Mesmo com proibição por lei, banhistas resistem e levam animais às praias em Florianópolis

Desde 2001, a presença de animais nas praias de Florianópolis é proibida pela Lei Municipal nº 094/01. No artigo 8º, a norma estabelece que “é expressamente proibida a presença de cães, gatos ou outros animais em praias a qualquer título”. Apesar disso, a prática tem se tornado comum, especialmente durante a temporada de verão, levantando debates sobre convivência nas praias, saúde pública e segurança.

Lei que proíbe animais nas praias em Florianópolis é descumprida

Mesmo com proibição por lei, presença de animais nas praias segue firme em Florianópolis  – Foto: Diogo de Souza/ND

As denúncias têm aumentado, principalmente a partir do mês de dezembro. O projeto Fiscaliza Verão, do Grupo ND, recebe relatos diariamente de banhistas denunciando a presença de cães nas praias, que circulam livremente na areia e entram no mar.

Na praia dos Ingleses, no norte da Ilha, a reportagem encontrou a Lua, uma cadela levada por um grupo de amigos do Rio Grande do Sul. O metalúrgico Gregory Carvalho, 31, admitiu ter visto a sinalização da proibição, mas se justificou. “Se estamos nos responsabilizando por ela, não vejo problema”, comenta.

Pamela Zulanello, 25, e Ketelyn Careato, 25, ainda afirmam que sempre estão de olho na Lua. “Ela é vacinada, bem cuidada e fica sempre próxima de nós. Na nossa visão, o problema são os tutores que não monitoram e cuidam dos seus cães, deixando eles soltos”, destaca Ketelyn.

Lua, uma cadela levada por um grupo de amigos do Rio Grande do Sul – Foto: Germano Rorato/ND

O outro lado da discussão é representado por banhistas como a professora Ana Carolina Santos, 28, que aproveitava o dia de sol com o filho Nicolas, de 6 anos. Ela se mostrou preocupada com os riscos da presença de animais nas praias.

“Não sou contra, mas me preocupo com quem não cuida. Mais cedo, vi dois cachorros pequenos de outros banhistas latindo e avançando em quem passava. O meu filho gosta de brincar na areia, e, se, por exemplo, o cachorro fizer necessidades, isso pode causar doenças nas crianças”, alerta Ana Carolina.

Ana Carolina se preocupa com os riscos da presença de animais na praia – Foto: Germano Rorato/ND

Enquanto a equipe de reportagem estava no local, também observou um cachorro de rua circulando próximo aos banhistas, evidenciando as dificuldades da fiscalização em controlar não apenas animais levados por tutores, mas também cães abandonados.

Riscos à saúde e à segurança

A legislação que proíbe animais nas praias está fundamentada em questões de saúde pública. Fezes e urina de cães e gatos podem conter micro-organismos nocivos, como parasitas e bactérias, que podem ser transmitidos a seres humanos, como explica a médica veterinária Daniele Ody Spaniol.

“São zoonoses, doenças que passam tanto dos animais para o ser humano, quanto do ser humano para o animal. Doenças de pele, que são as sarnas, e o bicho geográfico, que é através dos coliformes fecais”, detalha a especialista.

O perigo também pode estar no contato com fezes do cachorro ou com areia contaminada, causando doenças como giardíase, toxoplasmose e salmonelose. A professora de medicina veterinária da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Marcy Lancia Pereira, menciona o motivo de cachorros serem proibidos em praias, mas não em outros lugares públicos. “Na praia, ao contrário de outros locais, as pessoas geralmente estão descalças”, diz Marcy.

Campanhas de sensibilização e autuaões

Questionada sobre as ações para garantir o cumprimento da lei, a Prefeitura de Florianópolis não detalhou como as fiscalizações são realizadas. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (Vigilância em Saúde), junto com a Secretaria de Segurança e Ordem Pública e a Secretaria do Meio Ambiente, limitou-se a informar que “os autuados serão orientados a retirar os animais do local”.

A Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente) afirmou que faz campanhas de conscientização junto aos frequentadores das praias, mantendo “estratégias de sensibilização dos visitantes e frequentadores das unidades de conservação, inclusive por meio do trabalho desempenhado por técnicos em oportunidade de diálogo com visitantes”.

A prefeitura ainda reforça que os cidadãos podem utilizar o Zapdenúncia, pelo WhatsApp (0800 808 0155) para reportar os casos de pessoas com animais de estimação na praia.

Conscientização e colaboração

A polêmica sobre a presença de animais nas praias revela um dilema que envolve saúde pública, bem-estar animal e o direito ao lazer. A Prefeitura de Florianópolis reforça que a colaboração dos tutores é essencial para o cumprimento da legislação. “A proibição de cães domesticados na praia segue legislação específica e requer ampla colaboração dos tutores”, ressalta a nota.

Enquanto isso, moradores e turistas continuam divididos sobre o tema. A fiscalização permanece como um ponto crítico, com muitos banhistas defendendo maior rigor para coibir os descumprimentos. Ao mesmo tempo, parte da população questiona se a regulamentação não poderia ser flexibilizada, com a criação de espaços específicos para o lazer de pets, como ocorre em outras cidades do país. Em vídeo publicado no fim de novembro, o prefeito Topazio Neto mencionou a possibilidade de criar um espaço para os animais nas praias, mas ainda não existem informações além sobre como funcionaria o espaço ou quais praias seriam incluídas.

 

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por Topazio Neto (@topaziofloripa)

Adicionar aos favoritos o Link permanente.