‘Privatizar vai custar caro’: Leilão do Carnaval gera incertezas em blocos de Florianópolis

A concessão de espaços públicos à iniciativa privada para realização do Carnaval de Rua de Florianópolis pegou blocos carnavalescos de surpresa neste início de 2025. A medida foi anunciada, pela administração municipal, junto com a abertura do edital no dia 31 de dezembro. O leilão do Carnaval está previsto para o dia 22 de janeiro e gera dúvidas entre os organizadores, que ainda não sabem como serão impactados com a medida.

Carnavalescos afirmam que não houve diálogo antes de edital que prevê leilão do Carnaval em 2025

Carnavalescos afirmam que não houve diálogo antes de edital que prevê ‘leilão do Carnaval’ em 2025 – Foto: Leo Munhoz/Divulgação/ND

A reportagem do ND Mais conversou com representantes de três blocos tradicionais do Carnaval florianopolitano e, em comum entre eles, a surpresa entre eles com o anúncio da parceria público-privada.

Todos reconheceram o apoio da prefeitura para realização do Carnaval de rua, mas manifestaram incertezas com os impactos que a concessão, de três anos, poderá ter na festa popular.

“Fomos surpreendidos com esse leilão”, diz carnavalesco

A organização do Berbigão do Boca, festa que faz a abertura do Carnaval da capital catarinense desde 2004, soube da concessão pela imprensa e se surpreendeu com a iniciativa.

“Nós fomos surpreendidos com esse leilão que a prefeitura está fazendo, não temos nenhuma informação de como será isso e no que poderia, eventualmente, repercutir na nossa festa infelizmente”, disse Leonardo Garofallis, diretor financeiro e coordenador-geral do Berbigão do Boca.

Mais de 100 mil pessoas passaram pela área central de Florianópolis para festa do Berbigão do Boca em 2024 – Foto: Léo Munhoz/ND

A festa do grupo é bipartite, ou seja, tem parte da organização realizada com fundos próprios do Berbigão do Boca e outra parte fica sob a responsabilidade da prefeitura de Florianópolis. Neste ano, o evento ocorre no dia 21 de fevereiro e deve reunir cerca de 100 mil pessoas, entre o Largo da Alfândega e o Mercado Público, no centro da capital catarinense.

Expectativa é de que concessão seja ‘algo a mais’

Também na área central, o bloco Pauta que Pariu reúne, há 30 anos, mais de dez mil pessoas na escadaria da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Sem muitos detalhes sobre a prosta de leilão do Carnaval, a organização espera que a iniciativa seja positiva e que contribua para o crescimento da festa popular.

Grupo formado por jornalistas se reúne, anualmente, na escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Florianópolis – Foto: Pauta que Pariu/ Instagram/ND

“A gente fica inseguro em relação ao que pode acontecer, quando se fala em concessão de área pública. A gente ainda não entendeu bem como vai funcionar essa questão, mas a gente espera que a prefeitura continue apoiando o Carnaval de Rua de Florianópolis, que, a cada ano, tem crescido”, afirma Bruno Batista da Cruz, membro da diretoria do bloco.

Segundo o diretor, boa parte da organização do bloco depende do apoio da prefeitura, que disponibiliza banheiros químicos, conserta buracos na escadaria e garante segurança para os foliões.

“Sempre fomos super bem recebidos e sempre tivemos um diálogo bem franco com a prefeitura, então a gente espera, realmente, que isso seja algo a mais para o Carnaval de Florianópolis e que não se retire o apoio dos blocos de rua”, pontua.

‘Impacto fortíssimo’, diz organizadora sobre leilão do Carnaval

Amantes do Carnaval no Norte da Ilha, os membros do bloco Baiacu de Alguém realizam diversos festejos, entre os meses de fevereiro e março, reunindo centenas de foliões a cada evento. Para Daniela Ribeiro Schneider, coordenadora-geral da Associacao Cultural e bloco Baiacu de Alguém, a medida vai impactar frequentadores e outros grupos de Carnaval.

“Privatizar o espaço, que é público, vai custar caro para o bolso dos foliões, vai inviabilizar muitos blocos e espaços históricos do Carnaval de Florianópolis. Como vai ficar o desfile dos blocos do Sujo, que é uma tradição de Florianópolis? Isso tem um impacto fortíssimo sobre o Carnaval, que é livre e democrático”, acredita.

O Baiacu de Alguém se reúne em Santo Antônio de Lisboa e, no Carnaval do ano anterior, recebeu apoio da prefeitura de Florianópolis para montagem da infraestrutura. À época, receberam apoio com a instalação de banheiros quimicos. “Não sabemos como ficará agora com esta situacao do Leilão 410. Ainda que este único apoio seja insuficiente para todas as demandas, é um apoio bem importante”, completa.

Bloco ‘Baiacu de Alguém’ se reúne em Santo Antônio de Lisboa, no Norte da Ilha – Foto: Daniela Ribeiro Schneider/Arquivo Pessoal/ND

O que diz a prefeitura de Florianópolis?

O edital que prevê a concessão de espaços públicos para “organização, produção, execução e promoção do evento intitulado Carnaval de Rua de Floripa” foi publicado no último dia de 2024, pela prefeitura municipal. No documento, não há especificações sobre as obrigações para eventuais interessadas e nem quanto deverá ser investido, apenas a duração do contrato, que será de três anos.

Edital foi publicado no dia 31 de dezembro de 2024 - PMF/Reprodução/ND

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Edital foi publicado no dia 31 de dezembro de 2024 – PMF/Reprodução/ND

Concessão terá validade para as festas de Carnaval em 2025, 2026 e 2027 - PMF/Reprodução/ND

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Concessão terá validade para as festas de Carnaval em 2025, 2026 e 2027 – PMF/Reprodução/ND

Ao colunista Diogo de Souza, o prefeito Topázio Neto (PSD) disse que o leilão do Carnaval é uma tentativa de profissionalização do evento, e que a intenção é “melhor organizar” o Carnaval de Rua da capital catarinense. Conforme apurado pelo colunista, a expectativa do leilão do Carnaval é assegurar a montagem de 11 arenas, em diferentes locais da cidade.

A reportagem do ND Mais entrou em contato com a Prefeitura de Florianópolis para ter mais detalhes sobre a proposta e entender como foi desenvolvida. Segundo a administração, a proposta foi desenvolvida a partir de um diálogo com os agentes envolvidos e que o “objetivo é justamente melhorar o carnaval”. “A administração do Carnaval de Rua continua sendo da prefeitura”, informou ao portal.

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