Dólar fecha estável e Bolsa tem forte alta, com EUA e contas públicas em foco

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar fechou próximo à estabilidade nesta segunda-feira (28), em alta marginal de 0,03% e cotado a R$ 5,707, com o mercado atento a uma bateria de dados econômicos previstos para os próximos dias e à proximidade das eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Na cena doméstica, o foco se voltou às contas públicas do país, com o mercado à espera dos planos de cortes de gastos do governo federal prometidos para depois das eleições municipais.

Já a Bolsa teve forte alta de 1,01%, aos 131.212 pontos, amparada pela Vale e pelo Itaú Unibanco.

A semana começou com os mercados de olho no calendário dos Estados Unidos: na próxima terça-feira, 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida -assim como a agenda econômica que irá pautar a maior potência global pelos próximos quatro anos.

Apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição aumentaram de forma significativa nos últimos dias na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.

As chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 66%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 34%.

A possibilidade de uma vitória do candidato republicano tem feito o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.

As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo.

Nas curvas de contratos futuros, o Treasury de dez anos, referência global de investimentos, subiu 0,66% -o que favorece o dólar, que se torna mais atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano sobem.

As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que se reúne na semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre os juros americanos.

Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.

A redução de 0,25 ponto percentual agora tem 96,8% de probabilidade na ferramenta Fed Watch, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reúne os 3,2% restantes.

Nesta semana que antecede a decisão de juros, a agenda guarda divulgações macroeconômicas que podem calibrar ainda mais as expectativas para o resultado da reunião.

A quarta-feira reserva dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA do terceiro trimestre, enquanto a quinta-feira terá o índice PCE, indicador favorito de inflação do Fed. Na sexta, serão conhecidos os números de outubro do “payroll” (folha de pagamento, em inglês), relatório sobre o estado do mercado de trabalho americano.

“A semana é bastante cheia. Temos dados importantes aqui e lá fora. Investidores ficam na espera para tomar uma posição mais concreta”, disse Guilherme Suzuki, sócio e responsável pela área de portfólio solutions da Astra Capital.

Da ponta doméstica, o mercado segue atento à cena fiscal. A expectativa é pelo anúncio de corte de gastos públicos, prometido pela ala econômica do governo para logo após as eleições municipais.

À espera de ações concretas para redução de despesas, o mercado tem demonstrado cautela, protegendo-se no dólar e exigindo mais prêmios na renda fixa. “Até que medidas concretas de contingenciamento sejam implementadas, é improvável que o dólar receba suporte definitivo do cenário local”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Os investidores também seguem atentos à trajetória da taxa básica de juros do país, a Selic. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC irá se reunir na semana que vem, também entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre o patamar da taxa.

O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano. Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.

Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.

A meta do Copom é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura atual, o IPCA-15 está bem próximo ao teto da meta, de 4,50%.

No Boletim Focus desta segunda, analistas consultados pelo BC ainda subiram pela quarta semana consecutiva as projeções para o IPCA neste ano, com a expectativa agora ultrapassando a banda máxima da meta, a 4,55%.

O mercado espera um movimento mais agressivo do BC na semana que vem e projeta alta de 0,50 ponto percentual na Selic.

No mercado de commodities, destaque para a queda de 6% do petróleo Brent, referência para os mercados globais, depois que o ataque retaliatório de Israel contra o Irã no fim de semana não atingiu instalações petrolíferas e nucleares e não interrompeu o fornecimento de energia.

Isso afetou moedas de mercados emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, e, na cena corporativa, as ações da Petrobras caíram 0,16%.

Vale subiu 1,86%, na esteira da alta do minério de ferro na China. Itaú, outra peso-pesado do Ibovespa, avançou 1,21%.

Também foi destaque positivo a disparada de 14% das ações da Azul, em resposta ao acordo de financiamento adicional com credores.

Da ponta negativa, Hypera perdeu 8,70%, com as notícias de que a companhia estava buscando otimizar seu capital de giro, seguindo a recusa à proposta de fusão com a EMS.

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