiram.

Nem o trágico episódio serviu de exemplo não só para Roraima, mas para o país, uma vez que o grande incêndio foi notícia mundial. Estudos e alertas não faltaram, pois, ainda em 1998, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) reuniu equipes com cientistas de diferentes universidades e centros de pesquisa para fazer uma avaliação dos impactos do fogo. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais apresentou um estudo baseado em imagens de satélite. Além de especialistas de várias instituições, como o Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e até a Universidade de Michigan (EUA).

Ou seja, não é por falta de conhecimento nem de exemplos de grande tragédia. Trata-se de vontade política em todos os níveis de governo. O Estado de Roraima pode testemunhar tudo isso, E a realidade que se viu no fim de 2023 e início de 2024, quando o fogo novamente provocou tragédias ambientais, mostrou que as autoridades não ligam para isso.

*Colunista

  [email protected]

O post Enfrentamento a queimadas precisa de uma operação aos moldes do garimpo ilegal apareceu primeiro em Folh BV.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.