Vale a pena normalizar R$ 40 por um drink em Brasília?

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Já que normalizaram cobrar R$ 40 em drinks nos bares de Brasília de uns tempos para cá, decidi me aventurar em um tour pelos bares da cidade durante vários dias para entender se está mesmo valendo a pena pagar tudo isso e se as casas estão mostrando que sabem o que estão fazendo, além de só visar o lucro. Afinal, se vamos pagar caro, que seja por bebidas bem preparadas, com conforto e diversão, não é mesmo?

Assim, inicio a nova temporada da coluna, abrindo 2025 com uma lista que, embora difícil e cu$tosa de fazer, rendeu boas e inusitadas experiências, que agora divido com vocês.

Minha primeira parada foi no Âmbar, recém-inaugurado no Setor Bancário Sul. Um charme de lugar, com uma discotecagem deliciosa e atendimento cordial. Adorei a localização “fora da casinha”, com mais uma aposta para movimentar positivamente o centro da cidade.

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Âmbar/ Divulgação

A carta, focada em autorais e assinada por Ana Negra, traz uma variação de preços entre R$ 32 e R$ 45. Comecei com o clássico Negroni, meu favorito (Gin Tanqueray, Vermouth Martini Rosso, Campari e twist de laranja Bahia – R$ 40,00), muito bem executado, o que já me deixou no clima para explorar os exclusivos.

No geral, pelas descrições, percebi uma pegada floral puxada para o doce ou toques mais frescos, o que tem super seu público, mas não é meu estilo favorito. Dentre as opções que pareciam fugir disso, escolhi o Âmbar (drink gaseificado de vodka Smirnoff, xarope de manga e pimenta, bitter de especiarias, suco de limão, espumante brut e slice de manga – R$ 32). Superequilibrado, surpreendeu-me, pois a picância vem bem de leve e nivela o frutado. Depois, parti para o Tropicana (drink gaseificado de Whisky Johnnie Walker Blonde, shrub de abacaxi, água de coco, ácido cítrico e coco caramelizado – R$ 32) e fiquei nele o resto da noite. Trouxe o amadeirado que adoro em drinks com whisky e ainda conseguiu ser leve.

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Âmbar/ Divulgação

Único porém do lugar foi o cardápio, que apostou em receitas muito complexas e deixou coisas simples de fora, como uma batata frita, que teria feito a noite da minha amiga celíaca que estava me acompanhando.

Minha segunda parada foi no Gaijin, que já tinha aparecido por aqui antes e, infelizmente, a experiência não melhorou. Achei os drinks mais caros que os do Âmbar e sem a boa execução, além da demora para sair o pedido e o atendimento sofrível. Então, sigamos.

Cheguei ao 313 Drink Bar e que descoberta, amigos! Sério, uma portinha discreta ao lado de um boteco, no meio da comercial, leva a um jardim acolhedor, com mesas iluminadas e convidativas.

Iniciei os trabalhos com o Fitzgerald (Gin, mix de cítricos, xarope de açúcar e bitter de Angostura – R$ 38,90), meu top 2 de clássicos favoritos. Novamente, abri a noite bem, após a experiência ruim com o mesmo pedido no bar japonês. Aqui, sim, acertaram nas medidas milimetricamente e entregaram um tradicional bem feito.

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313 Drink Bar/ Divulgação

Dos autorais, o Russo me pegou: pisco infusionado na páprica picante e defumada, xarope de agave, mix de cítricos e bitter de laranja (R$ 32,90). Acertou meu paladar em cheio com um defumado bem característico, que casou perfeitamente com o pisco.

Além dele, destaque para o Dom (Gin Tanqueray, Dolin Blanc, Paragon White Penja Pepper, orégano, cordial de camomila e flor de sal – R$ 44,90). Apesar de seco – que eu amo –, ele conseguiu ser leve, sem subir aquele álcool forte ao nariz.

Empolguei e pedi vários clássicos para sentir a afiação do bar, e eles acertaram completamente todos! Penicillin (R$ 44,90) incrível. Boulevardier sem defeitos. Old Fashioned impecável. Estes últimos todos custam R$ 39,90. Impressionante também a agilidade da entrega. E como é bom ter alguém trabalhando com o que conhece. Todos os atendentes sabiam opinar sobre as bebidas. Recomendo e voltarei com certeza.

Outro grande destaque foi o Laboratório, bar de drinks localizado dentro do Bosque Parque, que tem carta assinada pela chef Raquel Amaral. Convidar uma chef de cozinha para criar receitas de bebidas é algo inusitado e uma tacada de mestre do local. Raquel implementou sabores, aromas e temperos de comidas que ela adora, e deu muito certo.

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Laboratório/ Divulgação

Tudo que provei fugiu do óbvio e mostrou que as criações conseguem abarcar diferentes públicos. De drinks mais leves, florais e doces até os mais secos, encorpados e amargos, Amaral conseguiu transpor sua identidade para as bebidas. Uma salva de palmas também para os preços. É quase inacreditável o que ela consegue fazer na questão de composição e cobrar valores que partem de R$ 25. De longe, o local mais em conta da lista.

Entre os que mais me conquistaram estão Clitória Experience (Gin infusionado com a flor Clitoria ternatea que, de azul, passa para rosa em contato com o resto do drink, feito com espumante, limão, Cointreau e redução de vinho e hibisco – R$ 35,50); o Alquimista (baseado no clássico moderno Macunaíma, este foi modificado e leva cachaça Gastrozinha, Cynar, limão e açúcar – R$ 25,00); e o Porto Tônica (Vinho do Porto branco, redução de vinho e hibisco, laranja Bahia e água tônica – R$ 33,50).

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Laboratório/ Divulgação

Muito a favor também das receitas está o fato de que a Amaral faz tudo in loco. Todas as infusões, reduções, conservas e até defumação são preparadas por ela e pela equipe bem treinada, que lhe atende de forma muito simpática e conhece bem o que vai lhe apresentar para beber.

Para fechar, fui não a um bar, mas sim a um restaurante: o Lago, de Marcelo Petrarca. Conhecido como a casa de selo mais elevado do chef, o lugar conta com um balcão ótimo, perfeito para quem não quer jantar e prefere se sentar em frente ao bar, pedir drinks e entradas ou pratos para compartilhar, que servem como petiscos de altíssimo nível.

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Restaurante Lago/ Divulgação

Comparado a alguns lugares nos quais você senta em uma cadeira de boteco desconfortável e paga R$ 45 em uma bebida, a ambiência, o atendimento e a qualidade de preparo dos drinks do Lago me surpreenderam positivamente ao olhar a carta e notar que os preços são praticamente os mesmos.

O Negroni do Lago (Tanqueray London Dry, blend de vermutes, Campari em óleo de coco, limão siciliano – R$ 42) é de arrebatar quem ama o clássico como eu, pois traz aquele amargor de base, mas incrementa com notas mais suaves que vão se abrindo na boca a cada gole.

Falando em clássicos, o Penicillin (Johnnie Walker Black Label, Talisker 10 anos, mel, gengibre, limão-siciliano – R$ 44) e o Whisky Sour (Bulleit Bourbon Whisky, Talisker 10 anos, bitter aromático, semente de coentro, limão-siciliano, clara de ovo pasteurizada – R$ 44) estavam divinos e mostraram que o cuidado em usar os destilados de base da melhor qualidade é um diferencial pesado, e que é sim possível fazer isso cobrando o mesmo que outras casas que não os utilizam.

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Restaurante Lago/ Divulgação

Dos autorais, conheci e me encantei pelo Paloma (Tequila Don Julio Blanco, soda de grapefruit e limão-taiti, sal Maldon defumado – R$ 40) e o incrível O Equilibrista (Singleton of Dufftown single malt whisky, Jerez Palomino Fino, laranja Bahia – R$ 46), um dos pouquíssimos drinks leves e frutados que eu provei e gostei de verdade.

Neste ano, quero investir mais em colunas nessa pegada, tanto para trazer um conteúdo mais completo e autoral neste espaço quanto para me incentivar a desbravar mais a gastronomia local, que, do último ano para cá, tem ganhado muita novidade, boas e ruins. Que 2025 seja leve, gostoso e com a mesa cheia de gente e comida boa. Feliz Ano Novo!

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