Espião chileno de 90 anos inspira nova série com Ted Danson em casa de repouso

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FERNANDA EZABELLA
LOS ANGELES, None (FOLHAPRESS)

Sergio Chamy, um aposentado chileno de 90 anos, teve sua vida virada do avesso ao protagonizar um documentário indicado ao Oscar, “Agente Duplo” (2020, Globoplay), da diretora Maite Alberdi. De repente, estava voando pela primeira vez para fora do país para a festa em Los Angeles, passou a estrelar comerciais de TV e a colecionar fãs no Instagram.

Agora, a fama de Chamy ganhou outro impulso hollywoodiano. Sua história virou um seriado de ficção da Netflix, “Um Espião Infiltrado”, estrelado por Ted Danson.

O personagem de Danson, assim como aconteceu com Chamy, é contratado para ir morar numa casa de repouso e ajudar a resolver um crime. O chileno passou três meses numa instituição chamada San Francisco, em El Monte (Chile), enquanto Danson habita uma casa de repouso mais abastada na cidade de San Francisco, Califórnia.

“Um Espião Infiltrado”, que valeu a Danson sua 14ª indicação ao Globo de Ouro nesta semana, foi criada para a TV por Michael Schur, executivo que tem o dedo em muitas das séries mais populares dos últimos anos. Ele foi roteirista e produtor executivo de “Hacks”, “The Office” e “Brooklyn Nine-Nine”, e showrunner de “Parks and Recreation” e “The Good Place”, esta última também estrelada por Danson e encerrada em 2020.

O documentário chileno foi apresentado a Schur por um colega, e ele logo se apaixonou. “Existe a noção óbvia de que um senhor de 80 e poucos anos virando um espião é algo engraçado”, disse Schur num evento em Los Angeles.

“Mas o documentário também explora conexões humanas, envelhecimento, tristeza, alegrias e o senso de comunidade. São temas bons demais para um seriado.”

Danson, que oscila com maestria entre a comédia e o drama, disse que ficou tocado pelo charme e inocência de Chamy, além de gostar da ideia de embarcar num trabalho adequado para os seus 76 anos.

“Como ator, queria explorar o que significa ser completamente humano nessa idade, e ser engraçado nessa idade, porque isso muda”, disse Danson.

Na série, ele faz um professor de engenharia aposentado e recém-viúvo que, instigado pela filha, decide fazer algo de novo na vida. Ele responde a um anúncio no jornal, se infiltra na casa de repouso e começa a se envolver com a comunidade para descobrir quem roubou um colar valioso de uma das moradoras.

Com as novas relações, o espectador entra num mundo da terceira idade pouco visto nas telas.

Mas enquanto o documentário apresenta moradores mais debilitados, ainda que alguns sejam bem animados, a série traz personagens mais ativos —e que adoram o happy hour das 15h. “Imagino que a vantagem de ir dormir às 20h é que podemos começar a beber às 15h”, diz o personagem de Danson, deslumbrado com a nova rotina.

A série expande o universo do documentário. A filha do espião, vivida por Mary Elizabeth Ellis, tem uma família com três filhos adolescentes e sofre para conseguir se aproximar do pai após a morte da mãe. O investigador que contrata Chamy é agora uma investigadora interpretada por Lilah Richcreek Estrada, e muitos moradores ganham suas histórias paralelas, assim como a gerente da casa, Didi, interpretada po Stephanie Beatriz, a Rose de “Brooklyn Nine-Nine”.

No documentário de Alberdi, que também representou o Chile na categoria filme internacional do Oscar ficou entre os 15 pré-selecionados, Chamy é contratado para investigar se uma das moradoras está sofrendo abusos. Ele é um dos únicos homens na casa de repouso e é logo abraçado pela ala feminina, enamorada com o novo morador, algo repetido no seriado.

“Agente Duplo” tem uma estrutura incomum para documentários, misturando aspectos de filme noir de espionagem com comédia, o que ajuda a digerir as mensagens mais dolorosas sobre a solidão na velhice.

Alberdi foi consultada durante o processo de adaptação do seriado. Ela visitou os roteiristas, o set de filmagens e deu sua opinião nas histórias. “Eles foram muito generosos com a gente”, disse Alberdi numa entrevista à Variety.

“Desde o primeiro encontro, eles foram muito compreensivos com o sentido do filme de uma forma muito profunda”, continuou a diretora chilena. “O objetivo deles era ser respeitosos e trabalhar no mesmo tom, com os mesmos temas do nosso filme.”

A produtora do documentário, Marcela Santibañez, contou à revista que Chamy aprovou a escolha de Danson, um galã da TV americana. “Ele disse: ‘É uma cópia muito boa!’”, falou Santibañez.

Dois anos depois de “Agente Duplo”, Alberdi emplacou sua segunda indicação ao Oscar com o documentário “A Memória Infinita” (2023), sobre a vida de um casal no Chile cujo marido vive com a doença de Alzheimer.

Neste ano, ela tenta o Oscar mais uma vez. Sua nova produção, “No Lugar da Outra” (estreia de outubro da Netflix), foi escolhida para representar o Chile.

O filme é ficção, mas baseado num crime real que chocou o Chile nos anos 1950, após uma escritora famosa matar seu amante a tiros num restaurante e ser levada a julgamento. A história segue uma funcionária do tribunal que investiga o caso e passa a questionar sua própria vida e seu casamento.

UM ESPIÃO INFILTRADO

Classificação: 14 anos
Elenco: Ted Danson, Eugene Cordero, Lori Tan Chinn
Produção: Estados Unidos, 2024
Onde ver: Disponível na Netflix
Criação: Michael Schur

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