Dólar despenca e fecha a R$ 6,11 apesar de dados pessimistas sobre inflação e juros; Bolsa dispara

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar fechou com queda de 1,11%, cotado a R$ 6,113, nesta segunda-feira (6), apesar de mais juros e inflação previstos no boletim Focus divulgado nesta manhã. É o menor valor desde 20 de dezembro do ano passado, quando fechou a R$ 6,071.

Investidores repercutiram reportagem do The Washington Post que indicou um aceno a tarifas mais moderadas por parte do governo Trump, que começa em 20 de janeiro.

Já a Bolsa disparava 1,10%, a 119.841 pontos, às 17h41.

No boletim Focus, divulgado nesta segunda, os economistas subiram as previsões para a taxa de juros, o dólar, a inflação e o PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.

Os analistas elevaram a Selic para 15% em 2025. Na semana passada, a previsão estava em 14,75%. Já nos dois próximos anos, a perspectiva foi mantida em 12% (2026) e 10% (2027).

Já o dólar deve fechar em R$ 6 neste ano, de acordo com o mercado. É a primeira vez que a moeda alcança este patamar no boletim Focus. A cotação estava em R$ 5,96 na última semana.

A inflação também subiu, indo de 4,96% para 4,99%. A perspectiva do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ainda foi elevada em 2026 (de 4,01% para 4,03%) e 2027 (de 3,83% para 3,9%).

Por fim, o PIB foi outro indicador que teve alta, sendo elevada de 2,01% para 2,02%. Já a expectativa para os dois anos seguintes permaneceu em 1,8% (2026) e 2% (2027).

Mas o destaque da sessão, também visto como catalisador da alta das Bolsas globais e queda do dólar, é uma reportagem do jornal The Washington Post desta segunda que aponta que assessores de Trump estão explorando planos para implementar tarifas para todos os países do mundo, mas apenas sobre importações de produtos críticos para a segurança econômica e nacional do país. Trump retorna à Casa Branca em 20 de janeiro.

A reportagem sugeriu planos tarifários a serem implementados pelo novo governo mais moderados do que os esperados anteriormente. Trump havia prometido no ano passado impor tarifas sobre todas as importações de parceiros comerciais importantes, como China, México e Canadá.

Segundo Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, a possibilidade de uma postura menos protecionista por parte de Donald Trump em relação às tarifas de importação estimulou os mercados internacionais.

“Esse fator impulsionou a busca por ativos mais arriscados em países emergentes, como o Brasil, contribuindo para a valorização do real”, afirmou.

Outro ponto que contribuiu para a queda, segundo Viotto, foi a interrupção das férias do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“A medida foi bem recebida pelo mercado, pois sinaliza uma preocupação em estar presente e atuando no dia a dia do governo, principalmente em um momento de incertezas. Essa atitude sugere o comprometimento com uma política fiscal austera e resiliente, o que ajudou a acalmar os investidores”, disse.

O índice do dólar -que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas- caía 0,88%, a 108,000, afastando-se de uma máxima de mais de dois anos atingida na semana passada.

Investidores também estão realizando ajustes após a alta volatilidade da semana passada, quando a baixa liquidez nos mercados permitiu que a divisa dos EUA acumulasse fortes ganhos em todo o mundo.

As atenções se voltarão nesta semana para uma série de dados de emprego nos EUA, com destaque para o relatório de criação de postos de trabalho fora do setor agrícola em dezembro, a ser divulgado na sexta-feira (10).

Agentes financeiros buscam novos sinais sobre a trajetória da taxa de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que indicou no mês passado que deve desacelerar o ritmo de cortes na taxa de juros nos próximos meses, após entregar 100 pontos-base acumulados de reduções em 2024.

As apostas de operadores colocam 90% de chance de os membros do banco central dos EUA manterem os juros inalterados na reunião deste mês.

Na sexta-feira (3), o dólar fechou em alta de 0,31%, a R$ 6,182, e a Bolsa teve forte queda de 1,32%, aos 118.532 pontos.

No último dia da semana passada, a economia chinesa voltou a inspirar preocupação entre os agentes financeiros. A maior importadora de commodities do mundo tem enfrentado dificuldades nos últimos anos devido a crises imobiliárias, alta dívida do governo e demanda fraca de consumo.

As exportações, um dos poucos pontos positivos, podem ainda ser afetadas por uma guerra comercial com os EUA no novo governo de Donald Trump, que toma posse em 20 de janeiro e prometeu, ainda candidato, aumentar tarifas em 20% para produtos chineses.

O governo da China tem se movimentado para tirar a economia da estagnação com medidas de estímulo fiscal. Conforme anunciado nesta sexta-feira, o país aumentará o financiamento de títulos do tesouro ultralongos em 2025 para estimular o investimento empresarial e o consumo interno.

Os títulos especiais do tesouro serão usados para financiar atualizações de equipamentos em larga escala e trocas de bens de consumo, disse Yuan Da, secretário-geral adjunto da NDRC (Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma), em entrevista coletiva.

De acordo com o programa lançado no ano passado, os consumidores podem trocar carros ou eletrodomésticos antigos e comprar novos com desconto, e um programa separado subsidia atualizações de equipamentos em larga escala para empresas.

As famílias também terão direito a subsídios para comprar três tipos de produtos digitais este ano, incluindo telefones celulares, tablets, relógios e pulseiras inteligentes, disse Yuan.

Mas, se por um lado há expectativa de que as medidas de estímulo do governo impulsionem a economia, por outro há temores de que algumas ações, como cortes nas taxas de juros, possam desvalorizar o iuan, o que também seria um fator de pressão para moedas emergentes.

Por ser a maior consumidora de commodities do mundo, o desempenho da moeda e da economia chinesas afeta a atividade de países de forte pauta exportadora, como o Brasil.

A economia dos Estados Unidos também esteve no radar dos investidores, especialmente os possíveis impactos do novo governo Trump na política monetária do Fed.

A economia dos EUA é considerada a mais segura do mundo e, em tempos de juros altos, é comum que investimentos saiam de outros países e sejam dirigidos para lá. Isso fortalece o dólar e enfraquece mercados de maior risco, como os emergentes e os de renda variável.

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