Polarização entre Raquel Lyra e João Campos em PE tem cobiça por PT e bolsonarismo isolado

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JOSÉ MATHEUS SANTOS
RECIFE, PE (FOLHAPRESS)

A polarização em Pernambuco entre a governadora Raquel Lyra (PSDB) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), é marcada pela indefinição de alianças partidárias e políticas visando às eleições de 2026.

Enquanto a governadora vai tentar a reeleição, o prefeito do Recife é cotado para ser o nome da oposição na disputa pelo governo estadual. Aliados avaliam que, se a eleição fosse hoje, não teriam dúvidas da candidatura, mas dizem que João Campos ainda tem mais de um ano pela frente e que, nesse período, o cenário pode mudar.

Um indício de que o prefeito pretende disputar a eleição estadual foi o fato de escolher o ex-chefe de gabinete e amigo pessoal Victor Marques (PC do B) como vice na sua chapa nas eleições de 2024. O vice-prefeito eleito poderá assumir a prefeitura em caso de renúncia de João Campos em abril de 2026 para ser candidato ao governo.

Na esfera estadual, Raquel Lyra tem como prioridade para 2025 a entrega de obras e a tentativa de fortalecer o governo politicamente. A avaliação interna é que é preciso deslanchar neste ano, inclusive com ações concretas na região metropolitana do Recife, para se sobrepor à alta popularidade de João Campos.

A gestão Raquel Lyra também aposta que o prefeito terá uma oposição mais contundente na Câmara Municipal, podendo gerar questionamentos sobre a qualidade da gestão municipal, mesmo após uma reeleição dele com 78% dos votos válidos.

No Palácio do Campo das Princesas, a leitura é a de que João Campos teve méritos para alcançar um resultado expressivo, mas que a oposição praticamente se omitiu do papel de fiscalizar a prefeitura.

No plano estadual, a expectativa é que a governadora faça alterações no primeiro escalão da gestão, inclusive com indicações políticas de partidos que poderão ser atraídos para o arco de alianças mirando a próxima eleição, como MDB e União Brasil.

Os dois partidos estão divididos, com alas pró-João Campos e outras pró-Raquel. O MDB quer, seja com um ou outro, a garantia da candidatura à reeleição do senador Fernando Dueire, que assumiu o cargo em 2023 após a renúncia de Jarbas Vasconcelos. O União Brasil tem o grupo do deputado federal Mendonça Filho a favor de Raquel e a ala do ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho aliada ao prefeito.

Partidos que são dados como certo no palanque da governadora são o próprio PSDB, ao qual é filiada, o PP e o PSD, ao qual Raquel deve se filiar em 2025. A vice-governadora Priscila Krause (Cidadania) deve ser candidata à reeleição ou ao Senado.

A expectativa é que a travessia para a sigla de Gilberto Kassab, secretário de Governo de São Paulo, seja articulada com o próprio PSDB, para manter os tucanos na base da governadora. A governadora deve prometer ao PSDB ajuda para eleger deputados federais pela sigla no estado. A ideia planejada pelo governo é atuar pelas duas legendas, como foi na eleição municipal.

Na oposição, João Campos deve conciliar a gestão do Recife com a presidência nacional do PSB. Ele assumirá o comando do partido em maio. A função será uma vitrine para ampliar a sua imagem em âmbito nacional e estadual e tem como objetivo também fortalecer o partido com a atração de novos filiados.

João Campos tem um quebra-cabeça na montagem de uma eventual chapa para a disputa de 2026. Três nomes disputam uma vaga para o Senado em seu grupo político, mas só duas cadeiras para senador estarão em jogo. Isso porque Humberto Costa (PT) é tido como candidato natural à reeleição e é a prioridade do PT no estado.

“O partido está dando prioridade à eleição do Senado. O presidente Lula disse a mim que, para ele e para um eventual quarto governo, é muito mais importante uma boa bancada de senadores do que muitos governadores”, afirma Humberto Costa, ao descartar candidatura própria do PT para o governo estadual.

Três nomes podem fazer companhia ao petista na chapa: Silvio Costa Filho (ministro de Portos e Aeroportos, do Republicanos), Marília Arraes (ex-deputada federal, do Solidariedade) e Miguel Coelho, do União Brasil.

Uma das prioridades de Lula é eleger senadores do PT ou aliados nos nove estados do Nordeste, para se contrapor ao bolsonarismo, que tem como prioridade a eleição do Senado. Nesse cenário, Miguel Coelho, cujo pai, o ex-senador Fernando Bezerra Coelho, foi líder do governo Jair Bolsonaro, não é um nome de confiança dos petistas.

O prefeito também trabalha com a possibilidade de atrair Miguel ou Silvio para a vice numa possível chapa, prometendo protagonismo em um eventual governo com uma secretaria robusta entregue ao vice.

O governo assiste à disputa e não descarta uma mudança de lado de Miguel Coelho ou do próprio PT, oferecendo as vagas para o Senado. Os deputados da legenda costumam votar a favor de Raquel na Assembleia Legislativa.

Os governistas também cogitam oferecer cargos a quadros petistas no governo, para enfraquecer os aliados de João Campos dentro da sigla. Mesmo assim, o entorno de Raquel sabe que é difícil uma aliança com o PT em 2026, já que o PSB apoiará Lula nacionalmente.

Aliados próximos acreditam que João Campos será candidato a governador, mas frisam que o fator que poderá fazê-lo não se lançar é se Raquel Lyra deslanchar ao longo de 2025 e avançar na sua popularidade. Publicamente, o PSB não admite a candidatura de João Campos.

“É muito difícil prever com um ano e meio antes, mas está posto que o PSB é o principal partido de oposição em Pernambuco e que tem uma liderança jovem e nacional como João Campos. Mas não existe hoje essa discussão de quem vai ser candidato”, diz o deputado federal Pedro Campos (PSB), irmão do prefeito.

Como terceira via, o PL deverá lançar chapa própria para fazer palanque para o candidato bolsonarista à Presidência. O partido terá como desafio buscar a unidade interna, já que os grupos do ex-ministro do Turismo Gilson Machado e do ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira estão rompidos. Após uma proximidade inicial, a sigla se afastou de Raquel Lyra em 2024.

Raio-X | Pernambuco

  • População estimada (2024): 9.539.029
  • Eleitores (2024): 7.152.871
  • Área territorial: 98,1 mil km²
  • PIB per Capita (2021): R$ 27.139
  • Orçamento estadual (2024): R$ 48,8 bilhões
  • Orçamento estadual para investimentos (2024): R$ 2,9 bilhões

Governadora
Raquel Lyra (PSDB)

Senadores

  • Teresa Leitão (PT) – 2023-2031
  • Humberto Costa (PT) – 2019-2027
  • Fernando Dueire (MDB) – 2019-2027
  • Número de prefeituras por partidos eleitos em 2024

PSDB: 32
PSB: 31
PP: 24
Republicanos: 22
PSD: 20

Votação por partido para prefeito em 2024 (1º turno)

  • PSB: 1.089.446
  • PSDB: 452.187
  • PSD: 293.352
  • Republicanos: 266.539
  • União Brasil: 251.095
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